Israel e a guerra contra o Irã

Uma guerra contra o Irã liderada pelos Estados Unidos ainda é uma possibilidade, apesar do fato do presidente americano Donald Trump ter expressado abertamente sua falta de entusiasmo para tanto agora, em contraste com seu Conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton. Neste assunto, Israel é lembrado, apesar de ser improvável que se envolva diretamente em um confronto militar, particularmente após o pedido explícito de Washington para que não interfira em caso de guerra. É uma postura similar à posição tomada durante a segunda Guerra do Golfo, em 1991.

No entanto, Israel é um fator influente na escalada americana contra o Irã. Ninguém pode ignorar a alegria e a satisfação do governo de Benjamin Netanyahu em torno das políticas cada vez mais hostis de Trump em relação ao Irã – cuja incitação do primeiro-ministro israelense é agente direto – comparadas às expressões israelenses quanto às ações de seu antecessor, Barack Obama. Trump retirou os Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã, então designou a Guarda Revolucionária Iraniana como uma organização terrorista e, em seguida, impôs sanções ao petróleo iraniano.

Netanyahu acredita que o Irã está no cerne do problema representado pelo Hamas e outros grupos de resistência na Faixa de Gaza. Para ele, confrontar a suposta ameaça iraniana é uma prioridade porque este é vanguarda e apoiador do Hamas; caso seja enfraquecido e refreado, conforme a lógica de Netanyahu, o Hamas poderá ser vencido mais facilmente. No entanto, apesar da importância do apoio recebido pelo movimento e por outros grupos do Irã, tanto o Hamas quanto a Jihad Islâmica conseguiram desenvolver suas próprias capacidades e se adaptaram às condições do cerco. Já ultrapassaram o estágio de autoformação.

Acordo iraniano e auxílio militar americano a Israel – cartum
[Carlos Latuff/Monitor do Oriente]

Além disso, o apoio internacional à resistência palestina não é limitado ao Irã, à medida que grupos armados receberam auxílio de países árabes e muçulmanos. Portanto, não há qualquer conexão inexorável entre enfraquecer Teerã e enfraquecer o Hamas e a Jihad Islâmica. Os movimentos têm como base a extensão dos territórios palestinos ocupados em 1948, assim como os assentamentos que envolvem Gaza. Estes assentamentos densamente povoados são tanto um fardo quanto uma pedra no sapato de Israel; Gaza não pode ser silenciada pelo cerco, pela fome ou pela opressão econômica e militar.

As ferramentas americanas mais eficientes contra o Irã são as sanções econômicas. A movimentação de tropas de Washington serve somente à demonstração de sua suposta seriedade e sugestão de poderes persuasivos. As sanções pretendem, no entanto, reduzir a exportação de petróleo iraniano a zero, pois o produto é sua principal fonte de renda. As sanções tiveram efeito conta o valor da moeda iraniana, o que se reflete na inflação generalizada no Irã, inclusive relativa a necessidades básicas. O propósito declarado dessa estratégia é forçar o Irã a assinar um novo acordo nuclear em termos mais alinhados ao ponto de vista de Trump e de sua administração. O foco é o acordo nuclear, sem qualquer menção a outros problemas ou demandas, tais quais o papel regional do Irã e seu programa balístico de mísseis. “Nós só não queremos que eles tenha armas nucleares,” Trump contou a jornalistas. “Não é pedir muito.”

Segundo analistas israelenses, as sanções de “pressão máxima” impostas contra o Irã, cujo objetivo é pressioná-lo às cordas, podem compelí-lo a ameaçar a estabilidade da região. A emissora israelense Channel 13 revelou que o Mossad (a agência de inteligência de Israel) relatou aos Estados Unidos planos iranianos para executar uma operação militar contra seus interesses na região.

Acordo iraniano – cartum [Sabaaneh/Monitor do Oriente]

Considerado o coração das escaladas mais hostis na relação Irã-Estados Unidos, o estado de Israel está, ao lado dos países árabes do Golfo, preocupado sobre as consequências e potenciais riscos de guerra. O jornal israelense Maariv citou fontes de segurança ao afirmar que Israel teme qualquer conflito difundido como resultado de investidas do Irã contra bases israelenses no exterior via terceiros. Israel teme também uma série de ataques a partir das Colinas sírias de Golã executados por grupos coordenados e instruídos pela Guarda Revolucionária Iraniana. Agentes israelenses estuda, portanto, a possibilidade de investir contra bases iranianas na Síria.

Em resumo, a escalada de Washington contra Teerã constitui tanto uma ameaça quanto uma oportunidade para Israel. Ameaça no sentido de que as consequências da guerra podem afetá-lo diretamente; oportunidade porque deve beneficiá-lo ao interromper os avanços iranianos seja por meios de guerra militar ou econômica, de modo que privaria o Hamas e a Jihad Islâmica de apoio regional em relação a uma presença iraniana ativa na questão palestina. Israel também se beneficiará por relações mais íntimas com os estados do Golfo, ansiosos para estabelecer relações normais com Tel Aviv em detrimento da Palestina. Ao fazê-lo, espera convencer as capitais regionais de que Israel é mais próximo que o Irã, uma ameaça aos seus interesses e à segurança da região.

Este artigo foi publicado primeiro no site de notícias Al-Arabs Al-Jadeed, em 21 de maio de 2019

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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