O governo israelense busca implementar inúmeros planos simultâneos a fim de acelerar a judaização de Jerusalém, ao mesmo tempo em que continua a cercar a cidade com o Muro do Apartheid e atividades coloniais intensivas, como a formação de assentamentos. Enquanto isso, instituições israelenses, com apoio do governo de Netanyahu, tentam obter controle absoluto sobre os setores educacionais árabes em Jerusalém, além dos 66 por cento já controlados por Israel por meio da imposição de grades curriculares nas escolas primárias palestinas da cidade, desde 1968. Conforme consta, a palavra Palestina vem sendo substituída por Israel e Jerusalém por Urshalim. O ministério de educação israelense tem por hábito falsificar a história e a geografia nos currículos ensinados aos árabes de Jerusalém. Seminários de ensino impostos por Israel referem-se ao Islã como uma educação espiritual e à sua história como uma sucessão de conflitos e desastres, o que é considerado por si só uma falsificação dos fatos históricos.
Os mais novos planos de Israel para judaizar a educação em Jerusalém foram revelados por empresas de mídia israelenses em 19 de janeiro. A imprensa relatou que, a partir do próximo ano, o ex-prefeito de Jerusalém, Nir Barkat, estará responsável por fechar escolas da UNRWA na cidade e substituí-las por escolas administradas pela municipalidade sionista de Jerusalém. A UNRWA administra o campo de refugiados de Shu’fat, ao norte da cidade, o único campo de refugiados na região, habitado por 20.000 palestinos. A agência possui cinco escolas em Shu’fat, Sur Baher, Silwan e Wadi Al-Joz, além de um centro médico urbano. O número de refugiados palestinos amparados pela UNRWA em Jerusalém é estimado em torno de 100.000 pessoas.
Os hierosolimitas enfrentam agora seu maior desafio desde 1967. Além do fechamento das escolas da UNRWA em Jerusalém, um grupo de oficiais israelenses declarou que, a partir de então, para que as escolas árabes recebam assistência financeira da gestão educacional de Israel (recurso absolutamente necessário) é obrigatória a aderência a grades curriculares israelenses. É evidente que essa decisão do governo Netanyahu é parte da série de planos simultâneos com o objetivo de acelerar a judaização da cidade. Os currículos ensinados à minoria árabe dentro da Linha Verde são os mesmos estabelecidos às escolas árabes de Jerusalém. Essas matérias impõem aos estudantes conceitos e termos alinhados com a efetivação da ideia de Israel como estado-nação exclusivamente judaico. Além disso, há a possibilidade de judaizar centenas de topônimos árabes na cidade, a qual testemunha uma veloz atividade colonial de assentamentos. Os mesmos colonos também são agentes de ininterruptos ataques contra os pátios da Mesquita de Al-Aqsa, cuja segurança é de responsabilidade do Exército e da polícia israelenses.
É bastante evidente a tentativa de Israel de assediar e pressionar estudantes árabes de Jerusalém a fim de forçá-los a deixar a cidade, em busca de outras alternativas de ensino. Isso os colocaria sob risco de serem expulsos de sua cidade de acordo com leis israelenses. É importante destacar a magnitude da angústia dos estudantes hierosolimitas sob ação de políticas israelenses programadas para avariar o setor de educação por todo o território ocupado. Há um grave excesso de estudantes nas salas de aula o que implica, portanto, na necessidade de dois turnos na maioria das escolas. Há também uma carência severa de laboratórios nas escolas árabes, assim como complexos esportivos deficientes e escassez de professores. Por muitos anos, as autoridades israelenses têm proibido qualquer tipo de reforma ou construção de salas de aula adicionais ou novas escolas para estudantes árabes, portanto, impedindo o acesso de novos estudantes dado o natural crescimento demográfico, que supera três por cento ao ano.
É válido notar que as escolas de Jerusalém não são condutoras de um ensino apropriado, devido à deterioração do tempo e a falta de reformas e modernizações necessárias. É importante destacar que o ministério de educação israelense e a prefeitura de Jerusalém baniram a educação pública para os estudantes árabes anos atrás, o que expropria oportunidades educacionais de centenas de hierosolimitas por ano. As consequências do fechamento das escolas da UNRWA podem ser bastante danosas à população de Jerusalém, especialmente considerando a falta de um plano árabe e palestino para dar suporte aos hierosolimitas. Dado o bloqueio econômico israelense em Jerusalém, a alternativa de matrícula em escolas particulares é inacessível aos estudantes árabes. Devido às políticas implementadas por Israel no que concerne o setor educacional, incluindo a imposição da grade israelense e o banimento do ensino gratuito, um enorme crescimento do abandono escolar por parte dos estudantes árabes em Jerusalém deverá ocorrer.
De acordo com pesquisas, a taxa de abandono dos estudantes árabes de Ensino Médio em Jerusalém alcançou 50 por cento na última década. Também veremos uma escalada nos processos de migração forçada de famílias e estudantes palestinos de Jerusalém em direção à Cisjordânia, em busca de educação pública. Conforme o fechamento das escolas da UNRWA por Israel, no início do próximo ano letivo, essas ações tendem a impedir o retorno dos estudantes às suas áreas de residência em Jerusalém, sob o pretexto das leis injustas de Israel. A legislatura inclui a desculpa de que eles não residem na cidade pelo período de um ano, o que resulta no confisco de suas casas, empreendimentos e imóveis sob diversos subterfúgios da ocupação, e na transferência de suas propriedades à chamada Autoridade de Terras de Israel.
Portanto, há outras intenções israelenses por trás da judaização do ensino em Jerusalém, a começar por privar os árabes do acesso ao conhecimento e então torná-los um minoria inferior a 12 por cento dos habitantes em relação à população total da cidade, incluindo a parte ocidental ocupada em 1948 e a parte oriental ocupada em 1967. Estes são propósitos definitivos do governo de Netanyahu em termos de demografia.
Este artigo foi originalmente publicado em árabe, no site de notícias Al-Araby Al-Jadeed, em 21 de janeiro de 2019.
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