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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

É hora dos progressistas saírem de cima do muro sobre o BDS

Palestinos protestam em Gaza em apoio ao BDS, 23 de maio de 2019 [Mohammed Asad/Monitor do Oriente Médio]

O movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) progrediu bastante desde seu início, em 2005. Antes conhecido somente por um grupo relativamente pequeno de ativistas, o BDS agora ocupa manchetes dos principais veículos de mídia de todo o mundo. Um artigo de opinião, publicado ontem pelo New York Times, pergunta: “Alguém realmente leva o movimento de BDS a sério?”. A manchete responde a própria questão; é evidente que o editor do jornal leva o BDS a sério o suficiente para articular um artigo que o ataque.

O governo israelense e o Congresso dos Estados Unidos levam o movimento de BDS bastante a sério. Nos últimos quatro anos, Israel dedicou todo um ministério a enfrentá-lo. Além disso, somente na semana passada, o BDS foi objeto de um debate de grandes proporções realizado no Congresso americano. Já não se trata mais de um debate obscuro relegado a reuniões da esquerda e de ativistas solidários com a causa palestina.

Após fracassar em convencer ou adular legisladores o bastante para apoiar esforços similares, a AIPAC – Comitê de Assuntos Públicos Americano-Israelenses – pleiteou uma resolução que condenasse o BDS. A decisão foi aprovada na última semana; apenas 17 parlamentares votaram contra. Diferente das tentativas prévias, essa resolução não pretendia tornar o movimento ilegal, ou mesmo impor penalidades a seus ativistas e apoiadores. Alguns dos parlamentares adeptos da resolução, membros do Partido Democrata (apenas um Republicano votou contra), justificaram seu apoio baseados no fato de que ela não restringe o direito constitucional à liberdade de expressão de cidadãos americanos.

A resolução aprovada é uma condenação não-vinculativa – isto é, sem poder legal –, mas caracteriza o BDS “e todos os esforços para deslegitimar o estado de Israel” como uma forma de “prejudicar a possibilidade de uma solução negociada para o conflito israelo-palestino, ao exigir concessões de apenas uma parte e encorajar os palestinos a rejeitar negociações em favor da pressão internacional.”

A postura de “ambos os lados” aqui expressada é altamente falaciosa: a Palestina é ocupada por um empreendimento colonial de assentamentos que gerencia uma ditadura militar racista. Não se trata de dois “lados” iguais engajados em um “conflito” interminavelmente complexo. Trata-se de opressor contra oprimido.

Infelizmente, alguns dos parlamentares americanos da nova onda progressistas votaram para condenar o BDS. Entre eles, um dos membros do “Esquadrão”, composto por quatro mulheres cotidianamente demonizadas por Donald Trump, em ataques abertamente racistas. Ilhan Omar, Alexandria Ocasio-Cortez e Rashida Tlaib votaram contra a resolução; Ayanna Pressley votou a favor.

“Ao votar sim por essa resolução, busquei reafirmar ao meu eleitorado criado na fé judaica de Israel seu direito de existir,” alegou Pressley como justificativa. A pré-candidata democrata à presidência americana Tulsi Gabbard também votou pela resolução anti-BDS. Por que? “Porque apoio a solução de dois estados.” Curiosamente, Gabbard ganhou prestígio entre a esquerda por sua postura contundente contra as guerras intervencionistas dos Estados Unidos empreendidas em todo o mundo.

Nem Pressley ou Gabbard compreendem o fato de que o suposto “direito de Israel existir como um estado judeu” parte de uma conjectura puramente racista. Isso é fato. Na prática, representa o “direito” de Israel existir como um estado de apartheid, autorizado a expulsar os palestinos da Palestina histórica meramente por não serem judeus.

As duas parlamentares, no entanto, também declararam que continuarão a se opor a qualquer resolução que ameace ativistas do BDS com quaisquer medidas legais. Elas afirmar apoiar o direito de boicotar Israel com base na liberdade de expressão; contudo, não apoiam o ato concreto de boicotar um estado racista de apartheid. Essa postura contraditória não é boa o bastante.

Na Grã-Bretanha, há liberais e até alguns políticos de esquerda que assumem uma postura semelhante, mesmo quando alegam ser “pró-Palestina”. Estão em menor número do que nos Estados Unidos, embora de fato presentes.

Lançado formalmente por um pequeno comitê organizador em nome de uma ampla coalizão de grupos de indivíduos da sociedade civil palestina, o movimento de BDS possui alguns objetivos claros: o fim da ocupação israelense; a luta pela igualdade para aqueles que vivem entre o Rio Jordão e o Mar Mediterrâneo e o cumprimento do direito legítimo de retorno a todos os refugiados palestinos.

Portanto, caso se oponha ao BDS, na realidade se opõe à luta por direitos iguais a todos. Torna-se adepto indireto de uma ditadura militar racista e violenta. Portanto, é hora dos autoproclamados progressistas saírem de cima do muro no que concerne o BDS e escolherem o lado em que estão: apoiam a justiça ou apoiam a opressão?

A ideia por trás do BDS é pura e simplesmente deixar de participar dos crimes de Israel: deixar de vender armas a Israel; deixar de auxiliar a economia israelense por meio da compra de seus produtos w deixar de promover a “marca Israel” por meio de concertos e eventos realizados no país. Isso é o mínimo que pode ser feito por pessoas razoáveis.

Dar fim à cumplicidade. É uma ideia simples; porém, poderosa. E demonstra eficiência, razão pela qual marqueteiros israelenses se preocupam tanto com o movimento de BDS. Igualmente, é a razão pela qual deve-se dar fim às meias-medidas e à retórica ambígua. É hora de apoiar o BDS integral e inequivocadamente.

Impotente Israel enfrenta o BDS – cartum [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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