O mundo árabe está no meio de um de seus maiores e mais dramáticos declínios de fertilidade da história mundial, descobriu um estudo recém publicado pela Universidade de Yale.
Intitulado “The Arab World’s Quiet Reproductive Revolution” (“A Revolução reprodutiva silenciosa do Mundo Árabe”), a pesquisa de autoria da Professora Marcia Inhorn conclui que as taxas de fertilidade diminuirão abaixo do nível de recolocação, na maioria dos países árabes, por volta do ano de 2100, quando a região irá transicionar de uma localidade de “impacto jovem” para “impacto idoso”, representado pelo aumento veloz de envelhecimento da população.
Inhorn – autora também de “The New Arab Man: Emergent Masculinities, Technologies, and Islam in the Middle East” (“O novo homem árabe: masculinidades emergentes, tecnologias e Islã no Oriente Médio”) – afirma que os casais árabes reduziram a taxa de fertilidade regional, descrita como uma mudança “revolucionária” de uma das maiores para uma das mais baixas do mundo. Ao citar estatísticas da ONU, o relatório descobriu que sete dos quinze países que mais reduziram sua taxa de fertilidade estão no mundo árabe. A transição demográfica é considerada parte de um declínio muito mais amplo na fertilidade da população islâmica, descrita como uma “revolução silenciosa […] oculta a céu aberto”.
Algumas razões foram dadas para explicar o declínio dramático destes números. A introdução de programas de planejamento familiar e contraceptivos no mundo árabe é considerada parte importante desse contexto. No entanto, o uso crescente de métodos contraceptivos não é um fator crucial, afirma o relatório. Ao contrário, mudanças de atitude – ou o desejo por menos filhos tanto por parte do homem quanto da mulher – produziram “o novo modelo de família árabe”, um núcleo familiar mais compacto.
“Mudanças de pensamento” são um fator crucial em relação à escolha das famílias árabes por limitar sua fertilidade através de contraceptivos a fim de investir mais tempo, energia e dinheiro em educação e no sucesso individual de cada filho.
Tendências históricas destacadas no relatório demonstram que, no período entre 1975 e 1980, mulheres de todas as 17 nações árabes possuíam uma taxa de fertilidade bastante superior à média global na época, 3.85 crianças por mulher. Sete países árabes – Argélia, Kuwait, Líbia, Omã, Arábia Saudita, Síria e Iêmen – possuíam taxas de fertilidade superiores a 7.0, com recordes de 8.58 no Iêmen.
Hoje, somente três países árabes – Egito, Jordânia e Iêmen – ainda possuem taxas de fertilidade superiores a 3.0. O relatório descobriu que a taxa de fertilidade de nove países árabes – Argélia, Jordânia, Líbia, Omã, Qatar, Arábia Saudita, Síria, Emirados Árabes Unidos e Iêmen – reduziu-se em quase quatro nascimentos por mulher. Sete países árabes com quedas estimadas abaixo de 60 por cento estão na lista dos quinze países com maior declínio de fertilidade no mundo. Incluem Argélia, Líbano, Líbia, Omã, Qatar, Tunísia e Emirados Árabes. A Líbia demonstrou a maior redução, em quase 70 por cento.
O declínio é previsto para continuar para além deste ano, com taxas de fertilidade esperadas a diminuírem abaixo do nível de recolocação na maioria dos países árabes por volta do ano 2100. Fertilidade de recolocação, conhecida como crescimento demográfico zero, é o número de crianças por mulher necessário a manter os níveis populacionais vigentes, os quais são estimados em 2.1, acima de 2.0 a fim de contabilizar casos de morte infantil. Por volta de 2100, apenas o Iraque e o Sudão – com taxas de 2.2 e 2.17, respectivamente – são previstos a se manterem levemente acima do nível de recolocação.
Ao examinar o impacto dessa queda dramática em fertilidade, a autora afirma que a região irá transicionar de uma localidade de “impacto jovem” ao modelo já sentido nos países árabes de “impacto idoso”, representado pelo aumento veloz de envelhecimento da população. O relatório explica que o rápido envelhecimento da população terá consequências demográficas para a população como um todo, reportando que poucas nações árabes possuem atualmente instrumentos para lidar com milhões de idosos. O relatório dissipa, no entanto, algumas dessas preocupações ao afirmar que tal “impacto idoso” não ocorrerá por décadas, embora insista que deve provocar crises potenciais de cuidado aos milhões de futuros cidadãos idosos.
No futuro, esses países árabes unir-se-ão aos chamados “países estéreis” – nações com perdas dramáticas em quantidade populacional e carências contínuas de mão de obra, conclui o relatório.