A comemoração anual do Dia Mundial de Al-Quds (Jerusalém, em árabe), realizada na última sexta-feira do Ramadã, em 2019, será diferente dos anos anteriores à medida que novos desafios avançam contra o povo palestino.
A esmagadora pressão aplicada pelo regime de apartheid israelense sobre o cotidiano palestino aumentou exponencialmente sem qualquer consideração pelas leis ou convenções internacionais, violadas como hábito pelo governo racista e conservador de Benjamin Netanyahu. Ocorre como esperado: desde a posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, a administração americana passou a apoiar Israel sem quaisquer restrições. Seja sobre a questão da ocupação militar de Jerusalém, Cisjordânia ou Colinas sírias de Golã, Trump extrapolou uma série de limites para basicamente conceder estes territórios a Israel.
Os Territórios Palestinos Ocupados (TPOs) estão sujeitos a diversas resoluções do Conselho de Segurança da ONU, que explicitamente proíbem Israel de assumir propriedade por anexação ou expansão de assentamentos ilegais; contudo, tais resoluções não parecem preocupar Donald Trump. Sua presidência infame, instigada por elementos neoconservadores no âmago de sua administração, simplesmente governa por decretos. É evidente que este modelo favorece Netanyahu; o primeiro-ministro israelense não perdeu tempo em agarrar os presentes de Trump e consolidar o poder político do estado sionista como uma entidade colonial de assentamentos.
Nenhum presidente americano foi tão longe quanto Trump em desafiar as resoluções do Conselho de Segurança. E nenhum líder do projeto sionista teve tamanha vantagem quanto Netanyahu em sua habilidade para maximizar o unilateralismo de Trump em benefício de Israel.
O Dia de Al-Quds também deve enfrentar ainda a colaboração aberta com Israel por déspotas árabes. Embora tal conduta fosse dissimulada no passado, por trás de portas fechadas, agora é executada publicamente. Relatos de acordos extensivos de comércio, segurança, inteligência e diplomacia entre Israel e o mundo árabe tornaram-se rotina.
Dois dos arquitetos desta traição são Mohammad Bin Salman, da Arábia Saudita, e Mohammed Bin Zayed, dos Emirados Árabes Unidos (EAU). Embora chocante – mas não surpreendente – a escolha arbitrária dos monarcas em hipotecar a Península Arábica ao regime sionista é uma escolha decidida conforme sua dependência dos Estados Unidos para sua própria segurança. Como resultado, nem os direitos humanos dos palestinos, nem sua luta legítima por liberdade possuem qualquer valor diante das preocupações de Bin Salman e Bin Zayed. Tudo que importa para a dupla é sua capacidade de manter a trivialidade do trono.
Portanto, o Dia de Al-Quds tem de observar a debilidade dos líderes árabes vizinhos à Palestina que paradoxalmente ocupam posições de poder em estados subservientes. Sua fraqueza é caracterizada pela dependência da boa vontade americana e sua força é definida pelos dólares de petróleo gerados pelas amplas reservas regionais.
O chamado ‘acordo do século’, de Donald Trump, já célebre por suas propostas despudoradas, é outro fator crucial às vésperas do Dia de Al-Quds deste ano. O entusiasmo prévio com o acordo minguou, substituído pelo desespero de selar o destino da Palestina de uma vez por todas.
Mais uma vez, enxerga-se nessa conjuntura a mão oportunista de Netanyahu sob a bandeira da ideologia expansionista colonial sionista à medida que o primeiro-ministro israelense busca desesperadamente manipular o complô racista neoconservador de Trump ao seu próprio favor. Incerto se os delitos de Trump levarão ao seu impeachment ou se ele será reeleito para um segundo mandato, Netanyahu sabe que corre contra o tempo para extrair o máximo da Casa Branca mais pró-Israel da história americana.
Isso explica porque Israel esteve na vanguarda da fabricação de relatórios e rumores de inteligência sobre a suposta ameaça militar e nuclear do Irã contra os interesses dos Estados Unidos. Entre as equipes de hasbara (propaganda) israelenses e o quadro predatório da Casa Branca, liderado pelo Conselheiro de Segurança Nacional John Bolton e pelo Secretário de Estado Mike Pompeo, Netanyahu é elogiado como responsável por colocar os Estados Unidos à marcha de uma guerra contra o Irã.
À medida que as tensões crescem dia após diia, o Dia de Al-Quds de 2019 será marcado pela beligerância de tecnocratas de segurança americanos acobertados por extremistas israelenses a fim de aniquilar o Irã, único oponente genuíno e fundamentado do estado sionista na região. Entretanto, o impacto notável da Resistência palestina contra o exército, a marinha e as forças aéreas israelenses mantém-se uma conquista extraordinária e proeminente. Sucumbir ao terror israelense não é uma opção; isso se demonstra muito literalmente pelos protestos semanais da Grande Marcha do Retorno, na Faixa de Gaza sitiada.
Que os grupos de resistência sejam capazes de responder hábil, corajosa e criativamente à força destrutiva da potência nuclear que ocupa toda a Palestina histórica já é prova suficiente de que a liberdade e a justiça irão despontar no horizonte para todos os palestinos, mais cedo do que se imagina. Deste modo, o Dia de Al-Quds de 2019 registrará uma comemoração histórica em meio a desafios árduos.