Estudantes refugiados palestinos devem ser um fator fundamental aos esforços humanitários

Apesar de atribulações financeiras causadas por agendas políticas e alegações de má conduta, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) garantiu que suas escolas abrissem a tempo para o novo ano letivo. Pierre Krähenbühl, Comissário-Geral da UNRWA, descreveu a educação como elemento central ao mandato da agência, embora a entidade não esteja inteiramente livre de simbolismo e, apesar de seu trabalho, de uma potencial normalização da violência inerente ao projeto colonial de Israel.

A abertura da nova escola em Silwan, bairro nos subúrbios da Cidade Velha de Jerusalém, por exemplo, divulgado como propaganda devido a reformas executadas durante o recesso de verão, foi glorificado por Krähenbühl. “Este retorno à escola é também um símbolo de preservação da normalidade e de um ambiente de aprendizado seguro,” destacou o comissário-geral.

A retórica do ambiente de aprendizado seguro, favorecida por organizações internacionais, é repleta de discrepâncias, e pode ter repercussões severas. Uma declaração conjunta emitida pela UNICEF em janeiro de 2019 concentra-se no impacto do estado israelense e da violência colonial no que se refere ao acesso à educação e segurança por parte de estudantes palestinos. Caso ainda sejam necessárias declarações da ONU para que nos lembremos que crianças “jamais deveriam ser alvo de violência e jamais deveriam ser expostas a qualquer forma de violência,” isso torna-se evidência, no entanto, de que Israel não enfrentará qualquer obstáculo concreto ao seu projeto de desestabilizar a educação palestina.

A despeito desta verdade brutal, o que de fato é conquistado pelas instituições da ONU no que se refere à educação e ao trauma enfrentado diariamente pelas crianças palestinas? Na melhor das hipóteses, longe de ser satisfatório, compilam evidências desperdiçadas pelo mundo devido à recusa da comunidade internacional em responsabilizar Israel por perpetuar ciclos de espoliação e tornar a educação das crianças palestinas somente uma possibilidade, ao invés de direito universal.

Ainda pior, o foco da UNRWA em seu próprio trabalho garante que suas operações sejam convenientes às declarações de uma suposta normalidade, promovida internacionalmente, que compele as crianças palestinas a se encaixarem em papéis simbólicos que não são de sua escolha. Primeiramente, estudantes palestinos em escolas da UNRWA não estão lá para servir à imagem da agência; o colonialismo e a cumplicidade internacional tornaram a criação da agência inevitável. A recorrente renovação do mandato da UNRWA confirma a aceitação internacional do projeto colonial israelense e obriga os palestinos a assumirem papéis simbólicos que nada tem a ver com seus anseios de uma vida livre e próspera em sua própria pátria.

Homens palestinos carregam sacos de auxílio humanitário fornecido pela UNRWA, na Cidade de Gaza, 15 de janeiro de 2018 [Ali Jadallah/Agência Anadolu]

A dependência de doadores da UNRWA distancia ainda mais as narrativas palestinas da devida atenção. Conforme uma agenda política e burocrática, crianças palestinas não coagidas a aceitar suas limitações enquanto são exploradas pelo sistema que alega conceder-lhes a oportunidade de “contribuir positivamente ao desenvolvimento da sociedade e da comunidade global.” Sem dúvida, caso a educação palestina não fosse sistematicamente sabotada por Israel, os estudantes palestinos iriam prosperar e destacar-se pelos seus próprios esforços, dado o respeito e estímulo devido à educação. A UNRWA, no entanto, promove sua estrutura ao eliminar o contexto no qual opera, e portanto obriga crianças palestinas a dependerem de instituições internacionais para obter direitos e necessidades básicas.

A despeito das investigações vigentes sobre a UNRWA, a relevância da agência ainda permanece intimamente ligada, sobretudo, à comunidade internacional. Forçadas a depender de seus serviços, crianças refugiadas palestinas não deveriam se perder no processo burocrático e na mera publicidade da UNRWA. A cada ocasião em que perde o destaque, a UNRWA torna-se ora mais audaciosa, ora mais subserviente, ao garantir que a agenda internacional seja imposta às aspirações palestinas por liberdade e justiça. É preciso que não permitamos que as narrativas da UNRWA transcendam as narrativas das próprias crianças palestinas. Não há nada mais perigoso do que corroer as experiências de vida do povo palestino nas mãos de uma agência que deveria empoderar seus estudantes, ao invés de apresentá-los como um elemento fortuito e mero pano de fundo para esforços humanitários internacionais.

 

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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