Colonos judeus israelenses estão em uma maré de sorte à medida que conquistam toda a Cisjordânia palestina ocupada. Embora a violência colonial seja parte da rotina diária na Palestina, a violência nas semanas recentes está relacionada diretamente às Eleições Gerais em Israel, marcadas para ocorrer em 17 de setembro.
A eleição anterior, apenas quatro meses atrás, em 9 de abril, não obteve êxito em atingir qualquer estabilidade política. Apesar de Benjamin Netanyahu ser hoje o Primeiro-Ministro de Israel há mais tempo no cargo, nos 71 anos de história do país, ainda assim não foi capaz de compor uma coalizão de governo.
Maculado por uma série de casos de corrupção envolvendo a si mesmo, sua família e seus assessores, a liderança de Netanyahu tornou-se inviável. Investigadores de polícia estão o encurralando, enquanto aliados políticos oportunistas – como Avigdor Lieberman – tentam lhe extorquir futuras concessões políticas.
A crise política em Israel não é resultado do ressurgimento de um Partido Trabalhista ou de partidos centristas revigorados, mas sim do fracasso da direita (incluindo a extrema-direita e os partidos ultranacionalistas) em articular qualquer agenda política unificada.
Os colonos israelenses ilegais compreendem muito bem que a futura identidade de qualquer coalizão governamental de direita terá um impacto duradouro sobre o seu empreendimento colonial. Os colonos, no entanto, não estão exatamente preocupados, pois todos os partidos políticos de destaque, incluindo a coalizão Azul e Branco (Kahol Lavan) – partido supostamente centrista de Benjamin Gantz – declararam seu apoio às colônias judaicas como parte fundamental de suas campanhas eleitorais.
O voto decisivo dos colonos judeus da Cisjordânia e de seus apoiadores dentro de Israel tornou-se bastante evidente nas últimas eleições. Seu poder forçou Gantz a adotar uma abordagem política absolutamente diferente.
O homem que, dois dias antes das eleições em abril, criticou o anúncio “irresponsável” de Netanyahu em relação às suas intenções de anexar a Cisjordânia, agora aparentemente tornou-se um grande apoiador dos assentamentos. Segundo o site de notícias israelense Arutz Sheva, Gantz promete continuar expandindo os assentamentos “a partir de um ponto de vista estratégico e não como estratégia política.”
Considerando a mudança na perspectiva de Gantz em relação aos assentamentos, Netanyahu não tem outra opção senão aumentar as apostas. Agora promete a anexação irreversível de toda a Cisjordânia.
Anexar o território palestino ocupado é, para Netanyahu, uma estratégia política sólida. O Primeiro-Ministro de Israel, evidentemente, ignora a lei internacional que se refere à presença militar e colonial de Israel como ilegal. Nem Netanyahu, tampouco qualquer outro líder israelense, entretanto, jamais se preocupou com a lei internacional. Tudo o que importa para Israel é o apoio de Washington, cego e incondicional.
Segundo o jornal Times of Israel, Netanyahu agora oficialmente pleiteia uma declaração pública do Presidente dos Estados Unidos Donald Trump em apoio à anexação israelense da Cisjordânia. Apesar da Casa Branca se recusar reiteradamente a comentar sobre o assunto, e um oficial do gabinete de Netanyahu ter alegado os rumores como “incorretos”, a direita israelense apressa-se para possibilitar o movimento de anexação.
Encorajados pelo comentário do embaixador americano David Friedman de que “Israel possui o direito de reter alguma parte da Cisjordânia”, cada vez mais oficiais israelenses falam abertamente sobre suas intenções de anexar o território ocupado. Netanyahu de fato sugeriu essa possibilidade em agosto, ao visitar o assentamento ilegal de Beit El. “Viemos para construir. Nossas mãos se estenderão e iremos aprofundar nossas raízes em nossa pátria, em todas as partes dela,” afirmou Netanyahu em uma cerimônia de comemoração da expansão dos assentamentos ilegais em mais 650 unidades residenciais.
Diferentemente de Netanyahu, a ex-Ministra da Justiça de Israel e líder da recém-formada Direita Unida, Ayelet Shaked, foi bastante direta. Em uma entrevista concedida ao jornal The Jerusalem Post, clamou pela anexação plena da chamada Área C, que constitui quase sessenta por cento da Cisjordânia. “Temos de aplicar soberania a Judéia e Samaria,” insistiu Shaked, ao utilizar a terminologia bíblica para descrever as terras palestinas, como se isso fortalecesse seus argumentos.
Gilad Erdan – Ministro de Informação, Assuntos Estratégicos e Segurança Pública –, entretanto, deseja ir ainda além. Segundo o Arutz Sheva e o Jerusalem Post, Erdan não somente exigiu a anexação de todos os assentamentos ilegais na Cisjordânia como também quer depor Mahmoud Abbas, Presidente da Autoridade Palestina.
Agora situados no centro da política israelense, os colonos judeus desfrutam do espetáculo de serem cortejados por todos os partidos políticos majoritários. Sua violência crescente contra os palestinos nativos na Cisjordânia é uma forma de demonstração de força política, uma expressão de dominância e uma amostra bruta das prioridades políticas nacionais.
“Há somente uma bandeira da Jordânia ao mar, a bandeira de Israel,” foi o slogan de um comício com mais de 1.200 colonos judeus que tomaram as ruas da cidade palestina de Hebron (Al-Khalil), em 14 de agosto. Os colonos, escoltados por soldados israelenses, invadiram a Rua Al-Shuhada e agrediram residentes palestinos e ativistas internacionais na cidade ocupada.
Apenas alguns dias antes, cerca de 1.700 colonos judeus, escoltados pela Polícia de Israel, invadiram o complexo da Mesquita de Al-Aqsa no território ocupado de Jerusalém Oriental. Segundo o Crescente Vermelho na Palestina – equivalente à Cruz Vermelha para os territórios islâmicos – mais de sessenta palestinos foram feridos quando forças e colonos atacaram fiéis muçulmanos. A violência se repetiu na província de Nablus, onde colonas armadas invadiram a cidade de Al-Masoudiya e conduziram um “treinamento militar” sob proteção do exército da ocupação israelense. A mensagem dos colonos é clara: agora cantamos de galo, não apenas na Cisjordânia, mas também em toda a política de Israel.
Contudo, a que custo? Tudo isso ocorre como se fosse um assunto exclusivo da política israelense. A Autoridade Palestina, agora totalmente excluída de todos os cálculos políticos conduzidos pelos Estados Unidos, está reduzida somente a comunicados de imprensa irrelevantes e ocasionais sobre suas intenções de responsabilizar Israel conforme as leis internacionais.
Além disso, os guardiões da lei internacional também estão ausentes, de modo bastante suspeito. Nem as Nações Unidas, tampouco os defensores da democracia e do direito internacional na União Europeia, parecem estar interessados em enfrentar a intransigência israelense e as flagrantes violações de direitos humanos.
À medida que os colonos judeus ditam a agenda política de Israel, e constantemente assediam os palestinos nos territórios ocupados, a violência provavelmente aumentará de forma exponencial nos próximos meses. Como de costume, isso será utilizado estrategicamente pelo governo de Israel, dessa vez para preparar o palco para uma anexação completa e definitiva de toda a terra palestina. Isso seria desastroso, não importa o ponto de vista.
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