presidente, em Nova Iorque, Estados Unidos, 2 de março de 2019 [Atılgan Özdil/Agência Anadolu]
Bernie Sanders, senador americano e candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, voltou a afirmar que criticar o governo israelense não é algo antissemita.
Ao discursar em um encontro sediado por uma prefeitura do estado de New Hampshire, na costa leste dos Estados Unidos, Sanders declarou à audiência, “como alguém orgulhosamente judeu”, ser crítico ao governo de direita israelense do Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu “não é o mesmo que ser antissemita”.
O comentário de Sanders veio em resposta a uma pergunta de um membro do público que descreveu a si mesma como “decepcionada por políticos que representam apenas a voz judaica totalmente não-crítica a Israel” e pertencente a “uma geração que compreende que a oposição à ocupação [dos territórios palestinos] é um imperativo moral judaico”.
Ao perguntár-lhe diretamente “porque importa para o senhor o fim da ocupação?”, o senador pelo estado de Vermont respondeu:
“Tudo que tenho a dizer sobre esse assunto é que a política internacional americana deveria ser imparcial. Respeitamos Israel. Israel tem todo o direito do mundo de viver em paz e segurança, assim como todo o povo palestino.”
Sanders também utilizou a oportunidade para reforçar sua promessa prévia de reestruturar o uso dos recursos americanos concedidos a Israel a fim de pressionar o governo israelense a encerrar sua ocupação que já dura 52 anos. “Os Estados Unidos fornecem um monte de dinheiro a Israel,” afirmou Sanders, “Penso que devemos utilizar esse dinheiro para dar fim ao racismo que vemos em Israel”.
Em outubro de 2018, o maior pacote de ajuda militar dos EUA a Israel – no valor de 38 bilhões de dólares em um período de dez anos – entrou em vigor. O Memorando de Entendimento (MOU) foi inicialmente assinado entre os EUA e Israel em 2016 e fixou em 3,3 bilhões de dólares o Financiamento Militar Estrangeiro, com mais 500 milhões de dólares para “programas cooperativos de defesa antimísseis” a cada ano na próxima década.
Sob a presidância de Donald Trump nos EUA, esse alto nível de gastos foi fortemente protegido, apesar dos cortes orçamentários para outros setores, como proteção ambiental, Usaid, habitação e saúde. A proposta de orçamento para 2020, enviada pela Casa Branca ao Congresso, em março, incluiu a ajuda total de 3,3 bilhões de dólaresdescrita no MOU de 2016.
Os comentários de Sanders sobre o antissemitismo provavelmente serão vistos como uma intervenção oportuna em um debate intenso – tanto dentro dos EUA quanto em todo o mundo – sobre o que constitui o antissemitismo.
Na semana passada, o Departamento de Estado dos EUA revisou sua definição de antissemitismo para incluir “desenhar comparações da política israelense contemporânea com a dos nazistas”, aumentando o número de exemplos incluídos na definição que se relaciona diretamente com Israel.
Muitos desses exemplos espelham os da definição da International Holocaust Remembrance Alliance (IHRA), que tem sido amplamente adotada por organizações e partidos políticos.
A definição da IHRA, desde então, foi considerada imprópria, por alegações de que “nunca foi concebida para servir como uma definição oficial de antissemitismo”. Um dos criadores da definição, o advogado norte-americano Kenneth S Stern, criticou a maneira pela qual a definição da IHRA está sendo usada para restringir a liberdade acadêmica e punir a liberdade de expressão, particularmente quando se trata de eventos pró-Palestina e qualquer crítica a Israel.
O Ministro de Assuntos Estratégicos e Segurança Pública de Israel, Gilad Erdan, elogiou abertamente o papel da definição da IHRA na rotulação dos defensores do movimento anti-semita Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), limitando assim o espaço para o ativismo anti-ocupação.
“Cada vez mais países e instituições estão adotando as definições de antissemitismo da IHRA e do Departamento de Estado, que incorporam o clássico e o novo antissemitismo”, explicou Erdan, acrescentando que “a resolução inovadora do Bundestag [parlamento alemão] reconhecendo a natureza antissemita do BDS foi o passo mais importante até agora ”.