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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Antipalestinismo é o moderno macartismo

Pequeno grupo com bandeiras israelenses realiza um contraprotesto a uma manifestação em solidariedade aos palestinos, em frente à Embaixada de Israel, em Londres, Reino Unido, 30 de março de 2019 [Hasan Esen/Agência Anadolu]

Como bem sabem os leitores regulares desta coluna, a atmosfera macartista na Grã-Bretanha contra apoiadores dos direitos palestinos está piorando cada vez mais. Isso se deve em parte à aquiescência da liderança do Partido Trabalhista à campanha de difamação realizada para retratar seus membros como antissemitas. A aceitação, pelo Comitê Executivo Nacional do Partido Trabalhista, à falsa “definição operacional” de antissemitismo adotada no ano passado pela Aliança Internacional pela Memória do Holocausto (IHRA) concedeu ao documento uma legitimidade indevida; a declaração deliberadamente confunde o antissemitismo com as críticas às políticas evidentemente racistas do estado de Israel.

Não surpreende que a aceitação do documento da IHRA tenha levado conselho locais que o adotaram a banir até mesmo expressões benignas de solidariedade ao povo palestino, ao caracterizá-las como “antissemitas”. Possivelmente, o exemplo mais flagrante deste fato ocorreu no início deste ano, quando o Conselho de Tower Hamlets proibiu a corrida ciclista Big Ride for Palestine de utilizar qualquer um dos parques públicos e espaços abertos da região para realizar comícios e discursos.

Os organizadores do evento solicitaram autorizações por todos os canais apropriados; a resposta do órgão administrativo de Londres os colocou, a princípio, para correr em círculos. Então, seus pedidos foram terminantemente recusados, com base em uma alegação absolutamente espúria de que o conselho não permitia comícios “políticos” em parques públicos. O argumento do conselho logo caiu por terra, pois John Biggs – prefeito de Tower Hamlets e membro do Partido Trabalhista – havia utilizado o mesmo parque requerido pelo evento Big Ride para realizar seus próprios comícios eleitorais.

Os e-mails do Conselho de Tower Hamlets, obtidos por meio de um pedido de acesso livre à informação, revelaram que a verdadeira razão para a proibição foi que oficiais do conselho determinaram que o evento poderia contrapor a definição falaciosa de antissemitismo imposta pela IHRA. Por quê? Porque o site da Big Ride for Palestine dizia, corretamente, que existem “paralelos entre o apartheid da África do Sul e o Estado de Israel.”

O evento Big Ride for Palestine ainda é a forma mais inofensiva e incontroversa possível de solidariedade à Palestina. O evento sequer busca impor alguma ação direta contra os comerciantes de armas, o que potencialmente levaria a riscos de prisão. Tampouco envolvia personalidades controversas e “instigadoras” em sua lista de discursos. Tratava-se simplesmente de uma corrida de bicicletas promovida com o intuito de levantar fundos para crianças palestinas afetadas pela guerra. Mais especificamente, ciclistas e seus patrocinadores desejavam levantar recursos para comprar equipamentos esportivos para crianças de Gaza com transtornos de estresse pós-traumático e outros distúrbios causados pelas inúmeras guerras israelenses contra o território palestino. O fato do Conselho de Tower Hamlets banir tal evento como potencialmente “antissemita” revela apenas o quão falaciosa é a definição da IHRA sobre antissemitismo.

Protesto contra as políticas israelenses que oprimem o povo palestino. No cartaz, lê-se: “Criticar Israel não é antissemita”

Se as coisas são ruins deste lado do Canal da Mancha, pense então no que acontece aos ativistas dos direitos palestinos no restante da Europa. A situação na França e (em particular) na Alemanha é ainda pior.

Desde a aprovação da moção (não vinculativa) pelo Bundestag – parlamento alemão – que condena o movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), em maio deste ano, esta forma de neomacartismo somente agravou-se mais e mais. As autoridades culturais e literárias alemãs passaram a banir, excluir e – ironia das ironias – boicotar personalidades internacionais do setor de cultura caso declarem apoio à campanha por direitos palestinos expressada pelo movimento de BDS.

Ainda mais apavorante, associações alemã-palestinas passaram a ser impedidas de utilizar qualquer espaço público, justamente devido ao apoio à campanha de BDS. Tais decisões possuem implicações profundas, dado que, fundamentalmente, toda a sociedade civil palestina apoia o movimento legítimo e absolutamente pacífico de boicote por direitos humanos ao povo palestino.

Dois exemplos recentes ainda exemplificam bem essa atmosfera política assustadoramente macartista. Em junho, o rapper afro-americano Talib Kweli – conhecido por suas letras social e politicamente conscientes – teve sua participação cancelada por um festival de música na Alemanha, após recusar-se a ceder à pressão dos organizadores do evento para que condenasse publicamente o movimento de BDS. Há anos, pelo contrário, Kweli declara seu apoio à campanha de solidariedade palestina e rejeitou (admiravelmente) as demandas para “censurar a mim mesmo e mentir sobre o BDS em troca de pagamento.”

Mais recentemente, uma cidade alemã que pretendia premiar a novelista anglo-paquistanesa Kamila Shamsie retirou sua homenagem justamente devido ao seu apoio à campanha de BDS. “Os membros do júri não estavam cientes de que a autora era membro, participava e continua a participar do movimento de boicote ao governo israelense por suas políticas concernentes aos palestinos, desde 2014,” anunciou o órgão público da cidade de Dormund, que financia o Prêmio Nelly Sachs.

Tal censura política da cidade de Dormund a uma escritora influente foi amplamente condenada. Críticos incluíram a colunista Yasmin Alibhai-Brown – do jornal londrino The Evening Standart, entre outras publicações –, a escritora e jornalista canadense Naomi Klein e a diplomata e senadora paquistanesa Sherry Rehman.

O blog responsável por iniciar a campanha contra Kamila Shamsie por seu apoio ao BDS é um website abertamente racista. Embora seja supostamente “liberal” em termos políticos, no que se refere a Israel, o Ruhrbarone é abertamente antipalestino, ao ponto de defender o genocídio da população árabe. Em novembro de 2018, durante um ataque israelense contra a população da Faixa de Gaza, o Ruhrbarone compartilhou em sua conta do Twitter um gráfico declaradamente genocida que pedia ao estado sionista que “transformasse Gaza em Garzweiler.”

Garzweiler é uma faixa devastada de mineração a céu aberto no leste da Alemanha. O chamado dos blogueiros para dizimar e aplainar o território palestino sitiado, lar de mais de dois milhões de pessoas – a enorme maioria, civis desarmados –, não poderia ter um propósito mais evidentemente genocida sequer em outros tempos. É notável que os autores do blog criaram e divulgaram o gráfico em inglês, para que suas intenções alcançassem um público ainda maior.

Na Alemanha, ao que tudo indica, a linguagem violenta e genocida é permissível desde que o alvo seja o povo palestino. Entretanto, movimentos pacíficos que buscam pressionar mudanças às políticas claramente racistas do Estado de Israel, como a campanha de BDS, não são permitidos. Enquanto isso, Israel recusa-se a conceder direitos humanos e civis absolutamente básicos à população palestina.

Esta conjuntura, que abrange a tentativa de banir associações culturais palestinas da vida pública na Alemanha, demonstra o racismo inerente nos esforços presentes para criminalizar o movimento de BDS na Europa. O antipalestinismo, em toda a sua expressão obscena, é de fato o macartismo dos tempos modernos.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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