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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Homens da Pedra: os palestinos que construíram Israel

Autor do livro(s) :Andrew Ross
Data de publicação :Abril de 2019
Editora :Verso
ISBN-13 :978-1788730266

Quem estiver familiarizado com as sinuosas e constantes transformações do projeto sionista sabe muito bem que não se trata somente dos assédios de um menino intolerante, mas sim o uso contínuo de oportunidades e vantagens. Desde o início, o governo do mandato britânico encorajou o capital estrangeiro de generosos judeus da diáspora a abarrotar a sociedade em favor dos judeus na Palestina. Onda após onda de imigrantes, legais e ilegais, tal processo elevou as taxas de urbanização na terra, contudo, através dela, os únicos trabalhadores permitidos nas fábricas ou nas fazendas eram os poucos “escolhidos”. Entre 1936 e 1939, as ações de resistência civil e as greves de trabalhadores palestinos eram essencialmente revoltas camponesas. A elite árabe e a polícia britânica na Palestina correram para suprimí-las, enquanto milícias judaicas bem guarnecidas começavam a contrabandear armas em um ensaio definitivo para 1947.

O crescimento da Palestina judaica foi rápido. Os trabalhadores estão em greve no porto de Jaffa? Pois bem, construímos então um novo porto adjacente, em Tel Aviv, moderno e tão distante do estilo otomano quanto possa parecer. E graças ao capital britânico e internacional, faremos em somente um ano. Chegaremos a chamá-la de “Cidade Branca” para distinguí-la “daqueles árabes” no porto vizinho.

O livro de Andrew Ross busca derrubar a falácia de que a infraestrutura arquitetônica israelense foi uma conquista significativa dos pioneiros judeus. Os imigrantes judeus europeus, como eu, não eram fisicamente capacitados para a empreitada, tampouco possuíam tamanho conhecimento de engenharia civil acumulado por gerações. Não havia classes emergentes capacitadas para tal vocação, sequer para substituir os generosos policiais ingleses.

Ross aborda o assunto de maneira dupla: como jornalista e historiador experiente, ao contestar diversas fontes históricas e contemporâneas, ao mesmo tempo que observa sua jornada exploratória, que começou muito cedo. O autor pôde observar bastante, ao abandonar seu emprego em uma indústria petrolífera do Mar do Norte, ou mesmo pela sua experiência como voluntário socialista emergente em um kibutz israelense de raízes (então históricas) do Irgun, na década de 1970. Contudo, ao ajudar no processo de um documentário palestino de 2015, Ross foi puxado pela orelha e o resultado foi a base de seu livro.

Apesar das pedras serem a principal matéria-prima para a construção na Palestina, a história é uma narrativa mais ampla do que somente podemos enxergar pelas paredes expostas. A persistente segregação racial dos judeus na Palestina em relação ao emprego, envolvendo o trabalho agrário e de construção civil, é vista como parte de todo um setor operário palestino. Todavia, tudo começa pelas pedras. São o primeiro elemento.

A narrativa de Ross apresenta uma série de análises concretas da substância física. Sim, a mistura de agregados e massas foi uma ferramenta política no desenvolvimento de Tel Aviv, pois são materiais de produção e colocação rápidas, além de se adaptarem bem aos conceitos europeus de modernidade. Estruturas de muitos andares, como aquelas construídas, demandavam reforços; porém, um judeu egípcio convenientemente importou uma nova técnica de produção de tijolos de silicato, facilitando a não contratação dos operários palestinos qualificados.

Entretanto, embora o projeto proto-israelense almejasse uma paisagem arquitetônica de cimento, inspirada no Bauhaus, eventualmente os israelenses perceberam que ruas levantinas “autênticas” cabiam melhor nos mitos da terra pertencente aos judeus. Portanto, bairros nivelados por tanques ou tratores eram reconstruídos às pressas, em nosso tempo de vida, a fim de forjar o patrimônio.

Um problema ao conseguir mão-de-obra competente foi o estabelecimento da Linha Verde pós-1967. Por isso, como sabemos, licenças foram concedidas a palestinos para que entrassem nos territórios judaicos, com o intuito de florescer os arremedos do mercado imobiliário. Se o que interessa ao leitor é compreender a ironia fatal no suor dos trabalhadores palestinos que ergueram residências bastante confortáveis em sua terra despojada à força, as ideias de Stone Men fluem apropriadamente do início ao fim.

Operário palestino trabalha em local de construção

Limpe os pés, como lhe convém: Ross estende um tapete de boas-vindas a eventuais críticas palestinas sobre o uso da célebre sabedoria da tradição palestina para erguer conveniências modernas da arquitetura. Embora a amada pedra kurkar (arenito local) possa ser desejada, aparentemente não convive bem com a umidade. Em qualquer sentido econômico, a produtividade palestina ainda é baixa, devido a maquinários abaixo do padrão, oportunidades injustas de trabalho, além daqueles bolsões esquecidos e desagradáveis de saúde pública e segurança. Além disso, os homens palestinos de hoje iriam preferir não sofrer da exaustão e das doenças causadas por esse árduo trabalho manual, que torna-se cada vez mais difícil com o avançar da idade. O professor Ross esclarece aqui que as juntas eventualmente doloridas podem até valer a pena, desde que justifiquem a liberdade de seus filhos para avançar e crescer na sociedade.

De Nablus a Belém, de Ramallah à aldeia vizinha, o autor faz uso de suas habilidades jornalísticas para obter respostas cruciais sobre o que significa preservar habilidades, sofrer humilhação e combinar questões práticas e filosóficas, tudo para alimentar suas famílias e construir uma ponte de esperanças para o povo palestino, seja em termos de uma comunidade islâmica (ummah) ou irmandade cristã. Vez ou outra, ele escorrega brevemente sobre questões políticas ingênuas; em geral, no entanto, é bem recebido pelos operários locais.

O debate de nosso tempo está em seu ápice quanto ao futuro possível para os palestinos na Cisjordânia; talvez, o exemplo mais óbvio seja o novo desenvolvimento da cidade de Rawabi. Este projeto residencial comunitário é ao menos parte do futuro da Palestina, mesmo que as aldeias vizinhas não gostem dele; mesmo que os operários palestinos sintam que seu salário é baixo demais; mesmo que estes operários sintam-se como se construíssem um potencial assentamento exclusivamente judaico ao utilizar materiais israelenses. Este é o pomo de ouro no topo do monte que agrada bastante tanto a classe média palestina quanto os bancos locais e do Catar.

Em contraponto, os projetos do renomado arquiteto autoral Suad Amari Rewaq mantiveram o foco no patrimônio histórico, a partir de um empreendimento recente (de uma década atrás), repleto de financiamentos, que buscou transformar aldeias quase abandonadas em centros comunitários viáveis e, deste modo, conquistou aplausos até dos mais céticos. Esta é uma das notícias reconfortantes de Stone Men. Porém, ambos os aspectos demandam recursos financeiros e a atual propina, se não vagamente abalada, da aliança Trump-Netanyahu talvez possa ser vista somente por lentes mais delicadas. Enquanto tudo isso ocorre, os leitores do MEMO consistentemente balançam suas cabeças diante de tamanha ingenuidade, quando bem sabem que o desejo sionista pelo chamado Eretz Israel jamais pode ser saciado.

O livro acomoda leitores casualmente conscientes sobre a marcha militar dos “fatos em solo”. A vida sob os postos de controle, sob os caprichos militares, junto às Nações Unidas, à rivalidade política palestina, ao apoio de ONGs e subsídios estatais é esboçada aqui para ilustrar o trabalho árduo de pavimentação política da Terra Santa. Para os interessados por políticas sindicais, pela teoria de apropriação do trabalho de John Locke ou por outros discursos semelhantes, tais aspectos também estão presentes no livro.

Resta somente um ponto pendente em minha leitura: a alegação, sem qualquer nota ou fonte de rodapé, de que a Força Aérea Real britânica (RAF) bombardeou Jaffa no início da Grande Revolta de 1936. Embora tenha observado em outros lugares que os aviões foram chamados da base de Aman para ensinar uma lição às aldeias palestinas rebeldes, ainda não encontrei qualquer evidência factual de que o mesmo ocorreu no principal porto palestino.

Algum dia, um operário palestino não precisará pedir licença aos postos de controle, que saqueam quase metade de seus salários. Algum dia, esses homens que constroem novos assentamentos para os proprietários “escolhidos” receberão anuência para organizar sindicatos para além da Linha Verde. Algum dia, o poder ocupante não irá mais atrair “operários convidados” da América do Sul, África e Ásia, com o intuito de desvalorizar ainda mais a remuneração local.

Esteja interessado na construção física ou sócio-política, esta jornada diversa e rica pela história palestina poderá lhe satisfazer. Escrito em estilo acessível e agradável, com palavras como “domicídio” e “artwashing” (encobrimento de aspectos controversos por investimento em arte), o livro combina jornalismo de qualidade com uma crítica sólida daquilo que foi incumbado desde quando o sionismo encontrou-se com o capitalismo.

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Palestina: quatro mil anos de história
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