Sayah Al-Turi, chefe da aldeia beduína de Al-Araqeeb, não reconhecida pelo governo israelense, denunciou a tentativa de Israel para impor seu domínio militar na região do Negev, a fim de eliminar as questões relativas à aldeia.
Al-Turi, de 69 anos de idade, foi libertado há duas semanas da prisão de Ramla. Neste meio tempo, as autoridades israelenses avançaram cada vez mais nas demolições de residências, perseguições políticas, prisões e interrogatórios executados sistematicamente por órgãos públicos, como a chamada Autoridade de Desenvolvimento do Negev, a Unidade de Polícia Yoav e a Administração de Terras de Israel.
Al-Araqeeb foi demolida por autoridades israelense 149 vezes; a última, nesta segunda-feira (5). Al-Turi protesta há dias em frente à delegacia de polícia na cidade beduína de Rahat, onde instalou uma tenda para denunciar reiteradamente as práticas da Polícia de Israel em Al-Araqeeb, as perseguições diárias a seus filhos e a decisão de expulsá-lo de sua terra por quinze dias.
“Todo o mundo sabe que a decisão para me prender e então para me alienar de nossa aldeia Al-Araqeeb é ilegal,” Al-Turi relatou à rede de notícias Arab48. “A decisão foi imposta por uma juíza israelense cujo papel na sessão de audiência girou em torno do direcionamento da promotoria israelense para ajudá-la a alienar-me de minha própria aldeia.”
Al-Turi prosseguiu: “Esta juíza forneceu todos os meios possíveis em resposta aos pedidos da Unidade de Polícia Yoav, claramente racista, e chegou até mesmo a orientar os representantes da polícia sobre itens da lei israelense que poderiam lhes ser úteis como justificativa para suas alegações, a fim de alienar-me de Al-Araqeeb.”
“A lei serve ao fascismo e o que aconteceu é crime,” destacou o líder da aldeia.
Oficiais da polícia secreta de Israel conhecida como Unidade Yoav perseguem sistematicamente a população de Al-Araqeeb. Em suas campanhas recentes, a unidade se especializou em demolir residências sem o uso de tratores e dispersar manifestações contra tais demolições. Os oficiais da Unidade de Polícia Yoav destruíram as tendas dos habitantes de Al-Araqeeb pelo o uso de carros 4×4, rasgando-as com facas e expulsando a população do local.
Al-Turi relatou à Arab48 que recentemente “os oficiais da Unidade de Polícia Yoav nos surpreenderam com novos métodos. Eles arrastam nossas tendas e rasgam-nas com suas próprias mãos, sem o uso de tratores.”
“Eles invadem a aldeia de Al-Araqeeb diariamente. Durante tais incursões, roubaram todos os pertences de minha família, agrediram e ameaçaram crianças e até mesmo destruíram o memorial aos mártires do massacre de Al-Araqeeb de 1948.”
Al-Araqeeb também é alvo das cortes israelenses. Nesta semana, a Corte Central de Beersheba impôs uma multa de 1.6 milhões de shekels (US$ 460.000) aos habitantes da aldeia para cobrir o custo das 149 demolições executadas pelas forças da ocupação israelenses contra a aldeia.
Ao comentar sobre essa decisão, Al-Turi afirmou: “Parece que o governo de Israel sofre de algum déficit em seu orçamento, à medida que se prepara para as próximas eleições parlamentares e tenta poupar dinheiro ao nos penalizar, impondo-nos multas e executando assaltos a mão armada contra nós.”
“Todas as multas e crimes contra os residentes de Al-Araqeeb são parte de uma perseguição política ilegal. Esta prática racista é um dos métodos utilizados contra todo o povo árabe do Negev, a fim de expulsá-lo de suas terras. Al-Araqeeb não é a única aldeia vítima dessa perseguição,” acrescentou Al-Turi.
O líder palestino conclui: “Eu peço aos líderes árabes e a todos aqueles que acreditam na justiça nacional para que se apresentem e lutem contra os planos das autoridades [israelenses] e se oponham a Israel em relação a seus crimes contra a aldeia de Al-Araqeeb e todas as outras aldeias”.
“Temos nosso direito e não desistiremos dele, mas precisamos de apoio e da presença de todas as pessoas conscientes. Israel e suas instituições de demolições tentam hoje restaurar o domínio militar e dar fim a Al-Araqeeb, algo que não podemos aceitar.”