Caso reeleito, o Primeiro-Ministro de Israel Benjamin Netanyahu prometeu anexar partes da Cisjordânia ocupada; obteve como resposta da comunidade internacional declarações dispersas que destacam o fato deste movimento não ter qualquer base legal. Para Israel, evidente, tais alertas não são motivo de preocupação. Os alertas de que a promessa de anexação “prejudica a viabilidade da solução de dois estados e os prospectos de paz duradoura,” como docilmente ecoou a União Europeia, não chegam a ser advertências de que Israel será responsabilizado.
Enquanto isso, em reunião com o Ministro de Relações Internacionais de Luxemburgo, Jean Asselborn, em Ramallah, o líder da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, afirmou que suspenderia todos os acordos com Israel caso Netanyahu cumprisse os planos de anexação. Desnecessário dizer, Abbas elogiou a União Europeia por alertar que tais ações “destruíram as fundações do processo político.”
Israel, obviamente, não se importa com estes alertas. Longe de qualquer preocupação em relação aos palestinos, a comunidade internacional está preocupada em como poderá reaproveitar sua própria diplomacia e influência na colonização da Palestina, ao mesmo tempo em que mantém um suposto apoio ao povo palestino e à ilusão de um estado próprio. Não é segredo que a Autoridade Palestina mostra-se absolutamente diligente ao apoiar essa miragem e manter a ilusão de que um estado poderá salvaguardar sua existência precária no final das contas.
Mas a anexação e expansão israelense não podem ser ofuscadas pela política diplomática das declarações atrapalhadas de Mahmoud Abbas. Tampouco o anúncio de Netanyahu deve ser restrito à campanha eleitoral. Em toda a sua beligerância, o Presidente dos Estados Unidos Donald Trump expôs também a hipocrisia da comunidade internacional, assim como a hipocrisia de seu próprio país. Sem qualquer consenso nos métodos potencialmente aplicados para dar fim às violações de Israel referentes à lei internacional, Netanyahu aproveita-se então das oportunidades presentes para colonizar ainda mais porções do território palestino. De modo bastante previsível, a comunidade internacional está mais preocupada em destacar os meios pelos quais os parâmetros da lei são diariamente transgredidos do que proteger os direitos políticos do povo palestino.
Netanyahu anunciou então a legalização de um posto avançado de assentamento no Vale do Jordão, ao declará-lo “um passo adiante na aplicação da soberania.”
Como a comunidade internacional pode sequer pensar em manter a relevância de suas leis e de suas instituições enquanto ainda insiste em manter sobretudo a discrepância entre o discurso de direitos humanos e a aplicação tangível da legislação? Caso a lei internacional continue reduzida à força de citações, a comunidade internacional permitirá invariavelmente que Israel faça experimentos com a interpretação de suas leis, à medida que espera que o próprio povo palestino adira a uma interpretação que repreenda Israel, contudo não ofereça qualquer proteção de fato ao povo colonizado.
A leniência internacional em relação a Israel é um recurso reconhecido por Netanyahu – a decisão de anexar partes da Cisjordânia ocupada foi descrita como “um processo gradual”.
Em contrapartida, vale destacar que a Autoridade Palestina consentiu com um processo gradual de expropriação dos palestinos. Enquanto Netanyahu violava sistematicamente as leis internacionais a fim de colonizar a palestina, cada vez mais impune, a Autoridade Palestina esperava respostas a tais violações. Como resultado, enfraqueceu ainda mais sua própria presença na comunidade internacional e, ainda pior, sufocou pouco a pouco as alternativas de resistência legítima do povo palestino.
Para Abbas, a prioridade sobre a ilusão de dois estados supera a preocupação com as terras e vidas palestinas. Não será a primeira porção de terra roubada por Israel; os palestinos tornaram-se sinônimo de deslocamento forçado e de imposição ao status de refugiados. Longe de perturbar sua agenda, a comunidade internacional desempenhou seu papel meramente casual. Para Abbas e a Autoridade Palestina, a promessa de anexação de Netanyahu oferece um breve impulso publicitário, capaz de preservar um pouco mais o disfarce de lutar pelo direito palestino por liberdade.
Longe desta farsa cruel, há de se perguntar: marionetes políticas, lembram-se dos palestinos?
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