Membros árabes do Knesset decidiram apoiar uma forma de colonização no lugar de outra

Os membros da chamada Lista Conjunta do Knesset – parlamento israelense – decidiram apoiar Benny Gantz para liderar o próximo governo de Israel, após as eleições gerais da última semana. Este apoio representa mais uma traição à causa palestina. Das quatro facções que constituem o bloco, somente o partido Balad repudiou o apoio, ao declarar enfaticamente que não consentiria com Gantz devido à sua ideologia sionista e seu envolvimento direto nas agressões militares contra o povo palestino, enquanto ex-Chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel.

Ayman Odeh, presidente da Lista Conjunta, decidiu priorizar a deposição do atual Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu, ao afirmar: “Para nós, o mais importante é remover Netanyahu do poder.” Esta abordagem simplista recai no erro de atribuir equivalência entre Netanyahu e o projeto colonial sionista.

Caso os representantes políticos dos cidadãos palestinos de Israel decidam se limitar à mera oportunidade, a causa palestina se fragmentará cada vez mais. Questiona-se, com alguma razão, sobre o fato dos palestinos residentes em Israel não receberem a devida atenção, ou proeminência, de seus representantes no que se refere à causa nacional, em comparação aos refugiados palestinos e aos palestinos residentes na Cisjordânia ocupada e na Faixa de Gaza sitiada. Os membros árabes do Knesset que decidiram apoiar Gantz contribuem então para tal distinção, em nível político, a menos que os palestinos em Israel protestem veementemente contra sua decisão.

Mesmo sem Netanyahu, Israel continuará a colonizar os territórios palestinos. Ao apoiar Gantz, as facções da Lista Conjunta garantirão a conclusão desse processo. A Palestina foi devastada pelo sionismo; os palestinos foram expropriados pela implementação de tão perniciosa ideologia – ainda assim, seus representantes árabes em Israel decidiram deliberadamente deixar de lado sua memória e, consequentemente, seu legítimo direito de retorno. Neste caso, há de se perguntar: os palestinos em Israel votaram pela representação de seus direitos ou somente por alternativas limitadas devidamente alinhadas com a agenda sionista?

Os parlamentares da Lista Conjunta cometeram um erro ao escolher entre duas formas de agressão colonial bastante conhecidas, a fim de garantir um poder bastante limitado dentro do Knesset. Justificar a decisão pela oposição a Netanyahu não é razoável, em particular à medida que seu principal rival pela liderança israelense é bastante célebre pela orquestração do massacre em Gaza de 2014, conhecido como Operação Margem Protetora.

Financiados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), trabalhadores palestinos retiram escombros de um centro comunitário destruído por Israel durante a Operação Margem Protetora, executada contra Gaza, em 2014 [Apaimages]

Durante sua campanha eleitoral, Gantz prometeu ainda mais violência na forma de assassinatos deliberados contra líderes do Hamas, além de ainda maior destruição em Gaza. A estratégia diplomática de Netanyahu busca anexar territórios e normalizar a violência vigente contra os palestinos, o que frustraria inquéritos internacionais e garantiria a vantagem israelense sobre a manipulação de dados e respostas de direitos humanos. Ambos os casos apoiam a expansão colonial e refutam a libertação palestina ou a mera noção de um hipotético estado palestino. De fato, há alguma escolha entre Netanyahu e Gantz, como sugere o apoio da Lista Conjunta?

A causa palestina por sua libertação é comum a todos os palestinos. Caso parte dos representantes palestinos decidam preterir sua luta, torna-se evidente que a representação política está alienada em relação ao povo. Apoiar Gantz pode oferecer uma plataforma temporária à Lista Conjunta, mas não será capaz de mobilizar o povo palestino a longo prazo.

Um componente fundamental à causa palestina é a memória palestina, que deveria ser politizada em todos os níveis, em contraponto à traição flagrante. A confiança atribuída às facções da Lista Conjunta que decidiram apoiar Gantz foi marginalizada ao resolver amparar um modelo de colonização no lugar de outro.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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