Ao passo que queima a floresta amazônica e que o presidente brasileiro Jair Bolsonaro continua a trocar insultos e apontar dedos mundo afora, comunidades indígenas enfrentam deslocamento e aniquilação. As comunidades nativas representam o maior obstáculo às intenções de Bolsonaro de permitir acesso à exploração local e internacional dos recursos naturais do Brasil.
Em mensagem divulgada em rede nacional, após condenações internacionais às políticas de seu governo e aos consequentes incêndios na Amazônia, Bolsonaro culpou uma suposta “campanha de desinformação fabricada contra nossa soberania nacional”. Bolsonaro também afirmou que seu país permanece “aberto ao diálogo, com base no respeito, na verdade, e cientes da nossa soberania.” Resumidamente, é preciso dizer que não se questiona o fato de que presidente brasileiro, representante da extrema-direita internacional, não possui o menor pudor em explorar os incêndios na Amazônia para ampliar o quadro de desmatamento realizado em nome do agronegócio e, consequentemente, em marginalizar a importância das comunidades indígenas e seu vínculo com a terra.
A oferta de Israel para lutar contra os incêndios na floresta – outra medida de propaganda para o estado sionista – parece não ter atraído a mesma atenção internacional que costumam ter seus supostos esforços humanitários. Tais ações contrapõem claramente o deslocamento contínuo de populações palestinas e a destruição de suas terras. A imprensa israelense divulga a oferta do Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu como uma voz de apoio no “coro de apreensões internacionais.” Essa suposta preocupação, no entanto, não se estende a exigir a proteção das comunidades nativas ameaçadas tanto pelo fogo quanto pelas políticas de Bolsonaro.
A conclusão da cooperação de Israel ao Brasil é que se trata de dois governos de direita cujo propósito é deslocar as comunidades nativas de suas terras. Embora nenhuma nova notícia tenha sido divulgada após a oferta inicial, a rede de notícias israelense Arutz Sheva prontamente declarou: “Israel se tornou o aliado mais próximo do Brasil na luta contra os incêndios que devastam hoje a floresta tropical amazônica.”
Caso Israel de fato seja o aliado mais próximo do Brasil, apagar os incêndios na Amazônia não tem nada a ver com relações diplomáticas que preservam violações constantes de direitos humanos e planos de expropriação de terras e bens dos povos nativos, ações nas quais Netanyahu e Bolsonaro são campeões internacionais, sem enfrentar qualquer aparente oposição política coletiva.
Diante das câmeras, Brasil e Israel podem muito bem simular preocupação com a Amazônia e a destruição ambiental. Suas políticas, porém, dizem o contrário.
Em janeiro deste ano, por exemplo, Bolsonaro removeu da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), órgão de proteção das comunidades nativas, a responsabilidade pelos territórios indígenas, ao entregá-la ao Ministério da Agricultura, controlado pelos ruralistas.
Ao sustentar as conquistas do Fundo Nacional Judaico em termos de expropriação de terras palestinas, desde antes da Nakba de 1948, a expansão israelense e a destruição sistemática da infraestrutura palestina resultou em enormes danos ambientais em detrimento da população nativa. Ainda assim, esse programa de destruição não impediu Israel de propagandear-se, com ajuda da ONU, como uma nação capaz de auxiliar países africanos cujas terras são superexploradas.
Israel tampouco foi responsabilizado pelos danos infligidos contra os palestinos ao ocupar suas terras. Há parâmetros distintos ao classificar as contribuições israelenses à destruição ambiental e as suas medidas de assistência a países em desenvolvimento. O auxílio é classificado como conquista, à medida que privar os palestinos de seu direito à terra não é preocupação alguma para a comunidade internacional.
De modo bastante similar, a preocupação internacional com a floresta amazônica não se estende ao resgate da comunidades indígenas, ameaçadas por Bolsonaro desde o dia de sua posse. Longe das supostas apreensões ambientais, como tornou-se claro pelas respostas tardias de ambos os governos ao desastre em curso, Netanyahu e Bolsonaro somente impulsionam sua própria trajetória, ao exterminar as comunidades nativas que resguardam o direito à terra.
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