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Igreja de Nelson Mandela adotou o boicote a Israel, um exemplo a ser seguido

Palestinos reúnem-se em um memorial para o presidente sul-africano Nelson Mandela, em uma área de Jerusalém Oriental popular entre os residentes africanos, em 7 de dezembro de 2013 [Saeed Qaq/Apaimages]

A Igreja Metodista do Sul da África, congregação de Nelson Mandela, declarou este mês o apoio ao movimento palestino de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS).

Em conferência recente na Cidade do Cabo, a igreja denunciou “os abusos e a opressão em curso executados por Israel contra o povo palestino,” e reiterou “o papel profético e histórico desempenhado pela igreja e pela comunidade internacional na luta contra o apartheid ou qualquer forma de discriminação e injustiça.”

A igreja também possui comunidades na Namíbia, Botswana, Lesoto, Suazilândia e Moçambique, com um total de aproximadamente dois milhões de fiéis.

Ao anunciar tamanha decisão, o movimento da BDS da África do Sul destacou os vínculos históricos entre a igreja metodista sul-africana e a luta pela libertação de seu país, liderada pelo primeiro presidente democraticamente eleito, Nelson Mandela.

Mandela foi criado por uma mãe cristã bastante religiosa e cursou escolas metodistas em sua juventude.

Em sua autobiografia de 1994, Long Walk to Freedom (Longa caminhada até a Liberdade), Mandela relatou a natureza cotidianamente contraditória de ser criado em meio a uma educação colonial cujo público eram os “nativos”, como ele próprio.

“O inglês instruído era nosso modelo,” narrou Mandela, “esperávamos ser ‘ingleses negros’, como às vezes nos chamavam em tom de deboche. Éramos ensinados – e acreditávamos – que as melhores ideias eram as ideias inglesas, que o melhor governo era o governo inglês, e que os melhores homens eram os ingleses.”

Contudo, assim como muitas tradições religiosas entranhadas em impérios coloniais, o legado da igreja metodista no sul da África contém também tendências diversas e, por vezes, contraditórias.

As igrejas sul-africanas abrangiam em um mesmo espaço tais imposições coloniais e a luta pela libertação.

A figura mais notável neste contexto é, evidentemente, o Arcebispo Desmond Tutu. O extraordinário veterano anti-apartheid da Igreja Anglicana também é um crítico enfático do apartheid israelense contra o povo nativo da Palestina. Desmond Tutu descreve o apartheid israelense como ainda pior do que o sul-africano.

Não obstante, a Igreja Metodista também possui suas figuras progressistas e há muito se opõe ao apartheid.

“O apartheid ainda existe”. A África do Sul está ao lado da Palestina – cartum [Sabaaneh/Monitor dos Oriente Médio]

Seth Mokitimi, um dos professores de Mandela, mais tarde aceitou tornar-se o primeiro presidente negro de uma grande congregação sul-africana – decisão que exigiu enorme coragem durante o ápice do regime de apartheid, em 1964.

As convicções religiosas de Mandela estiveram consigo para além da infância. Em suas memórias, ele também relata ser “convertido” (termo notavelmente religioso) para o comunismo por Nat Bregman, “minha primeira amiga branca.”

Em seus vinte anos, Mandela e Bregman trabalharam juntos em Joanesburgo em um escritório de advocacia administrado por um judeu liberal que simpatizava com a causa do Congresso Nacional Africano (CNA) – cujo braço armado o próprio Mandela iria fundar posteriormente.

Durante toda a sua vida, e particularmente nos anos de Guerra Fria, Mandela negou celebremente ser comunista, incluindo durante os “Tribunais de Traição”, aos quais foi submetido na década de 1960.

Entretanto, após a sua morte em 2013, tanto o CNA quanto o Partido Comunista Sul-Africano confirmaram (ou revelaram, dependendo do ponto de vista) que ele de fato fora um membro comunista. Efetivamente, o partido declarou: “Mandela não foi apenas um membro do então clandestino Partido Comunista Sul-Africano, mas também um membro de nosso Comitê Central do Partido.”

Seja como for, Mandela escreveu, em suas memórias, que os pedidos de Bregman para que ele se filiasse ao partido não o convenceram no momento, e que uma das razões para tanto foi sua fé cristã: “Eu era um tanto religioso e a antipatia do partido à religião de fato me afastou.”

A adoção do movimento de BDS pela igreja de Mandela é, portanto, bastante simbólica.

Trata-se de um reconhecimento de como o movimento de BDS foi explicitamente modelado conforme os movimentos de boicote anti-apartheid da África do Sul. Mais do que isso, demonstra mais uma vez o papel fundamental desempenhado por ativistas sul-africanos no movimento global por justiça na Palestina.

Eles reconhecem o apartheid quando o veem.

A política da Igreja Metodista do Sul da África sobre o boicote a Israel é particularmente boa. Ela instrui os fiéis metodistas a boicotar “todos os negócios que beneficiem a economia israelense,” como esclareceu o movimento de BDS da África do Sul.

A igreja também faz um apelo por “boicote contra todos os operadores de turismo religioso israelenses” e para que cristãos em visita à Terra Santa “busquem ativamente excursões que ofereçam uma perspectiva alternativa palestina à sua viagem.”

Tais medidas abrangem decisões práticas e morais que possuem um impacto efetivo sobre Israel. Devagar, porém certamente, o BDS deixa sua marca.

Israel agora dedica milhões e milhões de dólares para combater o movimento de BDS – sinal de que a estratégia anti-apartheid está surtindo efeito.

As políticas das igrejas sul-africanas sobre o BDS são um exemplo a ser seguido também no Ocidente.

Amandla! Awethu!Poder ao povo!

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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