O governo de Israel e seus lobistas ao redor do mundo dominam a infame arte da Grande Mentira. Embora eles tenham alegado serem vítimas de táticas usadas pela Alemanha nazista antes e durante a Segunda Guerra Mundial, ativistas pró-Israel – judeus e não-judeus – levaram o conceito a níveis ainda maiores de falsidade.
Israel sempre reconheceu que as percepções do público e aquilo em que as pessoas possam acreditar têm mais poder e importância do que a realidade. Por isso, o Estado se envolveu em uma campanha contínua de propoagação de mentiras para criar falsas percepções que encobrem suas atrocidades e o retratam como a vítima perpétua.
Os proto-sionistas fizeram isso durante as décadas de 1930 e 1940, quando se engajaram na criação de uma presença artificial na Palestina, e seus descendentes ideológicos têm feito isso desde então. Usando estratégias de relações públicas e comunicações de alta potência, eles distorcem a verdade e inventam mentiras críveis.
Uma das primeiras grandes mentiras de Israel foi ligar os palestinos aos nazistas. Embora os árabes – inclusive palestinos como meu pai – tenham lutado contra os nazistas na Europa, durante a Segunda Guerra Mundial (ironicamente, ajudando a libertar os judeus sobreviventes dos campos de concentração), a propaganda israelense afirmou falsamente que os palestinos estavam por trás da orientação nazista para exterminar o povo judeu.
Freda Kirchwey escreveu dezenas de histórias para a publicação anti-árabe The Nation, que foi um “porta-voz” da causa sionista a alimentar a ignorância dos ingênuos americanos e ocidentais sobre os fatos sobre a Palestina e o Oriente Médio. As histórias de Kirchwey afirmavam falsamente que os palestinos eram os criadores do plano para exterminar os judeus da Europa, na “Solução Final” dos nazistas. Para justificar essa calúnia, ela apontou para o fato de que Hajj Amin Al-Husseini, o mufti de Jerusalém, que havia sido alvo do Mandato Britânico pró-judeu no final da década de 1930 e na Segunda Guerra Mundial, havia se encontrado com a liderança nazista. É claro que Hajj Amin se encontraria com os líderes nazistas no início da guerra porque a Alemanha era o único país que se opunha a transformar a Palestina em uma “casa para o povo judeu”; por que ele não deveria?
A mídia noticiosa ocidental era dominada em todos os níveis por inimigos anti-árabes como Kirchwey, que tomava liberdades extremas em distorcer a verdade. Não havia árabes trabalhando na mídia americana na época para combater essas mentiras.
Em 1958, as autoridades israelenses recrutaram um proeminente e brilhante estrategista de relações públicas judaico-americano, Edward Gottlieb, para criar uma falsa narrativa que se sobreporia à verdade nas mentes dos americanos e do resto do mundo de língua inglesa. Gottlieb recrutou o escritor sionista judeu Leon Uris para escrever o romance Êxodo, que vendeu mais cópias do que o épico de então, E o Vento Levou. Êxodo colocou os palestinos como simpatizantes do nazismo buscando assassinar refugiados judeus, especialmente crianças, vítimas do sanguinário Mundo Árabe, não cristão. O livro rapidamente se tornou um blockbuster e filme vencedor do Oscar, estrelado pelo ator judeu-americano Paul Newman, o que exacerbou o ódio anti-arábe e reforçou o papel de Hollywood como uma grande saída para a propaganda anti-árabe e anti-palestina. Como Neal Gabler explica em seu livro, “os judeus inventaram Hollywood”.
Uma vez que Israel dominou a mídia e a indústria de entretenimento de Hollywood – e me confunde o fato de que o mundo árabe permita que continue assim – a propaganda serviu de base para propagandas ainda maiores contra o povo palestino e sua causa. A mais recente é o mentira israelense de que os judeus foram forçados a fugir de suas casas em terras árabes quando Israel foi criado na Palestina. Isto é usado como um meio de desvalorizar e difamar as reivindicações dos refugiados palestinos.
Mais de 750.000 civis palestinos, cristãos e muçulmanos, foram forçados a fugir de suas casas em 400 aldeias e cidades dentro da área da Palestina ocupada por Israel após sua conquista militar em 1947 e 1948. Isso tem sido chamado de “limpeza étnica” por historiadores israelenses, notavelmente o professor Ilan Pappé.
Embora Israel tenha usado a cobertura do Plano de Partilha da ONU de novembro de 1947, as forças israelenses, armadas pela Grã-Bretanha, EUA e outros países ocidentais, expulsaram à força os palestinos com o objetivo claro de tornar Israel livre de não-judeus o máximo possível. Cristãos e muçulmanos foram expulsos a mão armada ou assassinados por gangues terroristas judaicas como a Gangue Stern, o Irgun, a Haganah e o Palmach.
No caso de judeus de países árabes, é verdade que muitos deixaram suas casas e propriedades, mas não o fizeram por causa da perseguição pelos países árabes onde nasceram. Eles partiram atendendo aos pedidos de fanáticos sionistas que procuravam aumentar a população judaica do estado nascente de Israel. Vários grupos, incluindo o Congresso Judaico Mundial e a Agência Judaica, ofereceram dinheiro e outros benefícios a qualquer pessoa ou família judaica que deixasse suas terras para migrar para Israel. Eles fizeram a mesma coisa durante o mandato britânico antes da criação do auto-declarado “Estado judeu” em 14 de maio de 1948.
Israel não apenas mente; também atua a partir de suas mentiras. Usando essa afirmação falsa, que é também a política oficial do “Estado Judeu” – de que mais de 850.000 judeus foram forçados pelos árabes a fugir de suas casas e propriedades em pelo menos sete países árabes – organizações israelenses e judias agora estão tentando impetrar ações de indenização de US $ 250 bilhões por perda de propriedade.
O processo não é sobre compensação; tem outro propósito. Pretende-se contrapor ao caso legal de que Israel cometeu crimes de guerra e violações de direitos humanos contra palestinos que foram obrigados a fugir de suas casas, propriedades e terras sob a mira armada em 1947-48 e novamente em 1967. Faz parte de um artifício israelense para solapar as reivindicações palestinas de que Israel e seus assentamentos judeus são o verdadeiro obstáculo para alcançar a paz.
Há um teste decisivo para esta última mentira. Enquanto Israel se recusa a permitir que palestinos cristãos e muçulmanos retornem às suas antigas casas e terras – o Direito de Retorno consagrado na lei internacional – os líderes de muitos países árabes ao longo dos anos têm incitado os judeus que fugiram de suas casas, a pedido dos fanáticos israelenses. Para retornarem às terras de seus antepassados, incluindo o Iraque. Até mesmo o Hamas abraçou essa ideia.
Então, quem está dizendo a verdade e quem é o mais sincero? Um estado que limpou etnicamente a população indígena como uma questão de política deliberada (e continua a fazê-lo), e se recusa a permitir que os refugiados e seus descendentes retornem, como é seu direito legítimo? Ou estados que receberiam de volta, de braços abertos, judeus que foram seduzidos a partir para Israel por incentivos financeiros e outros? Realmente não há comparação. Israel comandou a Grande Mentira e parece pronto a seguir esse caminho, mais uma vez. Realmente não há fim para suas mentiras, uma vez que procura encobrir com elas suas atrocidades contra o povo da Palestina.
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