O Presidente dos Estados Unidos Donald Trump está sob pressão de oficiais e especialistas que exigem maiores recursos do estado para combater o terrorismo cometido por supremacistas brancos e para reorganizar as prioridades de segurança nacional, concentradas desproporcionalmente na ameaça imposta por radicais islâmicos desde os atentados de 11 de setembro de 2001.
O ataque terrorista de 11 de setembro incitou uma das maiores respostas de segurança jamais vistas em tempos de paz. Trilhões de dólares pertencentes aos recursos públicos foram direcionados ao combate à ameaça imposta por muçulmanos adeptos de uma ideologia militante. Uma quantidade assombrosa de armas, contingente armado, veículos aéreos não tripulados, agências de inteligência e autoridades de vigilância doméstica foi recrutada para conter tal ameaça.
Além dos gastos militares e de segurança, houve também grandes custos sociais. As medidas adotadas para combater radicais islâmicos alienaram grandes porções da comunidade islâmica no país. Vistos frequentemente pela perspectiva de segurança, milhões de muçulmanos americanos sentiram-se absolutamente odiados por todo os Estados Unidos sempre que atos terroristas eram cometidos por outros muçulmanos. Especialistas em terrorismo descreveram essa tendência como uma “indústria doméstica” em plena atividade, desenvolvida desde o ataque ocorrido há quase duas décadas, sob o único propósito de demonizar a comunidade islâmica e mantê-la sob suspeita.
Apesar da ascensão dos supremacistas brancos – cujos atentados terroristas mataram mais vítimas do que qualquer radical islâmico desde o 11 de setembro –, os Estados Unidos continuam a empregar a quantidade assombrosa de recursos para combater somente os terroristas islâmicos. Alguns observadores receiam que o corpo político americano paralisou-se diante de sua própria capacidade para retomar seu equilíbrio. Eles argumentam que o Partido Republicano e a própria existência do movimento conservador depende de incitar o ódio aos muçulmanos, estrangeiros e bloquear qualquer tentativa de restringir o acessos às armas via parlamento – dessa forma, reequilibrar o sistema torna-se impossível. A base popular destes movimentos políticos abrange números significativos de nacionalistas brancos, que simplesmente virariam as costas ao partido caso este decidisse priorizar outras questões.
O ataque terrorista em El Paso, em 3 de agosto, e outro em Ohio, menos de 24 horas depois, levou setores dos Estados Unidos a refletirem sobre a obsessão americana pelo fundamentalismo islâmico, a fim de redirecionar uma parte dos recursos para combater o flagelo do nacionalismo branco na mesma proporção de seriedade. A disparidade “é razão de grande apreensão por parte de oficiais e especialista”, destacou o jornal The New York Times.
O periódico americano citou declarações de Lisa Monaco, conselheira de alto escalão sobre contraterrorismo para o governo de Barack Obama. Segunda ela, dado o surto de ataques relacionados à extrema-direita “é preciso priorizar nossos recursos e nos concentrarmos nessa ameaça.” Sob Trump, no entanto, ocorre o oposto; o jornal destaca as diversas medidas tomadas pelo presidente, como desmantelar um programa do Departamento de Segurança Nacional criado para reagir ao extremismo violento da extrema-direita na mesma proporção que ao fundamentalismo islâmico.
O principal obstáculo para reorganizar os recursos públicos e as prioridades de segurança nacional é a própria presidência de Trump, definida por políticas alinhadas com aspectos da agenda supremacista branca, assim como pela necessidade de seu apoio, à medida que tem de parecer defender sua causa. Este ponto foi observado pelo analista J.M. Berger em um artigo editorial publicado pelo Times sob o título “We have a white nationalist terrorist problem” (“Nós temos um problema de terrorismo nacionalista branco”). O especialista em extremismo online afirmou que “a tarefa de elaborar uma resposta à alt-right [outro nome para os nacionalistas brancos] é consideravelmente mais complexa e tem em seu caminho perigosas minas terrestres, principalmente como resultado da própria natureza política do movimento e sua proximidade ao poder.”
A resposta a radicais islâmicos filiados a grupos terroristas como o Daesh (Estado Islâmico) ou a Al-Qaeda não teve qualquer resistência das autoridades, empresas ou setores da população dos Estados Unidos. Empresas como o Facebook e o Twitter afirmam terem removido “dezenas de milhões de contas e peças de propaganda do Daesh ou da Al-Qaeda, entre 2014 e 2018”. Esforços similares não são empreendidos contra os nacionalistas brancos, devido ao custo político e à proximidade do movimento ao poder. Trump é amplamente considerado como responsável por normalizar muitas das questões defendidas pelos grupos de extrema-direita, por meio de sua retórica agressiva. Muitos americanos sentem que qualquer resolução para o problema do nacionalismo branco enfrentado no país não possa ser alcançada enquanto Trump for presidente; portanto, é preciso removê-lo do poder nas próximas eleições, em 2020.