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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Judeus estão sendo usados como escudos humanos na guerra retórica sobre antissemitismo

Manifestação em apoio à parlamentar dos EUA, Ilhan Omar ,na 7th Avenue perto da Times Square em Nova York, EUA. Em 20 de maio de 2019 [Atılgan Özdil / Agência Anadolu]

O presidente dos EUA, Donald Trump, recentemente provocou indignação ao fazer um ataque racista às corajosas mulheres do Congresso americano, Alexandria Ocasio-Cortez, Ilhan Omar, Ayanna Pressley e Rashida Tlaib, pedindo basicamente que elas voltassem “para casa”. Muitos viram sua explosão contra mulheres não brancas como uma descida ao nivel dos supremacistas, enquanto a outros pareceu uma mistura de intolerância e misoginia dirigida às novas mulheres do bloco para produzir manchetes políticas e reações em Washington hoje.

“É tão interessante ver mulheres parlamentares democratas ‘progressistas’, que vieram originalmente de países cujos governos são uma catástrofe total e completa, os piores, mais corruptos e ineptos em qualquer lugar do mundo (quando têm um governo funcionando), agora falando alto […] e dizendo cruelmente ao povo dos Estados Unidos, a maior e mais poderosa nação do mundo, como nosso governo deve ser administrado ”, escreveu Trump no Twitter. “Por que elas não voltam e ajudam a consertar os lugares totalmente quebrados e infestados de crime de onde vieram …?”

Apesar da caracterização que faz do quarteto, três delas são na verdade nascidas nos Estados Unidos. Omar é uma refugiada somali que se mudou para os EUA no início dos anos 90, tornando-se cidadã americana em 2000, quando completou 17 anos.

“The Squad” – o substantivo coletivo usado em Washington para descrever as quatro políticas – originalmente atraiu a ira de Trump por causa de sua postura determinada e baseada em princípios sobre a Palestina. Em tweets mais recentes, cheios de bílis, o presidente também fez referência à posição crítica delas em relação a Israel: “Quando as congressistas da Esquerda Radical pedirão desculpas ao nosso país, ao povo de Israel e até ao Gabinete do Presidente, pela linguagem suja que elas têm usado, e as coisas terríveis que elas disseram.? Tantas pessoas estão com raiva delas e suas ações horríveis e repugnantes! ”

Como acontece após a maioria de seus tweets – e como é, sem dúvida, a intenção – uma avalanche de abusos vindas de seus apoiadores encheu as redes sociais. A maioria acusa o pelotão de antissemitismo, mas os ataques de Trump às quatro representantes eleitas não têm nada a ver com ódio aos judeus e tudo a ver com o seu apoio incondicional ao estado de Israel. No entanto, ele parece mais do que feliz em retroceder enquanto seus partidários usam os judeus como escudos humanos para atacar as mulheres do Congresso, todas elas co-patrocinadoras do HR 2407, um projeto de lei que pede a suspensão da ajuda militar norte-americana aos sionistas. o fim do abuso do estado e da tortura de crianças palestinas detidas em prisões militares de Israel.

Acredita-se que a estratégia de “escudo humano” de Trump tenha sido copiada da Grã-Bretanha, onde foi implementada com sucesso contra o líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn. Políticos conservadores, incluindo o novo primeiro-ministro Boris Johnson, bem como os conservadores de base, encobriram-se em uma espécie de filo-semitismo para atacar Corbyn, acusando-o de antissemitismo. Líderes sionistas dentro do Partido Trabalhista, incluindo parlamentares judeus, abraçaram a mesma estratégia, mesmo que isso significasse que alguns partidários judeus trabalhistas de esquerda fossem atingidos no fogo cruzado.

Infelizmente, isso significa que um antissemitismo muito real está sendo insuflado por pessoas de qualquer religião como tentativa de confundi-lo com o antissionismo e as críticas ao governo de direita de Israel. O resultado líquido é que qualquer crítica a Israel é agora condenada pelo lobby anti-Palestina como “antissemita”. Com a estratégia de “escudo humano” sendo lançada em ambos os lados do Atlântico, há aqueles, especialmente políticos, que acham cada vez mais difícil desafiar o deplorável histórico de direitos humanos de Israel e seu tratamento injusto aos palestinos.

Agora temos a ridícula situação em que os gentios de direita acusam os judeus de esquerda de serem antissemitas. Além disso, as disputas internas entre diferentes grupos judaicos estão espalhando confusão e dissenso que, por sua vez, lubrificaas rodas do antissemitismo real.

Sem nunca perder uma oportunidade para atingir Corbyn, a BBC TV transmitiu recentemente o programa Panorama com a pergunta: “O (Partido do) Trabalho é antissemita?” Os jornais britânicos andaram cheios de manchetes dramáticas, argumentando que o supostamente emblemático programa de atualidades iria mostrar como o partido tornou-se antissemita sob o líder pró-Palestina, Corbyn.

O líder do Partido Trabalhista Jeremy Corbyn em Londres, Reino Unido, em 15 de março de 2019 [Tayfun Salcı / Agência Anadolu]

Escrevendo no Guardian após a transmissão do Panorama, a deputada trabalhista Dame Margaret Hodge disse: “Eu não vou me afastar da luta para erradicar o antissemitismo no partido. Mas o líder continua se recusando.” Ela usou um palavrão para descrever o líder de seu próprio partido há um ano.

De fato, o programa expôs o lobby pró-Israel e anti-Palestina como estando por trás da “crise do antissemitismo trabalhista” desde a eleição de Corbyn em 2015. Assim, ficou claro que a BBC e alguns dos entrevistados do apresentador John Ware – nenhum deles amigo dos palestinos – ficaram mais do que felizes em usar os judeus como escudos humanos no ataque a Corbyn.

Uma dessas pessoas trabalhou para a parlamentar Joan Ryan, ex-presidente do grupo de lobby financiado pela Embaixada de Israel, o Labor Friends of Israel. Ryan, que deixou o partido no início do ano citando seu “antissemitismo”, será lembrada por sua própria aparição em outro documentário produzido pela Al Jazeera, quando ela foi exposta fabricando um suposto “antissemitismo” na conferência do Partido Trabalhista em 2016.

Como resultado da alegação de Ryan, Jean Fitzpatrick foi denunciado por ser “antissemita”. Foi coincidência que Fitzpatrick fosse membro da Campanha de Solidariedade da Palestina e um conhecido partidário de Corbyn? Apesar de por acaso ter sido inocentado de ser um antissemita, a experiência foi traumática e deixou-lhe um gosto amargo.

Mais cedo, neste ano, um grupo de parlamentares do Partido Trabalhista desligou-se da legenda ao acusá-la de complacência com o antissemitismo, e de ser incapaz de lidar com o problema como uma das razões para sua desfiliação. Entre os parlamentares estava Ryan, que não é judia, e Luciana Berger, que é. Em seu discurso de desfiliação, Ryan sugeriu que a “enorme vergonha” do antissemitismo não existia até Jeremy Corbyn se tornar o líder do partido. Isso simplesmente não é verdade, como reiterou recentemente o eminente acadêmico, historiador e analista político judeu Geoffrey Alderman. O racismo anti-judaico, escreveu Alderman, existe no Partido Trabalhista desde sua criação em 1900. O professor também lembrou seus leitores de que isso não é uma característica isolada do Partido Trabalhista, mas também de outros partidos.

Alderman, que descreve a si mesmo como um “sionista orgulhoso”, defendeu o “histórico impressionante” de Corbyn no apoio às iniciativas das comunidades judaicas. Isso inclui, por exemplo, apoiar os esforços da comunidade para agilizar a emissão de registros de óbito pelo instituto médico-legal de North London. Além disso, em 2015, Corbyn participou de uma cerimônia em Islington, seu distrito eleitoral, para comemorar a fundação da Sinagoga de North London. Em 2010, Corby concedeu sua assinatura a uma moção posta em consideração por sua secretária do gabinete paralelo, Diane Abbott, que propunha ao governo facilitar o assentamento de judeus iemenitas na Grã-Bretanha.

Um dos maiores exemplos do filossemitismo de Corbyn data de 1987, quando a Sinagoga de West London levou uma proposta ao Conselho de Islington para vender um cemitério a incorporadores imobiliários. “Este cemitério (datado de 1840) não possuía somente um grande interesse histórico e arquitetônico – para os judeus ortodoxos, a destruição deliberada de um cemitério é sacrilégio,” explicou o professor Alderman. “Então, quando o Conselho de Islington aprovou o requerimento do plano, uma campanha liderada pela comunidade judaica e por fim bem-sucedida foi lançada a fim de reverter a decisão. Fui parte desta campanha, assim como Jeremy Corbyn. Enquanto isso, o então líder do Conselho de Islington (1982-92), cuja decisão de aprovar a destruição do cemitério foi eventualmente revogada, era ninguém menos que Margaret Hodge.”

Nos Estados Unidos, não obstante, os ataques de Donald Trump sobre o grupo de parlamentares conhecido como The Squad (O Esquadrão) aparentemente saiu pela culatra quando líderes da Alemanha, Grã-Bretanha e outros países do mundo criticaram duramente as injúrias racistas do presidente americano. Entretanto, isso não impediu que um grupo fundamentalista evangélico, autodenominado de Proclamando Justiça às Nações, lançasse sua própria campanha para defender Donald Trump.

O grupo evangélico acusou a Liga Antidifamação (ADL, em inglês), conhecida ONG judaico-americana, de cumplicidade com antissemitas após a ADL criticar o racismo de Trump. Os evangélicos até mesmo tiveram a cara de pau de utilizar a frase hebraica depreciativa IaShon hara (literalmente, “língua má”, referindo-se à blasfêmia, calúnia ou difamação) contra a organização sionista de direitos civis.

Na realidade, Trump é provavelmente uma das principais causas do antissemitismo à medida que outros grupos de extrema-direita na Grã-Bretanha e em toda a Europa também são coniventes. Trump provocou judeus americanos com jargões antissemitas em inúmeros discursos, por exemplo, ao referir-se a Israel como “seu país” e a Netanyahu como “seu primeiro-ministro”. Para ele, é provável que os judeus americanos, assim como as corajosas parlamentares americanas do Esquadrão, não pertençam completamente aos Estados Unidos da América.

O antissemitismo é abundante e deve ser enfrentado sempre que exibir sua face hedionda. É por isso que é alarmante observá-lo em evidência naqueles que possuem altíssimos cargos governamentais em muitos países hoje, com a onda do populismo de direita. É ainda mais alarmante dado que tais antissemitas de extrema-direita costumam ser celebrados pelo Primeiro-Ministro de Israel Benjamin Netanyahu. No entanto, é bastante claro que, enquanto Israel mantiver seu apoio incondicional, sua ocupação militar brutal e suas violações aos direitos humanos do povo palestino, o povo judeu continuará a ser utilizado como escudo humano para atacar qualquer um que ouse criticar o estado sionista. Os verdadeiros antissemitas, no entanto, saem impunes.

 

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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