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Drones fabricados em Israel são abatidos sobrevoando a Líbia

Drones israelenses [foto de arquivo]

Dois drones de fabricação israelense foram abatidos ao sobrevoar a Líbia, levantando questões sobre os indícios de que Israel esteja fornecendo armamentos a facções líbias distintas durante toda a guerra civil no país, que já dura oito anos.

Os dois drones – modelo tático Orbiter-3, fabricados pela companhia israelense Aeronautics Ltd. – foram abatidos em território líbio na semana passada, mas o caso foi divulgado somente ontem (7), pelo jornal The Jerusalem Post.

Um dos drones foi recuperado em Al-Aziziya, cerca de 40 quilômetros a sudoeste de Tripoli, capital da Líbia. O outro aparelho foi recuperado em Sidra, a leste de Sirte, no litoral do país.

O jornal israelense esclareceu que, “segundo os relatos, os dois drones eram parte de uma doação de três unidades feita pela Turquia ao Governo de União Nacional, reconhecido pela ONU, responsável por defender Tripoli das investidas do Exército Nacional Líbio, comandado pelo General Khalifa Haftar”.

Em maio, forças aliadas ao Governo de União Nacional alegaram ter recebido armas e veículos militares como parte de seus esforços para defender a capital dos ataques das forças de Haftar, executados cotidianamente desde abril deste ano.

Na época, fotografias e vídeos compartilhados pelas forças do governo em suas páginas do Facebook registraram dezenas de veículos armados supostamente fabricados na Turquia, desembarcados no porto da capital. A embaixada turca na Líbia não comentou as imagens.

A reportagem do Jerusalem Post também mencionou um tuíte de Mohamed Mansour, jornalista freelance para o Al-Mayadeen, no qual compartilhou um vídeo onde pode ser vista a ponta do drone abatido. Mansour explicou: “Estou surpreso que ninguém jamais destacou a presença de drones do tipo Orbiter-3 UAS, de fabricação israelense/azerbaijana, fornecidos ao Governo de União Nacional pela Turquia; dois deles foram abatidos pelas Exército Nacional Líbio, até agora! Este vídeo se refere ao segundo aparelho, abatido em Khelat Al-Fergan, ao sul de Tripoli.”

Israel vende armas ao Azerbaijão já há algum tempo. Em janeiro deste ano, a fábrica de armas israelense Elbit Systems concluiu uma venda de drones “kamikaze” ao país caucasiano, no primeiro acordo assinado deste tipo. Durante uma visita ao Azerbaijão, o Primeiro-Ministro de Israel Benjamin Netanyahu, realizada em dezembro de 2016, o presidente azerbaijano Ilham Aliyev revelou que “até então, os contratos entre companhias dos dois países referentes à compra de equipamentos de defesa estão fechados no valor de US$ 5 bilhões”.

A empresa Aeronautics Ltd. negou qualquer conhecimento sobre o incidente na Líbia. Yossi Melman, comentarista de inteligência para o jornal israelense Maariv, ainda ontem, compartilhou em sua conta no Twitter que fontes internas à empresa lhe afirmaram não ter vendido seus produtos à Líbia e que o Azerbaijão é possivelmente o responsável pelo repasse dos equipamentos de defesa.

Ainda não está claro quem foi o primeiro comprador dos produtos da Aeronautics Ltd., então transferidos para a Líbia. No entanto, considerando o embargo reiteradamente renovado pelo Conselho de Segurança da ONU sobre a venda de armas à Líbia desde o início da guerra civil, em 2011, a empresa pode estar diante de uma violação flagrante da lei internacional, por fornecer armas às forças do Governo de União Nacional.

Estes não são os primeiros relatos de envolvimento israelense na guerra civil líbia.

No verão de 2015, relatos apontavam o envio direto de apoio militar de Israel às forças de Haftar, supostamente executando ataques aéreos em Sirte, na tentativa de expulsar o Daesh (Estado Islâmico) – que dominava a cidade desde fevereiro daquele ano – da região.

Em 2018, outros relatos indicavam que Haftar tivesse comparecido a um “encontro prolongado” com um oficial de inteligência israelense em Amã, capital da Jordânia, para propor “maiores coordenações de segurança entre ele e Israel”. Uma fonte anônima próxima a Haftar explicou que o general “pediu às forças de segurança israelenses que intensificassem sua presença no sul da Líbia, a fim de barrar os interesses de França e Itália sobre a região”.

Haftar supostamente foi capaz de contactar Israel por meio do ex-espião israelense Air Ben-Menashe, infame como lobista e por seus contatos com líderes controversos, incluindo o Tenente-General Mohamed Hamdan Dagalo – conhecido também como Hemeti –, atualmente líder das Forças de Apoio Rápido do Sudão (RSF, em inglês), que opera junto ao Conselho Militar de Transição.

Israel está ao lado de outros apoiadores regionais das forças de Haftar, incluindo os Emirados Árabes Unidos (EAU), Egito, Arábia Saudita, Rússia e França, que forneceram apoio material e financeiro ao general.

O Governo de União Nacional, por outro lado, contactou a Turquia – também engajada nas tensões regionais –, em busca de apoio. Caso os drones israelenses encontrados estejam sob uso das forças do governo, opostas às milícias de Haftar, então essa descoberta pode revelar um novo fronte israelense na duradoura guerra civil no país.

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