Nesta quarta-feira (17), movimentos armados no Sudão revelaram terem certas dúvidas quanto à declaração política assinada entre o Conselho Militar e as Forças pela Declaração de Liberdade e Mudança – aliança de oposição. Segundo eles, a declaração não é o suficiente para amparar as reivindicações da população, a fim de alcançar uma paz abrangente no país.
“De fato, agradecemos os motivos por trás daqueles que assinaram o acordo. No entanto, as partes envolvidas não representam a totalidade das Forças por Liberdade e Mudança. O acordo ignora questões fundamentais ainda discutidas em Addis Ababa sobre as quais temos feito progresso,” afirmou Malek Akar, líder do Movimento de Libertação Popular do Sudão-Norte.
“Há em andamento um diálogo detalhado entre os líderes ativos das Forças por Liberdade e Mudança e da Frente Revolucionária do Sudão,” afirmou Akar em declaração divulgada pela Agência Anadolu.
Ele prosseguiu: “O acordo afetou negativamente este diálogo e, no que se refere à paz, não vai além das relações públicas.”
“Nós representamos as Forças por Liberdade e Mudança, e este acordo nos levará a posições diferentes… Estamos estudando, com nossos camaradas da Frente Revolucionária, uma posição a ser anunciada ainda hoje,” acrescentou Akar.
Gibril Ibrahim, chefe do Movimento Igualdade e Justiça, afirmou em sua conta no Twitter: “a assinatura de um acordo político entre o Conselho Militar de Transição e partes das Forças por Liberdade e Mudança ignora os diálogos vigentes em Addis Ababa.”
“A Frente Revolucionária do Sudão não faz parte deste acordo,” reiterou Ibrahim.
Addis Ababa é capital da Etiópia, onde ocorrem diálogos entre a Frente Revolucionária do Sudão e as Forças por Liberdade e Mudança, com o intuito de conciliar seus motivos a fim de alcançar a paz nas áreas em conflito.
Desde 2003, a região de Darfur sofre com confrontos entre o governo sudanês e movimentos rebeldes. Mais de 300.000 pessoas foram mortas nesse período e cerca de 2.5 milhões de pessoas sofreram deslocamento – do total estimado então de 7 milhões de habitantes –, segundo a Organização das Nações Unidas.
Desde junho de 2011, o Movimento de Libertação Popular do Sudão-Norte executa uma insurgência armada nas províncias de Cordofão do Sul (ao sul do país) e Nilo Azul (sudeste), afetando 1.2 milhões de pessoas, conforme estatísticas das Nações Unidas.
Na manhã de quarta-feira, as partes sudanesas assinaram suas iniciais em um documento de Acordo para o Estágio de Transição, firmado entre o Conselho Militar e as Forças por Liberdade e Mudança, na capital Cartum, após adiamento de três dias e maiores negociações desde a noite de terça-feira.
O acordo prevê a formação de um conselho soberano constituído por onze membros, dos quais cinco oficiais militares escolhidos pelo conselho militar no poder, cinco civis escolhidos pela coalizão de oposição, além de uma personalidade civil determinada em consenso por ambas as partes.
Um membro militar deverá presidir o Conselho de Soberania por 21 meses a partir da data de assinatura do acordo, seguido pela presidência de um membro civil para os 18 meses restantes do período transicional – do total de 39 meses.
O Conselho Militar está no poder desde que a liderança armada depôs o presidente Omar Al-Bashir (1989-2019), em 11 de abril deste ano, sob pressão de protestos espalhados por todo o país. As manifestações se iniciaram no fim de 2018, a princípio, para denunciar as condições degradantes da economia do Sudão.