O prisioneiro político Amir Makhoul foi enfim libertado após quase uma década nos calabouços israelenses. Makhoul concedeu sua primeira entrevista a Adri Nieuwhof, ativista anti-apartheid, com quem trocou cartas da prisão durante todos esses anos.
Makhoul era diretor da rede de organizações não-governamentais Ittijah, espécie de sindicato de associações árabe-palestinas comunitárias, que opera hoje dentro de Israel. Sua prisão ocorreu às três horas da madrugada, executada pelo Shin Bet, a polícia secreta de Israel, descrita pela Anistia Internacional, em maio de 2010, quando foi detido, como “abundante do mais puro assédio, projetada para reprimir seu trabalho com direitos humanos.”
O Shin Bet confiscou todos os computadores e celulares da família, além de muitos itens pessoais, e vasculhou os escritórios da Ittijah.
“Foi uma prisão traumática para mim e para minhas filhas,” relatou Janan Abdu, esposa de Makhoul, à rede de notícias com base em Chicago, Estados Unidos, The Electronic Intifada, em 2012. Abdu também é ativista de direitos humanos.
As crianças passaram “duas semanas sem ver o pai. Perdi meus pais naquele mês em que Amir foi preso e não pude vê-lo ou abraçá-lo. Minha filha se formou na escola sem a presença do pai ao seu lado. Quando falamos sobre a questão pessoal, é bastante difícil.”
A princípio, Makhoul foi detido sem qualquer acesso a advogados. Três semanas depois de sua prisão, o Shin Bet o acusou de contactar um agente do Hezbollah libanês, mas não apresentou qualquer evidência.
Apesar de escrutinar quase uma dúzia de discos rígidos de computadores e espionar mais de 30.000 conversas por telefone, o Shin Bet contou inteiramente com a confissão de Makhoul, coagida sob tortura.
Após seis meses de detenção, diante de uma possível prisão perpétua por “auxiliar o inimigo em tempos de guerra,” com sua confissão obtida por fraude e coação posta como evidência principal, Makhoul eventualmente não teve alternativa senão aceitar um acordo. Foi condenado a nove anos de prisão, mais um ano de suspensão condicional da pena.
Sobre sua prisão, a Anistia Internacional esclareceu: “Amir Makhoul é bastante conhecido por seu ativismo de direitos humanos em nome dos palestinos em Israel e daqueles que vivem sob a ocupação israelense. Tememos que esta seja a razão subjacente para sua prisão.”
Mieke Zagt, coordenador para a ICCO (Organização Inter-Igrejas para Cooperação e Desenvolvimento), entidade que luta internacionalmente contra a pobreza, com sede na Holanda, afirmou que o veredicto não era verossímil. “Não consideramos este julgamento como um julgamento transparente e isento, em conformidade com os padrões internacionais. Assim, qualquer conclusão deste processo é difícil de considerar como um veredicto justo,” declarou Zagt.
Desde sua libertação, Makhoul ainda é assediado pelas forças do Shin Bet, que o ameaçaram ao alertá-lo: “estamos de olho em você.”
O espectro amplo de proeminentes figuras palestinas com cidadania israelense (ativistas que insistem na dignidade e em seus direitos) vítimas de tais ameaças é um sinal claro de como Israel conduz um regime de apartheid em sua totalidade – não somente no que se refere à ocupação da Cisjordânia.
Israel agride líderes políticos, comunitários e religiosos de todos os tipos, por todo o espectro político. Aqueles que aplicam quaisquer métodos de resistência, não somente aqueles que utilizam ou defendem a resistência armada.
Ativistas pacíficos palestinos, cujos direitos deveriam ser garantidos pela cidadania israelense, por todo o espectro político, são assediados das mais diversas formas. Desde o assédio legal e ameaças a acusações políticas falaciosas ou fabricadas, até mesmo à prisão no exílio. De Raed Salah a Amir Makhoul; de Haneen Zoabi a Azmi Bishara. Os palestinos de 1948, aqueles expulsos de suas terras pela Nakba (a catástrofe palestina), são particularmente oprimidos como uma ameaça constante – “o inimigo interno”.
Palestinos por toda a Palestina histórica resistem até hoje. Superam os piores obstáculos, as décadas de silêncio, a opressão sistemática e o aprisionamento. Os palestinos ainda resistem à aniquilação de seu povo, tanto política quanto fisicamente, conduzida pelo Estado de Israel há décadas e décadas.
Por mais de um ano e meio, civis palestinos na Faixa de Gaza marcham semanalmente a Israel pelo seu devido direito de retorno às casas das quais seus pais e avós foram expulsos desde 1947. Demandam nada mais do que seus direitos humanos, como assevera a lei internacional.
Desejam somente voltar para a casa.
Em resposta, Israel abate os manifestantes pacíficos com franco-atiradores, como se fossem pombos. Duas das últimas vítimas desta campanha assassina de Israel são Ali Sami Ali Al-Ashqar, de dezessete anos, e Khalid Abu Bakr Al-Rabai, de catorze. Os dois menores de idade foram baleados e mortos pelas forças da ocupação israelense durante os protestos conduzidos toda sexta-feira pela Grande Marcha do Retorno, especificamente no último dia 9 de setembro.
Desde o início das manifestações, Israel matou 210 palestinos durante os protestos, incluindo quase cinquenta crianças.
A Faixa de Gaza, em sua totalidade, é parte do complexo prisional de Israel, descrita internacionalmente como a maior prisão a céu aberto do mundo. Está sob cerco egípcio-israelense desde 2007.
Os palestinos na Cisjordânia ocupada, na Faixa de Gaza sitiada e dentro de Israel lutam diariamente para obter seus direitos e são presos ou mortos como resposta. O mínimo que podemos fazer é participar de pequenos atos de solidariedade no Ocidente, incluindo o movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções – BDS.
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