Apesar de retirar recursos da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), os Estados Unidos não deixaram a organização em paz. Isso sugere fortemente que a oposição de Washington à UNRWA não é financeira ou econômica, mas sim política e que se curva às vontades de Israel. O estado ocupante deseja fechar completamente a UNRWA pois foi estabelecida com o intuito de fornecer auxílio humanitário essencial àqueles no coração da questão Israel-Palestina: os refugiados palestinos.
A pressão dos Estados Unidos sobre a Assembleia Geral da ONU, precedida pela pressão financeira da gestão de Donald Trump, levou o Secretário-Geral da ONU António Guterres a pedir que algumas entidades das Nações Unidas e organizações não-governamentais considerem possíveis alternativas que permitam a realização do trabalho da UNRWA para os refugiados palestinos. Os anseios dos Estados Unidos a este respeito servem aos interesses da ocupação israelense. Caso as alternativas estudadas tenham o exato mesmo propósito que a UNRWA, então por que sequer se preocupar? As intenções de Guterres em procurar por alternativas são efetivamente sérias ou ele deseja somente provar que não há alternativa senão a UNRWA? Em todo caso, o chefe da ONU submete-se à pressão americana, mesmo quando de fato violam leis e consensos internacionais, além de resoluções da própria ONU. O consenso da Assembleia Geral da ONU está sendo pisoteado.
A UNRWA foi estabelecida por uma resolução internacional, de modo que tais “alternativas” e que a existência da agência não possam ser decididas senão pela Assembleia Geral. É ali que a decisão deve ser tomada, principalmente no que se refere à sua sobrevivência ou ao fechamento de suas portas; ongs não têm nada a ver com isso.
O movimento do Secretário-Geral da ONU, independente de suas intenções, deve ser abordado pelos países representados na Assembleia Geral que apoiam a causa palestina e os direitos do povo palestino. Isto é, a maioria dos países da comunidade internacional, exceto Estados Unidos, Israel e poucos outros em débito com Washington, contados nos dedos de uma só mão. A principal responsabilidade assumida ao apoiar os palestinos repousa sobre os estados árabes e islâmicos, países não-alinhados, União Europeia, União Africana e aliados asiáticos.
Após Jordânia e Palestina conseguirem superar a enorme crise financeira e déficit que assolam a UNRWA nos últimos dois anos, a fim de preservar os serviços prestados às comunidades de refugiados palestinos em cinco áreas de operação, a agência deve engajar-se no perigoso embate político que põe em risco sua própria existência. Após o fracasso de tamanha pressão financeira para que a agência deixe de prestar serviços essenciais, como saúde e educação, agora a conjuntura requer uma nova frente internacional para que tais serviços prestados nos campos de refugiados palestinos possam sobreviver. Esta frente será liderada por Jordânia e Palestina, e deve incluir estados árabes e islâmicos. A frente internacional também deverá apoiar a UNRWA ao enfrentar o projeto israelo-americano nas Nações Unidas, cujo propósito é descobrir uma alternativa à agência por meio de ongs simpáticas à ocupação israelense na Palestina histórica.
Este artigo foi publicado inicialmente em árabe, no jornal Addustour, 4 de novembro de 2019
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