Israel observa protestos no Egito temendo por Sisi

Os recentes protestos no Egito atraíram atenção dos círculos de decisão israelenses, tanto em termos de mídia quanto política, embora oficiais israelenses – políticos, militares e de segurança – tenham evitado qualquer comentário oficial sobre os eventos, em um esforço para não constranger seu aliado no Palácio de Heliópolis (Ittihadiyah). Porém, o silêncio não contradiz o fato de que há contato intenso entre Cairo e Tel Aviv, o tempo todo.

Os círculos israelenses concordaram unanimemente que os milhares de egípcios que voltaram a lotar a Praça Tahrir, no centro do Cairo, estabeleceram uma plataforma para uma potencial ruptura econômica a estourar diante do Presidente Abdel Fattah Al-Sisi. Manchetes de jornais e redes sociais foram dramáticas, incluindo: “A revolução egípcia voltou”, “Protestos de massa varrem a Praça Tahrir” e “Milhares pedem pela deposição do regime de Sisi”.

Os israelenses perguntam-se então se as alegações dos apoiadores de Sisi, de que houve somente protestos dispersos, são verdadeiras; e por que então surtiram tamanho efeito no regime? Por que as redes de imprensa egípcias associadas a Sisi mobilizaram-se com tamanho afinco para atacar outros meios de comunicação, em particular a rede Al Jazeera, com sede no Catar?

Tenha sido o número atual de manifestantes preciso ou exagerado, os círculos israelenses confirmam que se trata de uma situação nova a indicar o fim da contenção e temores entre os egípcios que decidiram tomar as ruas em protesto. Eles pedem a deposição do regime de Sisi, acusado, junto de seus homens, de uma série de crimes de corrupção e de construir palácios com dinheiro público, enquanto milhões de egípcios de fato passam fome.

Embora evitando comentar o número estimado de manifestantes no Egito, a mídia israelense confirmou, no entanto, que os protestos ocorreram em diversas cidades do país, como a capital Cairo, Giza, Damietta, Mahalla e Mansoura, com participação de centenas, e até milhares, de egípcios.

As lideranças israelenses expressaram, por meio de suas decisões políticas e de sua análise de imprensa, sua crença de que enfrentam agora uma situação delicada no Egito, considerando as demandas dos protestos, concentradas na deposição de Sisi.

A situação é séria à medida que manifestantes tomam as ruas a despeito de uma lei que proíbe protestos. Enfrentamos agora um retorno às manifestações de 2011, que pediam pela deposição do ditador Hosni Mubarak, bem-sucedidas em um primeiro momento.

Apesar da aliança entre Israel e o Egito de Sisi, isso não impede que Tel Aviv reconheça que uma maioria da população egípcia sofre com as condições econômicas extremamente precárias desde que Sisi tomou o poder, à medida que não pôde perceber até então quaisquer das reformas econômicas prometidas pelo atual presidente. Os egípcios, na maioria, tampouco se beneficiaram das receitas emitidas por projetos iniciados por Sisi. Ao contrário, as taxas de desemprego continuaram a aumentar e mais de 30 por cento da população do Egito vive abaixo da linha da pobreza.

A realidade das manifestações no Egito, segundo a avaliação israelense, é que Sisi enfrenta agora uma bomba-relógio, imposta pela situação econômica e social, questão de tempo antes que exploda. Caso os cidadãos egípcios não sintam qualquer melhora em um futuro próximo, será evidente o retorno das manifestações de 2011, um novo desafio para o regime de Sisi.

Os israelenses comparam o início dessas manifestações no Egito com a sua inexistência no país nos últimos seis anos, desde a deposição do falecido presidente eleito Mohamed Morsi, por meio do golpe militar que levou Sisi ao poder. Tais protestos foram bastante raros no Egito desde então. Portanto, com base na análise de Israel, após ousarem tomar as ruas, a despeito das dificuldades enfrentadas pelos críticos do regime, os protestos deverão alcançar a mesma magnitude das manifestações de 2011, embora não necessariamente tão rápido.

Como amigo de Sisi, Israel enxerga com preocupação seu nome repetido inúmeras vezes dentre os protestos. Caso o povo retorne à Praça Tahrir, seria uma notícia péssima para Israel porque os sinais da instabilidade do regime de Sisi podem resultar, mais uma vez, no cenário alarmante que tanto temeu após as revoluções de janeiro de 2011.

Apesar da boa vontade israelense em relação à manutenção do status quo egípcio sob o regime de Sisi, os analistas de Israel também prevêem que a restauração do movimento revolucionário no Egito é questão de tempo, ao confiar, no entanto, nas chances de que o Exército do Egito permaneça no poder independentemente dos desenvolvimentos. Israel acredita que é improvável que Sisi renuncie neste momento. Mesmo que o faça, o Exército do Egito deverá manter a palavra final. Enquanto isso, Israel descartou o retorno da Irmandade Muçulmana ao poder, ou qualquer figura que vá contra seus interesses.

Fóruns israelenses concordam sobre a razão para os protestos egípcios terem demorado tanto a eclodir, nos últimos seis anos: a própria repressão exercida pelo regime de Sisi, a promoção de um espantalho do terror (operações contra grupos) no Sinai, prisões egípcias em massa e a execução de ordens judiciais contra centenas de cidadãos egípcios, muitos dos quais condenados à morte. O povo do Egito viveu sob mão de ferro durante todo o domínio de Sisi; porém, permaneceu em silêncio.

As manifestações recentes no país sugeriram que o povo do Egito somente resguardou algum descanso, um recuo para se reagrupar. Entretanto, após anos e anos de frustração e opressão, acumulados sob o domínio de Sisi, o convite feito pelo empreiteiro e empresário Muhammad Ali foi suficiente para levar milhares de pessoas à Praça Tahrir. Incertos quanto ao resultado, tudo que sabem é que estão fartos de Sisi e de seu regime.

Fóruns israelenses também acreditam que as manifestações recentes no Egito são motivadas por condições econômicas precárias e pela falta de democracia no país. Todavia, devido ao avanço do controle de Sisi sobre todo o sistema judiciário, a burocracia e os serviços de segurança, é difícil que tais instituições permitam que uma revolução o deponha.

Israel está convencido de que os protestos da Primavera Árabe de 2011, contra a corrupção flagrante do presidente deposto Hosni Mubarak, se repetiram na última sexta-feira (20), quando milhares de egípcios tomaram as ruas de grandes cidades, como Cairo, Alexandria, Suez e outras, entoando palavras de ordem contra o governo de Sisi.

Entretanto, é interessante observar, nas leituras israelenses sobre as razões que levaram aos novos protestos no Egito, que há dificuldades claras em encontrar diferenças fundamentais relativas às causas da revolução de janeiro de 2011.

Segundo a análise israelense, Sisi se transformou, como Mubarak, em um líder autocrático, e seu regime governa com mão de ferro. Em março de 2018, no fim de seu primeiro mandato, Sisi foi reeleito com 97 por cento dos votos, sem qualquer oposição efetiva. No último mês de fevereiro, o parlamento egípcio aprovou uma série de leis que permitiram a Sisi permanecer presidente até 2034, o que significa que o sistema democrático introduzido no país tornou-se apenas um sonho.

A leitura israelense avança então para a segunda razão: situação econômica. O Egito, com sua população de cem milhões de habitantes, ainda sofre de uma crise econômica asfixiante. Em média, a renda mensal per capita no país não excede os US$ 120, e a taxa de desemprego oficial está em oito por cento, considerando que as estimativas reais são muito mais altas. Um entre cada três egípcios vive abaixo da linha pobreza, com menos de US$ 1,50 por dia.

Israel registrou uma série de medidas de Sisi que levaram a tais manifestações, incluindo a redução de subsídios aos pobres, o aumento da carga tributária, as violentas guerras contra grupos islâmicos no Sinai e a redução da tendência islâmica no Egito.

Os israelenses estão preocupados com as repercussões das recentes manifestações, à medida que o regime de Sisi preservou fortes relações com o Estado de Israel, em troca do apoio contínuo de Tel Aviv ao regime de Sisi. Israel também utiliza sua influência sobre Washington para fortalecer a aliança estratégica no Oriente Médio e o apoio militar e financeiro ao Egito governado por Abdel Fattah Al-Sisi.

Os maiores desafios enfrentados por Sisi são as novas e reiteradas manifestações e o potencial movimento revolucionário a partir destas, além da guerra no Sinai e da cooperação israelense.

O que sabemos de fato é que Israel e seus aliados na região ainda preservam interesses na manutenção e estabilidade do governo de Sisi no Egito. Para os aliados que o orientam, mesmo em segredo, é melhor encorajá-lo a manter o governo, em meio às previsões israelenses de tensões no establishment militar no Egito.

 

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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