Mais de 100 mil pessoas na Síria teriam sido detidas, seqüestradas ou desaparecidas desde o início da guerra civil de oito anos, segundo disse ontem a subsecretária-geral para os Assuntos Políticos, da Organização das Nações Unidas (ONU).
Rosemary DiCarlo fez a declaração durante uma sessão do Conselho de Segurança da ONU na qual pediu a todas as partes que atendessem ao apelo do órgão para libertar todos aqueles injustamente detidos, sem acusação, e para fornecer informações às famílias sobre seus entes queridos, como é exigido pela lei internacional.
Ela também informou ao conselho que o número de pessoas é pelo menos 100.000, era uma estimativa aproximada e que a ONU não conseguiu verificar o número exato por não ter tido acesso aos locais onde os detidos são mantidos na Síria. As informações e estatísticas provêm de relatos apoiados e confirmados pela Comissão de Inquérito sobre a Síria – autorizada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU (UNHRC) – e organizações de direitos humanos desde o início do conflito em 2011.
Presentes à reunião do conselho estavam indivíduos sírios e famílias que tiveram parentes sequestrados pelo regime, fornecendo ao corpo mais poderoso da ONU a chance de ouvir diretamente os afetados. Uma mulher síria chamada Amina Khoulani testemunhou que seus três irmãos foram levados pelo regime sírio oito anos atrás e morreram na prisão, seu marido foi detido por dois anos e meio e sobreviveu, e ela foi presa por seis meses.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas fracassou totalmente com os detidos sírios e suas famílias
Khoulani disse (dirigindo-se à ONU): “É sua responsabilidade proteger os sírios de um sistema que mata, tortura e detém ilegalmente seus próprios cidadãos, em violação sistemática do direito internacional”.
Em resposta aos testemunhos e à condenação da ONU às violações dos direitos humanos na Síria, o regime russo rejeitou o que chamou de “dados não checados e extremamente não objetivos sobre a situação na Síria”. O vice-embaixador de Moscou, Dmitry Polyansky, acrescentou que enquanto o regime sírio não tiver a chance de apresentar seus dados, os sírios que se opunham a ele e que ele chamava de “terroristas declarados” estavam “sendo apresentados como vítimas inocentes”.
Durante todo o conflito, e particularmente nos últimos meses, surgiram detalhes sobre a extensão dos sequestros, tratamento, más condições de prisão, estupro e tortura conduzidos pelo regime sírio contra civis inocentes. Em junho deste ano, a Rede de Direitos Humanos da Síria informou que mais de 14.000 civis na Síria foram torturados até a morte pelo regime de Assad e suas forças desde o início da guerra civil. Na semana passada, o Observatório Sírio para os Direitos Humanos revelou que, apenas no mês de julho, 598 pessoas sofreram detenções arbitrárias, a maioria nas mãos do regime sírio.