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Sauditas e Emirados Árabes Unidos abandonam crise no Iêmen para sabotar o movimento pró-democracia do Sudão

Prédios danificados fpelos ataques aéreos da coalizão militar liderada pelos sauditas em Sanaa, Iêmen. Em 16 de maio de 2019 [Agência Mohammed Hamoud / Anadolu]

Sem-vergonha é a única expressão que posso encontrar para descrever o comportamento dos governantes da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos que há cinco meses se deleitaram com a glória, vangloriando-se por prometerem mais de um bilhão de dólares na maior doação de todos os tempos. a um apelo de caridade das Nações Unidas.

A soma maciça foi destinada a ajudar a aliviar o sofrimento das crianças no desastre humanitário que é hoje o Iêmen (criado em grande parte pelos sauditas e emirados, alguns argumentam), mas agora nos dizem que os EAU pagaram apenas 195 milhões de dólares enquanto o Reino lançou mais modestos 121,7 milhões de dólares. Embora eu entenda que pode demorar um pouco para se levantar quantias enormes de dinheiro para a ajuda humanitária tão necessária, os dois países têm bolsos profundos e muitos recursos. E, talvez, um sentido de prioridade muito diferente.

Por exemplo, não demorou muito para que eles encontrassem 500 milhões de dólares para depositar no banco central do Sudão imediatamente após a destituição do presidente Omar Al-Bashir em abril, enquanto prometiam outros 2,5 bilhões na forma de alimentos, remédios e produtos petrolíferos. A posse de um regime militar em Cartum teve uma urgência muito maior do que colocar pão na boca de crianças famintas no Iêmen.

Junto com o vizinho Egito, os EAU e a Arábia Saudita desprezam tanto a democracia que prometeram todo tipo de apoio à junta militar de Cartum em sua luta contra o movimento popular do Sudão. O trio já assumiu uma postura semelhante ao se intrometer nos assuntos da Líbia, ajudando a mergulhar o país em queda livre. Agora, os jovens ativistas pró-democracia do Sudão suspeitam que os regimes em Riad, Abu Dhabi e Cairo tenham participado do massacre do mês passado em frente à sede do Exército em Cartum, quando mais de 100 pessoas foram mortas e outras 500 ficaram feridas.

Enquanto isso, a guerra do Iêmen continua, assim como o sofrimento de milhões de homens, mulheres e crianças inocentes. Em fevereiro, a ONU pediu 4,2 bilhões de dólares para ajudar os 15 milhões de iemenitas que estão em extrema necessidade. Apesar das várias reuniões entre oficiais das agências humanitárias e líderes da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos – incluindo reuniões face a face com Mark Lowcock, chefe de auxílio humanitário da ONU –, o dinheiro não foi disponibilizado.

Perdendo a paciência, Lowcock disse ao Conselho de Segurança da ONU na quinta-feira que: “Aqueles que fizeram as maiores promessas – vizinhos do Iêmen na coalizão – pagaram apenas uma proporção modesta do que prometeram”; Apenas 34 por cento foi financiado, em comparação com 60 por cento neste período do ano passado.

Claramente irritado, segundo a agência Reuters, o embaixador da Arábia Saudita na ONU, Abdallah Al-Mouallimi, disse que seu país já pagou mais de US$ 400 milhões para a ONU e outras organizações de ajuda em 2019. “Este ano estamos sozinhos … pagamos mais dinheiro ao Iêmen do que qualquer um dos doadores no mundo”, disse Al-Mouallimi a repórteres. Isso pode ser verdade, Sr. Embaixador, mas seu país ainda deve à ONU mais de meio bilhão de dólares que os trabalhadores humanitários têm orçado com base em sua promessa, e estão contando com isso.

Pântano saudita no Iêmen – Cartoon [Carlos Latuff / Monitor do Oriente Médio]

O fato é que Riad prometeu 750 milhões de dólares em fevereiro e já deveria tê-los entregue por completo. Você não pode dizer a uma criança faminta que espere pacientemente por mais alguns meses, ou que um paciente gravemente doente aguente firme até que a ajuda médica seja entregue. Sua necessidade é desesperada e imediata.

No entanto, houve mais palavras vazias dos Emirados Árabes Unidos, cujo porta-voz da ONU garantiu aos jornalistas que Abu Dhabi está “trabalhando atualmente com a ONU nas modalidades do compromisso de 2019 para garantir o máximo de benefícios para o povo iemenita” e que desde abril de 2015, os Emirados Árabes Unidos doaram 5,5 bilhões em ajuda ao Iêmen.

Apesar de tais alegações, o Programa Mundial de Alimentos (PMA) revelou no mês passado que foi forçado a introduzir uma suspensão parcial da ajuda no Iêmen, citando a incapacidade de chegar a um acordo com os Houthis sobre a implementação de controles para impedir o desvio de alimentos para longe das pessoas vulneráveis. A decisão afeta 850 mil pessoas na capital Sanaa.

Segundo a ONU, a situação no Iêmen – onde a guerra de quatro anos matou dezenas de milhares de pessoas e deixou milhões à beira da fome – é a pior crise humanitária do mundo. Mesmo seus aliados próximos, os EUA, parecem estar perdendo a paciência com Riad e Abu Dhabi. “Nós nos juntamos ao chamado hoje para que todos os doadores aumentem a assistência no Iêmen e cumpram seus compromissos financeiros”, disse o diplomata norte-americano Rodney Hunter ao Conselho de Segurança da ONU.

No entanto, embora os EUA tenham pago mais de 288,7 milhões de dólares para atender ao apelo da ONU no Iêmen, tornando-se o maior doador para 2019 até agora, Washington não tem motivos para se sentir presunçoso. Isso é uma gota no oceano em comparação com os enormes lucros obtidos por Washington ao continuar vendendo bilhões de dólares em armas e equipamento militar para a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos manterem sua guerra no Iêmen, que está alimentando o desastre humanitário.

No conforto de suas casas, os governantes árabes do Golfo poderiam considerar o seguinte: enquanto suas promessas não são pagas, a economia do Iêmen mantém-se quebrada e as pessoas morrem de fome, incluindo crianças e bebês. Elas são as vítimas que estão pagando o custo real da guerra da coalizão liderada pela Arábia Saudita contra os rebeldes Houthi.

Quando se trata de dar caridade para salvar crianças famintas, alguns dos reis e xeques do Golfo são aparentemente capazes de colocar as doações em segundo plano, a fim de promover a guerra e sabotar os movimentos pró-democracia na região. Que eles possam fazê-lo com o apoio aberto dos governos do Ocidente, que pregam a democracia e os valores compartilhados, é algo que deveríamos, francamente, não permitir que acontecesse. A situação é verdadeiramente sem-vergonha.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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