Em entrevista ao jornal israelense Haaretz, o proeminente historiador israelense Benny Morris previu um futuro sombrio ao país.
“Este lugar irá se deteriorar em um estado do Oriente Médio com maioria árabe,” disse ao se referir a Israel e Palestina. “A violência entre as diversas populações dentro do estado irá continuar a crescer… Os árabes irão exigir o retorno dos refugiados. Os judeus irão permanecer como uma pequena minoria em um vasto mar de árabe-palestinos – uma minoria perseguida ou uma minoria massacrada, da mesma forma como viviam nos países árabes.”
“Em trinta a cinquenta anos, eles irão nos superar, de um modo ou de outro,” acrescentou.
Não importa se as previsões de Morris almejavam manipular medos existentes junto aos seus conterrâneos, estimular o senso de vitimização que continua hegemônico e característico da mentalidade coletiva judaico-israelense ou comunicar sentimentos honestos.
Seja como for, suas declarações explicam porque Israel age contra a identidade palestina com tamanho sentimento de urgência, intensificando ataques à cultura palestina, acelerando a anexação de terras palestinas, expandindo assentamentos judeus e estradas exclusivas aos judeus, renomeando ruas e marginalizando o idioma árabe.
Para Israel, apagar a Palestina e seu povo da história de sua terra natal sempre foi um esforço estratégico.
“Considerada uma conquista majoritária do nacionalismo judaico moderno, a ‘hebraização de Israel’ costuma se referir ao ressurgimento do idioma hebraico, utilizado e associado ao sionismo, como um projeto de restauração e construção nacional,” escrevem os acadêmicos israelenses Maoz Azaryahu e Arnon Golan em sua tese “(Re)nomeando a Paisagem: a Formação do Mapa Hebraico de Israel”.
“Um aspecto menos conhecido da ‘hebraização de Israel’, no entanto, é a ‘hebraização cartográfica’, um projeto promovido pelo estado cujo objetivo é ‘judaizar (sic) o mapa de Israel e afixar nomenclaturas hebraicas a todos os elementos geográficos do mapa de Israel”.
Isso é fato no caso palestino, como foi fato em todos os casos de nações colonizadas. E assim como outras potências colonialistas de assentamento, Israel também é consciente da importância da afinidade entre lugares, nomes e identidades coletivas dos povos nativos colonizados.
Como destacou o historiador canadense Kaleigh Bradley em ensaio recente: “Para os povos nativos, os nomes dos lugares agem como dispositivos mnemônicos, ao incorporar histórias, conhecimentos ambientais e espirituais e ensinamentos da tradição. Os nomes dos lugares também servem como marcos fronteiriços entre o lar e o mundo dos estrangeiros.”
A campanha sionista israelense para renomear territórios palestinos, destruir patrimônios históricos palestinos, reivindicar a cultura palestina, deteriorar a presença do idioma árabe e apagar as contribuições culturais do povo palestino perdura por mais de setenta anos.
Mais recentemente, o Exército Israelense utiliza suas violentas investidas militares contra os palestinos não apenas para tomar vidas palestinas mas também para destruir monumentos culturais e locais de culto com importância histórica. Conforme estatísticas oficiais palestinas, Israel destruiu 73 mesquitas durante uma guerra de 51 duas na Faixa de Gaza sitiada, em 2014.
Algumas dessas mesquitas, como a Mesquita al-Omari em Jabaliya, são estruturas antigas com mais de mil anos de construção. A Mesquita al-Omari foi construída cerca de 1.365 anos atrás e serviu como símbolo de esperança aos palestinos de Gaza, uma recordação de um passado grandioso.
As autoridades israelenses também aumentaram a pressão no terceiro local mais sagrado para os islâmicos: a Mesquita de Al-Aqsa. Têm facilitado incursões do grupo judaico extremista Fiéis do Monte do Templo impostas ao complexo de Haram al-Sharif, onde a mesquita está localizada. O grupo declarou avidez em destruí-la a fim de construir um “Terceiro Templo no Monte do Templo” – algo também desejado pelo governo israelense.
Também ocorreram inúmeros ataques ao patrimônio cultural palestino em Nablus, al-Khalil (Hebron), Ariyha (Jericó), Yaffa (Jaffa), Haifa e muitas outras cidades e aldeias palestinas.
Apesar de toda a destruição, em níveis políticos e intelectuais, Israel permanece inseguro sobre seu passado e incerto sobre seu futuro.
Porém, o declínio previsto de Israel como “estado judeu” – conforme a profecia de Morris – irá surgir não como resultado da “perseguição da minoria” pela maioria árabe e consequente “massacre”, mas sim como resultado das ações irresponsáveis de Israel. Antes dos sionistas, houve muitos outros invasores. Muitos fugiram; no entanto, outros escolheram ficar e foram naturalmente integrados no tecido diverso da sociedade palestina.
Israel se recusa a aceitar o fato de que a relação dos palestinos com a sua terra não pode ser determinada ou exterminada por meio da violência, de leis do Knesset ou decretos militares. Ao contrário, quanto maior a agressão impelida contra os palestinos, maior é seu sentimento de nacionalidade. O falecido poeta palestino Mahmoud Darwish, em seu poema seminal, “Carteira de Identidade” foi capaz de capturar brilhantemente esse espírito de resistência palestina:
Sou um nome próprio – sem títulos
Paciente num país onde todos
Vivem sobre as brasas da raiva.
As minhas raízes
Foram plantadas antes do nascimento do tempo
Antes do início da história
Antes do cipreste e da oliveira
Antes da eclosão da grama
O conceito palestino “sumud” (obstinação) mostrou-se então muito superior e mais poderoso do que qualquer aparato ou estratagema militar israelense. E é essa obstinação que irá garantir que a profecia de Morris torne-se verdade. O vasto mar palestino irá engolir o ocupante.
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