A Nakba
A Nakba, palavra árabe para “catástrofe”, refere-se ao êxodo palestino de 1948, onde cerca de 750.000 palestinos foram expulsos ou forçados a fugir de suas casas e aldeias sob o ataque de milícias sionistas na tentativa de estabelecer um Estado judeu.
David Ben-Gurion, chefe executivo da Organização Sionista Mundial na época e depois primeiro primeiro-ministro de Israel, declarou o estabelecimento do Estado de Israel em 14 de maio de 1948, com o término do mandato britânico sobre a Palestina em 15 de maio. Esta data seria mais tarde celebrada pelos israelenses como o Dia da Independência e relembrada pelos palestinos como o Dia da Nakba.
O primeiro grande êxodo ocorreu entre 1947 e 1949, após a divisão da Palestina pela Organização das Nações Unidas (ONU), quando eclodiu uma guerra em grande escala entre os árabes da Palestina e países árabes vizinhos, de um lado, e as forças judaicas, do outro. Nos três anos de maio de 1948 até o final de 1951, cerca de 700.000 judeus assentaram-se no recém-fundado Estado de Israel e os palestinos deslocados pelas forças israelenses não puderam retornar.
Refugiados de primeira geração
Os palestinos que foram expulsos como resultado de ataques diretos a suas cidades e aldeias, ou fugiram com medo de massacres por milícias judaicas, são agora conhecidos como refugiados da primeira geração.
Após o êxodo em massa, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) foi criada para fornecer temporariamente ajuda humanitária aos refugiados nas áreas vizinhas para onde fugiram. Porém, a Assembléia Geral da ONU habituou-se a renovar seu mandato repetidamente, até hoje, à espera de uma resolução da questão dos refugiados da Palestina.
Quando os campos de refugiados foram estabelecidos para os palestinos após a criação de Israel, a UNRWA cuidou de cerca de 750.000 refugiados. Hoje, há cerca de cinco milhões de refugiados da Palestina registrados pela UNRWA, pois a agência concede o status de refugiado aos filhos da primeira geração de refugiados, de acordo com o princípio da descendência patrilinear.
O status legal dos palestinos da diáspora varia de um país anfitrião para outro. A Liga Árabe instruiu seus membros a negar a cidadania aos refugiados palestinos ou seus descendentes “para evitar a dissolução de sua identidade e proteger seu direito de retornar à sua terra natal”. A Jordânia é a única nação árabe que integrou um grande número de palestinos como cidadãos de pleno direito, deixando milhões de palestinos no Líbano, Síria e países do Golfo apátridos.
Refugiados de segunda geração
Os filhos de sobreviventes da Nakba que nasceram em campos de refugiados ou na diáspora tornaram-se conhecidos como refugiados de segunda geração. Os descendentes dos refugiados da Palestina registrados na UNRWA herdam o mesmo status de refugiado da Palestina que os seus pais.
Refugiados de terceira geração
Os netos de sobreviventes de Nakba são conhecidos como refugiados de terceira geração e contabilizam o maior número de refugiados palestinos hoje, muitos deles vivendo sob ocupação nos territórios ocupados, enquanto outros continuam a viver em campos de refugiados nos países árabes vizinhos ou como estrangeiros na diáspora.
O direito de retorno
Em 11 de dezembro de 1948, a ONU aprovou a Resolução 194 para garantir o direito dos refugiados da Palestina de retornarem às suas casas e aldeias, de onde foram expulsos, e de serem indenizados por suas perdas. A resolução tem sido reafirmada todos os anos desde então.
“… os refugiados que desejem voltar para suas casas e viver em paz com seus vizinhos devem poder fazê-lo o mais logo possível, conforme a data prática, e indenização deve ser paga pelo imóvel daqueles que escolheram não retornar e pela perda ou dano à propriedade.”
Segundo a ONU, os refugiados da Palestina são definidos como “pessoas cujo local de residência habitual era a Palestina durante o período de 1° de junho de 1946 a 15 de maio de 1948, e que perderam tanto o lar quanto os meios de subsistência, como resultado do conflito de 1948”.
Israel, no entanto, sustenta que o retorno dos palestinos a seus lares “ameaça” seu caráter judaico, afirmação considerada pelos seus críticos como uma demonstração de discriminação religiosa e étnica contra as populações originárias muçulmanas e cristãs palestinas, particularmente quando judeus de todo o mundo são permitidos imigrar para Israel sob a “Lei do Retorno” israelense.
O problema dos refugiados palestinos é, sem dúvida, uma questão politicamente carregada e tem sido um ponto focal no conflito. Hoje, a UNRWA apresenta-se gravemente subfinanciada, deixando milhões de refugiados em campos nos territórios ocupados, na Síria, no Líbano e na Jordânia extremamente vulneráveis.
O população mundial mais antiga de refugiados da Palestina vê o Direito de Retorno como componente essencial de uma solução abrangente para o conflito palestino-israelense, abarcando injustiças históricas cometidas contra a população nativa não-judaica.
Este ano, uma manifestação em massa de seis semanas, denominada “Grande Marcha de Retorno”, iniciada em 30 de março, teve início na Faixa de Gaza bloqueada, exigindo a implementação do Direito de Retorno. Destinada a culminar no Dia da Nakba, a manifestação foi uma das maiores, mais longas e letais das últimas sete décadas, onde dezenas de milhares de palestinos convergiram para a fronteira leste de Gaza com Israel, reafirmando seu direito de voltar para suas casas e aldeias ancestrais, a Palestina histórica.
Aldeias pré-1948
Durante a Nakba, cerca de 500 aldeias e cidades palestinas foram despovoadas ou destruídas. Muitas delas foram então reassentadas por imigrantes judeus ou reconstruídas como cidades judaicas e receberam nomes hebraicos.
No entanto, os palestinos mantiveram as memórias de suas casas e aldeias ancestrais vivas ao longo das décadas. Quando fugiram de suas casas entre 1947 e 1949, levaram as chaves com eles na crença de que seu retorno era iminente. Essas chaves foram passadas de uma geração para outra, juntamente com escrituras que levam os nomes das aldeias históricas palestinas.
Vários projetos foram lançados para preservar a história das cerca de 500 aldeias palestinas despovoadas ou destruídas. Em 15 de maio de 2014, um aplicativo móvel gratuito chamado iNakba foi lançado em árabe, inglês e hebraico por uma ONG israelense chamada Zochrot, com a esperança de “familiarizar a população judaica de Israel com os fatos de seu passado”.
“A partir de 1948, Israel simplesmente apagou a Palestina, suas localidades e patrimônio. Então colocamos a Palestina de volta no mapa”
Alimentado por mapas do Google, o aplicativo “fornece coordenadas e mapas de localidades palestinas que foram completamente demolidas e destruídas após sua captura, parcialmente demolidas ou permaneceram em pé apesar de seus moradores terem sido expulsos”.
No Google Maps, alfinetes marrons sobre o mapa regional representam cada uma das 500 aldeias históricas. Clicando em um pino, aparecem detalhes sobre a vila, incluindo o seu nome anterior, tamanho da população, bem como o seu destino pós-1948. Fotos, vídeos e testemunhos também estão disponíveis para algumas das aldeias, com a possibilidade dos usuários compartilharem seu próprio conteúdo.
Logo ao norte da estrada de entrada para Jerusalém fica Lifta, uma das poucas aldeias palestinas a permanecer praticamente intacta após os ataques israelenses entre 1947 e 1949. É a única aldeia palestina que não foi repovoada ou destruída após o despejo de seus moradores, e a maioria das casas deixadas em Lifta permanece desocupada.
Os palestinos veem Lifta como um testamento permanente e símbolo da Nakba. Os moradores da aldeia e seus descendentes, que foram expulsos em 1948 – hoje referidos como “liftawis” – não foram autorizados a voltar para suas casas, alguns deles vivendo a apenas alguns quilômetros de distância, na Jerusalém Oriental ocupada.
Lifta está sob a ameaça de demolição há anos, desde que a Administração de Terras de Israel aprovou um plano de redesenvolvimento para construir moradias de luxo para judeus no lugar da aldeia. Uma improvável coalizão de ativistas palestinos e judeus, incluindo os descendentes dos antigos moradores da aldeia, bem como arquitetos, planejadores e preservacionistas contestaram o plano.
O clamor pela rejeição ao plano de redesenvolvimento e para a proteção da Lifta continua a crescer A área é descrita como um lugar único de herança e memória, para o benefício de todos os cidadãos de Jerusalém. Foi nomeado como um dos 25 locais ameaçados de extinção na lista 2018 World Monuments Watch.
Hoje, Lifta está na lista dos possíveis locais a serem considerados patrimônio mundial da UNESCO, por apresentar “um testemunho único da vida tradicional de aldeias históricas”.