Em audiência no início desta semana, a “guerra ao terror” promovida pelos Estados Unidos foi caracterizada como racista e discriminatória devido ao seu fracasso em lidar com a ameaça crescente da supremacia branca. Na ocasião, a congressista palestino-americana Rashida Tlaib se emocionou e caiu em lágrimas.
Durante o audiência da Comissão de Supervisão da Câmara, Tlaib deu seu depoimento sobre a onda de supremacia branca e terrorismo doméstico. Seu testemunho assumiu um caráter emocional quando a representante do estado de Michigan começou a revelar detalhes das ameaças e abusos que recebeu desde sua posse como parlamentar.
Durante o interrogatório de Michael McGarrity, diretor-assistente da divisão de contraterrorismo do FBI, sobre a abordagem do Departamento de Justiça referente ao terrorismo doméstico, Rashida Tlaib, primeira palestina muçulmana eleita ao Congresso, passou a ler em voz alta uma das ameaças de morte que recebeu.
“Atenção, congressista Alexandria Ocasio-Cortez, e cabeças de trapo Rashida Tlaib e Ilhan Omar,” alertava o autor do e-mail. “Fiquei absolutamente excitado e satisfeito ao ouvir sobre o 49 muçulmanos mortos e muitos outros feridos na Nova Zelândia. Este é um excelente começo. Oremos e tenhamos esperança de que isso continue aqui no bom e velho Estados Unidos da América. O único muçulmano bom é o muçulmano morto.”
Detalhes da mensagem de ameaça foram compartilhados durante o debate entre Tlaib e McGarrity, focado em questionar se o estatuto de terrorismo doméstico lida apropriadamente com a ameaça crescente de movimentos supremacistas. Tlaib sugeriu que as ferramentas jurídicas não eram adequadas ao tratar da supremacia branca de extrema-direita, que “ameaça matar pessoas por suas fés e crenças”. A congressista também expressou seu espanto quanto ao fato das ameaças direcionadas a ela não se enquadrarem em qualquer lei existente contra o terrorismo doméstico.
Tlaib estava emocionada quando informou ao comitê que a ameaça específica emitida a ela e às suas duas colegas democratas foi encaminhada com cópia ao presidente Donald Trump, ao Departamento de Justiça e ao Departamento de Segurança Interna do governo americano, entre outros indivíduos e instituições federais. A congressista declarou perplexidade pelo fato das ameaças não serem levadas a sério por nenhum destes setores do governo.
Ocasio-Cortez também deu depoimento durante a audiência da Comissão de Supervisão. A representante de Nova Iorque questionou o FBI sobre supostamente assumir dois pesos e duas medidas na forma como o sistema jurídico americano lida com autores de extremismo violento. Ela argumentou que assassinos em massa muçulmanos tendem a ser indiciados por terrorismo, enquanto massacres executados por supremacistas brancos são considerados isoladamente “crimes de ódio”.
Ao citar os recentes assassinatos em massa de judeus e afro-americanos por supremacistas brancos, a congressista democrata acusou o FBI de tratá-los de forma enviesada, ao designá-los “somente como crimes de ódio e não incidentes de terrorismo doméstico”. Ocasio-Cortez destacou que a agência tende a caracterizar como terrorismo somente os crimes executados por muçulmanos.
McGarrity negou as acusações e sugeriu que os assassinatos cometidos por supremacistas brancos não são designados como terrorismo pois não são uma questão global e não são conectados a “grupos estrangeiros”. No entanto, o oficial do FBI eventualmente admitiu que há brechas na lei. Quando então assumiu que os movimentos supremacistas brancos são de fato uma questão global, McGarrity afirmou que a razão para não designar atos cometidos por criminosos brancos como terrorismo se dá pois o Congresso dos Estados Unidos não possui um estatuto para terrorismo doméstico similar aos seus regimentos para organizações terroristas internacionais, como o Daesh e a Al-Qaeda.
Entretanto, o assentimento de McGarrity sugeriu também que a violência executada por muçulmanos pode ser facilmente relacionada a uma conspiração internacional, mesmo caso não exista, enquanto os crimes cometidos por supremacistas brancos podem ser vistos apenas como atos solitários, mesmo que haja uma dimensão global para os eventos.
Segundo Ocasio-Cortez, após destacar as “brechas” e as “falhas” das leis americanas de contraterrorismo, a explicação de McGarrity tenta distinguir crimes de ódio cometidos por muçulmanos daqueles cometidos por caucasianos. O mesmo crime, alega Ocasio-Cortez, é interpretado diferentemente com base na religião e na cor da pele do criminoso – quando muçulmano, é automaticamente designado como “terrorismo doméstico”; quando branco, é visto de forma isolada.