Justin Trudeau, Primeiro-Ministro do Canadá, afirmou nesta quinta-feira (9) que a queda do avião ucraniano em território do Irã, resultando na morte das 176 pessoas à bordo, deu-se provavelmente devido a um míssil iraniano. Trudeau alegou possuir informações da inteligência canadense e outras fontes para corroborar com tal declaração, segundo a agência de notícias Reuters.
A destruição do avião de carreira, do qual 63 passageiros eram canadenses, “pode muito bem ter sido não-intencional,” declarou Trudeau em coletiva de imprensa na capital Ottawa.
“Temos informações de inteligência de diversas fontes, incluindo nossos aliados e nossa própria inteligência. A evidência sugere que o avião foi derrubado por um míssil iraniano superfície-ar,” declarou o primeiro-ministro.
O voo da Ukraine International Airlines (UIA) de Teerã com destino à capital ucraniana Kiev caiu na última quarta-feira (8), horas depois do Irã atirar mísseis balísticos contra alvos americanos no Iraque, de modo que os iranianos estavam em alerta máximo para qualquer resposta militar dos Estados Unidos.
Trudeau afirmou que seu governo não descansará enquanto não obter respostas transparentes e a devida justiça, ao responsabilizar os culpados pelas mortes dos cidadãos canadenses à bordo do avião ucraniano.
Ainda na quinta-feira (9), pouco antes, um oficial americano, mencionando revisões extensivas de informações obtidas via satélite, anunciou que Washington concluiu com alto grau de certeza que mísseis antiaéreos foram responsáveis por derrubar o avião. O oficial alegou que o Boeing 737-800 foi captado por radares iranianos antes de sua queda.
O governo dos Estados Unidos acredita que o Irã derrubou o avião por engano, informação corroborada por três oficiais americanos que falaram à agência Reuters.
Segundo o relato de um dos oficiais, a informação demonstra que o avião esteve no ar por apenas dois minutos após decolar de Teerã, quando sua assinatura de calor foi detectada por dois mísseis de defesa superfície-ar. Logo depois, ocorreu uma explosão próxima ao avião, à medida que o registro térmico demonstrou que a aeronave estava em chamas enquanto perdia altitude. Tais assinaturas de calor referem-se a emissões infravermelhas detectadas por satélites militares americanos.
O jornal New York Times relatou ter obtido e verificado um vídeo que parece mostrar um míssil iraniano atingindo o avião perto do aeroporto de Teerã.
Exclusive: Video verified by The New York Times shows a Ukrainian airliner being hit over Tehran on Wednesday https://t.co/brU9ZRmRX9
— The New York Times (@nytimes) January 9, 2020
Entretanto, o Irã negou que o avião foi atingido por um míssil.
“Todos estes relatos são guerra psicológica contra o Irã … todos estes países cujos cidadãos estavam à bordo do avião podem enviar representantes e demandamos também a presença de um representante da Boeing para colaborar no processo de investigação da caixa preta,” afirmou Ali Rabiei, porta-voz do governo iraniano, em declaração oficial.
Um relatório inicial divulgado pela organização de aviação civil do Irã nesta quinta-feira (9) alegou que a aeronave de três anos de uso, cuja manutenção estava agendada para a próxima segunda-feira (13), enfrentou problemas técnicos pouco após decolar e alterou seu curso para um aeroporto próximo antes de cair.
O Presidente dos Estados Unidos Donald Trump afirmou a repórteres na Casa Branca que não acredita na possibilidade de problema mecânico como razão da queda da aeronave ucraniana.
“É algo trágico. Mas alguém pode ter cometido um erro – lá do outro lado,” declarou Trump.
Riki Ellison, especialista em defesa e fundador da Aliança de Promoção da Defesa de Mísseis, avaliou que a assinatura no radar de uma aeronave Boeing pode ser bastante semelhante a um avião de transporte militar americano.
“[Os iranianos] estavam em alerta máximo para derrubar qualquer coisa que se parecesse com uma aeronave americana. Alguém cometeu um erro ao identificar o Boeing como um avião de guerra,” declarou Ellison.
Uma vez que os mísseis foram disparados, seria impossível desviá-los, mesmo caso os operadores em solo percebessem o erro cometido, reiterou Ellison. “Uma vez que você os dispara, acabou.”
Tensões entre Washington e Teerã escalaram gravemente desde 3 de janeiro, quando o presidente americano Donald Trump ordenou um ataque a drone que resultou na morte de Qassem Soleimani, um dos mais proeminentes generais iranianos, perto do Aeroporto Internacional de Bagdá, Iraque.
Trump recuou de outras eventuais ações militares. Mohammad Javad Zarif, Ministro de Relações Exteriores do Irã, declarou que os ataques contra bases iraquianas que eventualmente abrigavam forças dos Estados Unidos “concluiu” a resposta de Teerã.
Investigações sobre quedas de aviões de carreira requerem a cooperação de reguladores, especialistas e companhias de diversas jurisdições internacionais. O processo pode levar meses até determinar com precisão a causa do incidente e a divulgação de um relatório inicial dentro de 24 horas é bastante incomum.
O avião ucraniano decolou às 6h12 e recebeu permissão para subir a 26.000 pés (7.925 m), segundo o documento oficial iraniano. Então caiu seis minutos depois, perto da cidade de Sabashahr. Não houve comunicação de rádio do piloto e a aeronave desapareceu do radar a 8.000 pés (2.440 m).
Corpos e partes dos corpos recuperados no local do incidente foram levados à perícia para identificação. Destroços carbonizados, incluindo roupas e sapatos, espalharam-se pelo terreno onde caiu o avião. Equipes de resgate com máscaras de proteção carregaram diversos corpos coletados em sacos mortuários.
A Ucrânia esboçou quatro cenários em potencial para explicar o incidente, incluindo ataque a míssil e terrorismo. O governo em Kiev anunciou que seus investigadores desejam ter acesso ao local da queda, para realizar buscas por possíveis destroços de um míssil fabricado na Rússia e utilizado pelo Exército do Irã.
O Conselho de Segurança nos Transportes do Canadá informou que foi convidado pelo Irã a ter acesso ao local do incidente e, portanto, está realizando os preparativos para a viagem.
O Irã convidou formalmente o Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos Estados Unidos (NTSB) para participar da investigação sobre o caso. A agência americana concordou em enviar um investigador especial, conforme relatou um oficial iraniano à Reuters.
A agência de transportes também informou ter designado um representante credenciado para a investigação. “O NTSB continua a monitorar a situação em torno do incidente e avalia seu nível de participação nas investigações,” comunicou em declaração.
A empresa Boeing anunciou que deverá apoiar as decisões do NTSB nas investigações. A companhia ainda está combalida por dois acidentes fatais de aeronaves do tipo 737 MAX em um período de cinco meses, que resultou na suspensão dos voos do modelo a partir de março de 2019. O 737-800 que caiu no Irã foi construído em 2016 e trata-se de uma geração anterior do mesmo modelo do 737 MAX. A Boeing fabricou cerca de 5.000 destes aviões, que possuem, no entanto, bons índices de segurança.
A Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA) suspendeu as operações de suas aeronaves sobre o espaço aéreo do Iraque, Irã e Golfo de Omã, além das águas internacionais entre Irã e Arábia Saudita, logo nas horas seguintes ao ataque iraniano sobre alvos da coalizão americana no Iraque. Diversas outras companhias aéreas também desviaram suas rotas de voo.
A organização de consultoria sobre segurança aérea OpsGroup informou que, após os comentários de Trudeau e oficiais americanos sobre a responsabilidade de mísseis iranianos no incidente, alguns voos em direção a Teerã foram orientados a retornar à sua origem ou desviar de seu destino. O grupo aconselhou os operadores de voo a não orientarem as rotas em direção ao Iraque ou Irã e afirmou que o fluxo de tráfego sobre ambos os países declinou gravemente nas últimas 48 horas.