A importante pesquisa acadêmica de Nurit Pelet-Elhanan, dissidente israelense, intitulada “Palestine in Israeli School Books” (“A Palestina nos livros didáticos israelenses”), é uma leitura essencial para qualquer um que queira compreender alguns dos principais fatos sobre o estado e a sociedade israelense.
Por ser uma entidade colonial de assentamento, qualquer mudança verdadeira não pode surgir de dentro da sociedade israelense. Deve ser imposta de fora para dentro. Bastante semelhante aos brancos na África do Sul, judeus israelenses jamais desistirão voluntariamente de seus privilégios como colonos.
O apartheid sul-africano foi derrotado pelas massas da África do Sul (com apoio de alguns dissidentes brancos) e por seus líderes políticos, aliados a uma campanha global de solidariedade.
Da mesma forma, o apartheid israelense será derrotado pela luta do povo palestino. Esta luta tem o apoio de uma minoria de dissidentes israelenses e do movimento de solidariedade internacional – em particular, o movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS).
O livro de Peled-Elhanan concentrou-se no estudo de dezessete livros didáticos israelenses sobre história, geografia e estudos cívicos. Como podemos ver na entrevista acima, ela chegou a algumas conclusões bastante contundentes.
Quando ao menos mencionam a população palestina, os livros didáticos oficiais de Israel ensinam de fato um “discurso racista”, que integralmente varre a Palestina do mapa. Mapas presentes nos livros didáticos somente exibem “a Terra de Israel”, do rio ao mar.
A autora esclareceu que nenhum desses livros didáticos apresentou “qualquer aspecto cultural ou social positivo sobre a existência palestina: sequer literatura ou poesia, tampouco história ou agricultura, arte ou arquitetura, costumes ou tradições, nada ali é sequer mencionado.”
Nas raras referências aos palestinos, trata-se evidentemente de estereótipos e preconceitos absolutamente pejorativos: “todos [os livros] representam [os Palestinos] através de ícones racistas ou imagens classificatórias degradantes, como terroristas, refugiados e lavradores primitivos – os três ‘problemas’ que representam para Israel.”
A autora concluiu que os livros infantis israelenses “apresentam a cultura judaico-israelense como superior à cultura árabe-palestina, conceitos judaico-israelenses de progresso como superiores ao modo de vida árabe-palestino e comportamentos judaico-israelenses como verdadeiramente alinhados aos valores universais.”
Tudo isso contrapõe veementemente a história falaciosa e os estereótipos impostos sobre os livros infantis na Palestina. Os livros impressos pela Autoridade Palestina desde a década de 1990 são frequentemente demonizados por uma leitura antipalestina, na qual se supõe que representam as piores calúnias antissemitas sobre o povo judeu.
Em geral, essa narrativa é uma fabricação grosseira instigada por grupos de propaganda antipalestina, como o chamado “Palestinian Media Watch” (Observatório de Imprensa Palestina), liderado pelo colono israelense Itamar Marcus.
O livro de Peled-Elhanan derruba, de forma bastante abrangente, um segundo mito complementar de Israel: que os israelenses – em contraste com os desprezíveis palestinos – “ensinam a amar o próximo”, como disse Tzipi Livni, ex-chanceler israelense e criminosa de guerra.
Sete anos atrás, quando o livro de Peled-Elhanan foi publicado, ela alertou que, em contraste com as esperanças liberais por mudanças a partir de dentro da sociedade israelense, a situação “cada vez mais retrocedia” e que os livros didáticos então apresentados nas escolas israelenses não passavam muito de “manifestos militares”.
“Temos três gerações de estudantes que sequer conhecem onde estão as fronteiras,” entre a Cisjordânia e o resto da Palestina história, ela reitera na entrevista acima, filmada em 2011.
Sete anos após a publicação de seu livro, a situação apenas piorou progressivamente.
A degradação é evidente: em um vídeo viralizado nas redes sociais durante a última semana, jovens soldados israelenses executam e celebram enfaticamente a demolição de casas palestinas em Jerusalém Oriental. Estes mesmos soldados são um produto do sistema de ensino israelense.
Conforme a violenta opressão israelense de toda a população nativa palestina torna-se cada vez mais flagrante e escandalosa, em escala mundial, a opinião pública volta-se gradualmente contra Israel – mesmo entre eleitorados antes simpáticos ao estado sionista, como a base ativista do Partido Democrata nos Estados Unidos.
À medida que Israel perde o apoio internacional, torna-se fundamental que o estado de apartheid assuma uma posição de defesa e garanta que a próxima geração de colonos e soldados esteja imbuída da ideologia oficial do estado de Israel – isto é, o sionismo.
No último mês de junho, foi revelado que Israel passou a requerer que todos os estudantes de ensino médio – incluindo os estudantes palestinos, “cidadãos” de segunda classe de Israel – fossem aprovados em um curso online de propaganda promovido pelo governo, como prerrogativa para viagens internacionais.
Segundo o grupo palestino de direitos humanos Adalah, o curso “promove uma ideologia racista”, e realiza uma lavagem cerebral nos estudantes por meio do mito de que os palestinos são inerentemente selvagens e violentos.
De acordo com a entidade, em determinado momento do curso se questiona: “Como organizações palestinas utilizam as redes sociais digitais?”. A resposta considerada correta é “encorajando violência.”
“Outra questão pede aos estudantes que identifiquem as origens do antissemitismo moderno,” relata o Adalah. “A resposta correta, segundo o exame, é ‘organizações islâmicas’ e o movimento de BDS.”
Desta forma, Israel ensina o ódio a suas crianças: o ódio aos palestinos, aos muçulmanos, aos árabes em geral e a qualquer um que ouse apoiar ou ser solidário com o povo palestino contra a opressão israelense.
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