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Eleições israelenses: nem Netanyahu, tampouco Gantz reivindicam vitória

Primeiro-Ministro de Israel Benjamin Netanyahu [Oded Balilty/AFP/Getty Images]

Benny Gantz, principal adversário eleitoral do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, afirmou nesta quarta-feira (18) que aparentemente, diante das pesquisas de boca de urna, o atual líder de Israel havia sido derrotado, embora somente resultados oficiais poderiam garantir. As informações são da agência Reuters.

Gantz, ex-general do Exército de Israel, não chegou a cantar vitória de imediato. Contudo, exibindo confiança, diante de um comício de seu Partido Azul e Branco (Kahol Lavan), exaltou: “cumprimos nossa missão”. Além disso, prometeu trabalhar para compor um governo de unidade nacional.

O Primeiro-Ministro de Israel Benjamin Netanyahu tampouco alegou vitória ou concedeu derrota, ao discursar ao seu Partido Likud, após as pesquisas de boca de urna revelarem uma corrida eleitoral tão acirrada que é impossível prever prontamente um vencedor.

Netanyahu afirmou que deverá aguardar os resultados oficiais e que trabalhará para estabelecer “um forte governo sionista”, capaz de refletir o ponto de vista de “grande parte da população israelense.”

Horas depois do fechamento das urnas, novas pesquisas realizadas por emissoras de televisão israelenses estimaram 30 a 33 assentos ao Likud, das 120 vagas disponíveis no Knesset – parlamento de Israel –, uma leve queda em relação às previsões anteriores. Em contrapartida, estimaram ao Azul e Branco 32 a 34 assentos no congresso.

Em um primeiro momento, nenhum dos dois partidos alcançou apoio suficiente para compor uma coalizão de governo, estabelecida a partir da maioria simples (61 legisladores). Avigdor Lieberman, ex-aliado de Netanyahu e agora seu rival, emergiu como o possível fazedor de reis, como chefe do partido de extrema-direita Yisrael Beitenu.

“Netanyahu perdeu, mas Gantz não venceu,” declarou Udi Segal, proeminente âncora de notícias na televisão israelense.

Novas pesquisas também indicaram que, sem os oito a nove assentos estimados para o Yisrael Beitenu, é possível que decorra outro impasse ao compor ao governo. O Likud teria somente o apoio de 55 parlamentares para a coalizão de direita, dois a menos do que previsto nas pesquisas de boca de urna. O Partido Azul e Branco poderia contar com não mais do que 59 congressistas, a fim de estabelecer um governo supostamente de centro-esquerda.

“Temos apenas uma alternativa – um governo amplo, nacional e liberal capaz de abranger o Yisrael Beitenu, o Likud e o Partido Azul e Branco,” afirmou Lieberman, cujo partido parece ter conquistado o dobro de assentos em relação ao resultado de abril.

A construção de uma coalizão de governo pode ser complicada: Lieberman já disse que não formará uma aliança que inclua os partidos ultra-ortodoxos – parceiros tradicionais de Netanyahu.

Chamado de “Rei Bibi” por seus apoiadores, Netanyahu, de 69 anos de idade, ficou marcado pelo fracasso de não compor um governo após as eleições de abril deste ano.

Diante de diversas acusações de corrupção à sua espreita, Netanyahu negou qualquer malfeito, mas também perdeu a aura de invencibilidade que foi capaz de manter durante dez anos, em mandatos consecutivos como primeiro-ministro, marcados pelo foco contumaz em segurança nacional convertido em votos.

“A menos que uma virada miraculosa aconteça entre a boca de urna e os resultados finais, a mágica de Netanyahu simplesmente acabou,” escreveu Anshel Pfeffer, biógrafo de Netanyahu, em um artigo para o jornal israelense Haaretz.

Ao discursar para seus apoiadores após o fechamento das urnas, Lieberman fez um apelo ao Presidente de Israel Reuven Rivlin para que convide Netanyahu e Gantz a uma reunião ainda nesta sexta-feira, mesmo antes dos resultados finais, a fim de explorar as alternativas de construção de um governo de unidade nacional.

As campanhas dos dois principais partidos revelaram diferenças ínfimas em diversos assuntos de interesse prioritário: a luta regional contra o Irã, o conflito palestino, relações com os Estados Unidos e economia.

O fim da era Netanyahu provavelmente não trará diferenças significativas na política concernente a assuntos controversos, como o processo de paz com os palestinos, interrompido há cinco anos atrás.

Netanyahu anunciou recentemente sua intenção de anexar o Vale do Jordão na Cisjordânia ocupada, reivindicado como parte de um futuro estado palestino. O Azul e Branco, no entanto, também prometeu fortalecer os blocos de assentamentos na Cisjordânia, embora ilegais segundo a lei internacional, e estabelecer o Vale do Jordão como “fronteira oriental de segurança” pertencente a Israel.

Como ocorreu nas eleições de cinco meses atrás, os oponentes de Netanyahu, incluindo Gantz, concentraram-se nas três acusações de corrupção, fraude e propina contra o primeiro-ministro israelense.

Ainda no mês de outubro próximo, Netanyahu deve enfrentar uma audiência antes de ser instalado um julgamento contra ele, para defender-se das acusações e pedir pelo arquivamento do caso.

Uma perda eleitoral pode aumentar os riscos de ser indiciado, ao perder o escudo de imunidade parlamentar que seus aliados políticos antes lhe prometeram. Nada garante que cumprirão a promessa diante de um líder enfraquecido sem um mandato político evidente em qualquer coalizão formada.

Netanyahu retrata Gantz, de 60 anos de idade, como uma figura política sem experiência e incapaz de impor respeito aos líderes mundiais, como o Presidente dos Estados Unidos Donald Trump.

Antes das últimas eleições, Trump promoveu a campanha de Netanyahu ao reconhecer a soberania de Israel sobre as Colinas de Golã, território ocupado pertencente à Síria, capturadas na chamada Guerra dos Seis Dias, em 1967. Desta vez, a Casa Branca parece estar mais preocupada com o Irã.

A administração de Donald Trump planeja revelar logo um plano de paz para o conflito israelo-palestino, provavelmente fadado ao fracasso: os palestinos prontamente o rejeitaram antes mesmo da divulgação, ao percebê-lo como tendencioso. A influência de Netanyahu, diante das oportunidades concedidas por Washington e outras capitais globais, de fato permanece restrita ao âmbito doméstico, à medida que as fronteiras israelenses convulsionam diante dos contextos na Síria, Gaza e Líbano.

Nos últimos instantes da campanha, Netanyahu fez todo o possível para conclamar eleitores a apoiá-lo, a fim de evitar o que chamou de “desastre”: um governo supostamente de esquerda.

Com a voz rouca, o líder veterano foi às ruas e às redes sociais. Em certo momento, tomou de um megafone para falar ao público local em um ponto de ônibus, em apelo para que os eleitores estendessem um pouco mais sua década de poder.

Em Gaza, os palestinos aguardam preocupados pelo resultado das eleições.

“Esta eleição afeta muitos aspectos de nossas vidas,” declarou Mohamad Abdul Hay Hasaneen, palestino que trabalha como zelador na cidade de Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza. “Os conflitos podem se intensificar logo após as eleições, mas não acho que irá resultar em uma guerra completa.”

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