Na semana passada, a congressista americana Rashida Tlaib rejeito as condições da oferta de Israel para que visitasse sua avó na aldeia de Beit Ur Al-Fouqa, na Cisjordânia ocupada, pouco depois de Tlaib e sua companheira de Congresso Ilhan Omar serem proibidas de realizar uma visita diplomática.
Apesar de Israel afirmar ter autorizado a visita de Tlaib a sua avó Muftia, de 90 anos de idade, sob “bases humanitárias”, a Congressista do Estado do Michigan relatou que “não poderia permitir” que Israel a humilhasse e fizesse uso de seu amor por sua avó “para colocá-la de joelhos diante de políticas racistas e opressivas”.
A comunidade internacional no Twitter passou então a apoiar Tlaib ao compartilhar fotografias antigas e recentes da parlamentar americana e de suas avós palestinas junto à hashtag #MyPalestinianSitty, em homenagem a gerações de mulheres palestinas que viveram o trauma da Nakba em 1948 e o subsequente exílio de sua pátria.
Muitos usuários compartilharam histórias das privações sofridas por suas avós durante a Nakba, quando cerca de 750.000 palestinos foram expulsos à força de suas casas.
A artista e arquiteta palestina Dima Srouji compartilhou uma foto de sua avó “supermulher”, expulsa da aldeia de Ramleh, na região central da Palestina aos seis anos de idade, após seus irmãos serem presos pelas forças israelenses durante a Nakba.
#MyPalestinianSitty is a superwoman. She was forced to flee Ramleh at the age of 6 after her brothers were imprisoned by the Israeli forces during the Nakba. She lives in Beit Jala and raised 6 girls and a boy and has 20 grandkids. She misses the fresh fish. pic.twitter.com/GBMxergb4t
— Dima Srouji (@DimaSrouji) August 18, 2019
A avó de Miriam, usuária do Twitter, fugiu da aldeia de Saris, a oeste de Jerusalém, em 1948, quando foi invadida pela milícia sionista Hagana, organização paramilitar que posteriormente compôs a base do Exército de Israel. A família fugiu então para o campo de refugiados de Qalandiya, então de barco para o Líbano e Venezuela.
#MyPalestinianSitty & grandfather fled Saris 🇵🇸 in 48 when the Hagana Jewish forces raided their city. They fled to a refugee camp in Qalandiya and took a 60 day trip on boat from 🇱🇧 to 🇻🇪 to start their lives over. My family eventually moved Jordan. She died in 09. We never met. pic.twitter.com/RwTdnoOPGl
— miriam • مريم (@chemfoosha) August 18, 2019
Alguns usuários também refletiram sobre os sacrifícios impostos às suas avós para que pudessem ver seus filhos e netos bem-sucedidos.
Debbie Abdo Phelps, usuária do Twitter, contou a história de seus avós, expulsos da cidade portuária de Jaffa, refugiados na Jordânia. Ela também destacou os sacrifícios de sua avó para que o filho pudesse estudar em uma universidade nos Estados Unidos.
#MyPalestinianSitty #MyPalestinianSitty and Baba fled Jaffa during the war and were refugees who left everything behind and settled in Jordan. Raised 12 kids and 2 nieces. Sold her dishes to buy plane ticket for my dad to go to college in USA. pic.twitter.com/9flhsjwsl3
— Debbie Abdo Phelps (@phelpsd) August 19, 2019
Outros usuários se lembraram da Palestina antes da Nakba – a chamada catástrofe palestina, em 1948.
Hanan Ashrawi, membro do Comitê Executivo da Organização pela Libertação da Palestina (OLP), compartilhou uma foto de sua avó Farha vestindo o traje tradicional de Ramallah, em 1925, e destacou a resiliência das mulheres palestinas.
#MyPalestinianSitty Teta Farha in Ramallah around 1925; sadly she died shortly after this photo was taken. My step grandmother, Teta Zareefeh, lovingly raised all nine of her children. She died in 1967 during the war. Palestinian women are truly the salt of the earth. pic.twitter.com/Zk6iBIV6QZ
— Hanan Ashrawi (@DrHananAshrawi) August 18, 2019
Liz Zacharia, usuária do Twitter, compartilhou uma imagem em preto e branco de seus avós recém-casados, em um riacho local.
#MyPalestinianSitty, who though I barely knew I've always missed. We have the same exact name, she was a teacher as am I, and there is a definite resemblance. I grew up eating my Colombian mother's Palestinian food that she taught her how to cook. Here she is on her honeymoon. pic.twitter.com/VUU1Pe7x0M
— Liz Zacharia (@liz_zacharia) August 19, 2019
Ben Jamal, Diretor da Campanha de Solidariedade à Palestina (CSP) também compartilhou uma fotografia de sua avó Nazli em sua casa em Talbieh, Jerusalém Oriental. A família de Ben Jamal foi expulsa de sua casa em 1948.
One of the great sadnesses of my life is that I only met my Palestnian Grandparents when I was very young. Here is #MyPalestinianSitty
On the far left. She was called Nazly and she lived in Talbieh in west Jerusalem in a beautiful home from which she was forced to flee in 1948. pic.twitter.com/Tv0mJgn8Eq— Ben Jamal (@BenJamalpsc) August 18, 2019
Gerações mais jovens de palestinos também participaram do movimento que tomou o Twitter. Tlaib compartilhou uma foto de sua outra avó palestina, de Beit Hanina, ao norte de Jerusalém, descrita pela parlamentar americana como “uma mulher forte”.
This was my other #MyPalestinianSitty who no one could mess with. She was proud of being from #BeitHanina and was one fierce woman. pic.twitter.com/6VKUArdekD
— Rashida Tlaib (@RashidaTlaib) August 18, 2019
Ammar Campa-Najjar, que foi candidato ao congresso americano, também de descendência palestina como Tlaib, homenageou a memória de sua avó, morta “em sua própria casa”, diante dos filhos, durante a Guerra de 1973.
Alguns usuários destacaram a resiliência do povo palestino diante das inúmeras guerras, da ocupação, das Intifadas e do cerco executado por Israel.
Jehad Abusalim destacou a resistência de sua avó, que testemunhou a Nakba de 1948, a ocupação de Gaza em 1956, a reocupação de Gaza em 1967, as invasões do Líbano em 1978 e 1982, a Primeira e a Segunda Intifada, três ataques de larga escala contra a Faixa de Gaza e os treze anos de bloqueio ao território litorâneo.
Meet #MyPalestinianSitty Fatma. She witnessed the 48 war, 56 occupation of Gaza,67 reoccupation of Gaza,78 invasion of Lebanon, 82 invasion of Lebanon, 1st & 2nd Intifadas, 3 major Israeli attacks on Gaza, & 13 years of blockade w/6 hours of electricity a day. She still smiles🙂 pic.twitter.com/oHZIq1htMx
— Jehad Abusalim جهاد أبو سليم (@JehadAbusalim) August 18, 2019
Outros usuários compartilham suas memórias favoritas de suas avós.
She knew directions to everywhere.
I could throw on 10lbs in 2 weeks on that cooking.
She put up with more BS in a month than most do in a lifetime.
Everyone knew her.
She could read the future in coffee stained cups.
She was the rock of the family.#MyPalestinianSitty pic.twitter.com/TFJYInh67d
— Sam Rasoul (@Sam_Rasoul) August 18, 2019
Para muitos, o simples fato da hashtag #MyPalestinianSitty tornar-se um dos assuntos mais comentados mundialmente no Twitter já é uma declaração de força do povo palestino.
Dana, usuária do Twitter de dezenove anos de idade, afirmou que o movimento “preencheu completamente o meu coração”, ao também homenagear sua avó.
the tag #MyPalestinianSitty absolutely filled my heart so I thought I’d share my beautiful, strong, kind, absolutely amazing sitty who has the hugest heart. I don’t know a person more proud to be from palestine. Love you more than anything!! pic.twitter.com/1iClyLPv0m
— dana (@iIoveharrystyle) August 19, 2019
Ilhan Omar – ao lado de Tlaib, uma das primeiras parlamentares muçulmanas eleitas para o Congresso dos Estados Unidos, cuja entrada em Israel também foi negada por Israel – compartilhou o sentimento. Ela reiterou que o movimento humaniza “um dos povos mais desumanizados do mundo.”
#MyPalestinianSitty is trending and I am overcome with emotions realizing how we are finally humanizing one of the world’s most dehumanized peoples.
— Ilhan Omar (@IlhanMN) August 18, 2019