Morre sultão de Omã Qaboos bin Said; primo é nomeado sucessor

O sultão de Omã Qaboos bin Said, um dos mais longevos governantes no poder, reconhecido por manter a neutralidade de seu país diante de diversas lutas regionais, faleceu nesta sexta-feira (10), em Masqat, capital do país. Seu primo, Haitham bin Tariq al-Said foi anunciado como sucessor em uma transição suave, segundo informações da agência Reuters.

Com sua morte, a região perdeu um líder experiente que inspirou confiança e equilíbrio nas relações entre dois países vizinhos envolvidos em disputas históricas por toda a região do Oriente Médio: Arábia Saudita, a oeste, e Irã, ao norte. Sob a liderança de Qaboos, Omã manteve também relações ponderadas com os Estados Unidos. É incerto se Omã manterá seu papel de mediador à medida que o novo sultão se estabeleça.

Omã declarou três dias de luto oficial com bandeiras a meio mastro por quarenta dias.

Qaboos bin Said, então com 79 anos de idade, era reconhecido e apoiado por países ocidentais e tomou o poder em um golpe de estado executado em 1970 – contudo, sem derramamento de sangue –, com ajuda do Reino Unido, ao obter independência como protetorado britânico.

Emissoras de televisão estatais registraram imagens do cortejo fúnebre que levou o corpo do sultão Qaboos pelas ruas de Masqat, escoltado por um grande aparato de segurança. Civis omanis acompanharam o funeral pela estrada de pinheiros na capital do país, muitos estendendo as mãos e outros registrando o momento com fotografias.

O caixão, envolvido na bandeira de Omã, foi então carregado à Grande Mesquita do Sultão Qaboos, onde centenas de pessoas juntaram-se em oração. O novo sultão levantou-se e permaneceu um instante diante da estife, com a adaga tradicional – khanjar – em sua cintura. Qaboos foi mais tarde enterrado em um cemitério da família.

Cidadãos omanis foram às redes sociais para registrar seu luto pela morte de um governante que costumava realizar viagens regulares por toda a nação a fim de conversar com a população, habitualmente dirigindo seu próprio carro nos comboios oficiais.

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“As primeiras palavras que escutei de minha mãe em lágrimas após a notícia da morte do grande sultão Qaboos foi: ‘O pai dos órfãos, dos pobres, dos oprimidos, de todos nós, faleceu,” compartilhou Abdullah bin Hamad al-Harti em sua página no Twitter.

“Nossas mentes não são capazes de compreender sua ausência,” outro usuário afirmou na rede social.

A mídia estatal de Omã não divulgou a causa da morte, mas sabe-se que Qaboos não estava bem de saúde há alguns anos e recebeu tratamento médico na Bélgica em dezembro de 2019.

Carta secreta é aberta

Qaboos não deixou filhos e não havia indicado publicamente seu sucessor. Um estatuto de 1996 afirma que a família no poder deve então escolher um sucessor dentro de três dias a partir da vacância do trono.

Haitham bin Tariq al-Said foi escolhido pelo conselho familiar da dinastia em reunião neste sábado (11). O conselho omani abriu na ocasião um envelope selado no qual Qaboos escreveu em segredo sua própria recomendação, caso a família não chegasse a um acordo. Preferiu-se seguir a orientação “sábia” do sultão falecido.

O novo sultão já serviu como Ministro da Cultura e Patrimônio Nacional e foi indicado em 2013 por Qaboos como presidente do principal comitê responsável pelo desenvolvimento de Omã.

“A indicação tranquila de um sucessor é um sinal positivo à medida que a falta de clareza era questão fundamental à incerteza econômica,” afirmou Monica Malik, economista-chefe do Banco Comercial de Abu Dhabi.

Haitham assume o poder diante de grandes desafios domésticos, como dificuldades no fechamento das contas públicas no país produtor de petróleo e alto índice de desemprego e débito estatal. A região também enfrenta uma escalada de tensões devido aos conflitos recentes entre Irã e Estados Unidos, representado no caso por aliados bastante próximos na Arábia Saudita.

“É incerto se algum dos vizinhos de Omã poderá pressionar o novo sultão à medida que este se estabelece no poder,” relatou à agência Reuters Kristian Coates Ulrichsen, especialista sobre Oriente Médio do Instituto Baker, filiado à Universidade Rice no Texas, Estados Unidos.

Omã, classificado por três agências de crédito majoritárias como país de não-investimento, planeja levantar o valor de US$ 5 bilhões em débitos locais e estrangeiros para cobrir parcialmente seu déficit orçamentário em 2020.

É improvável que qualquer sucessor aplique imediatamente medidas de austeridade que possam prejudicar a popularidade de um novo governo, afirmou Jason Tuvey, economista do centro de consultoria e pesquisa britânico Capital Economics, em nota divulgada recentemente.

Diplomacia

Diversos países expressaram suas condolências pela morte de Qaboos.

Os líderes da Jordânia, Egito e Emirados Árabes Unidos aclamaram o que descreveram como “líder sábio”. O ex-Presidente dos Estados Unidos George W. Bush afirmou em declaração que Qaboos representou uma força de estabilidade no Oriente Médio.

Omã mantém relações amistosas com Washington e Teerã e ajudou a mediar as negociações secretas entre ambos os países em 2013, que levou, dois anos mais tarde, ao pacto nuclear internacional, revogado unilateralmente por Donald Trump, em 2018.

Masqat não assumiu partido em uma disputa no Golfo na qual a Arábia Saudita e seus aliados impuseram um boicote severo ao Catar, em meados de 2017, tampouco filiou-se à coalizão militar liderada pelos sauditas que interveio no Iêmen contra o movimento houthi, aliado ao Irã.

A centralidade diplomática de Omã representou um fator significativo da personalidade de Qaboos, afirmou Simon Henderson, do Instituto Washington para Políticas do Oriente Próximo. “É difícil saber como Omã pode envolver-se agora nas questões do Iêmen, Irã e Catar, até que o novo líder se estabeleça de fato – isto é, no futuro próximo,” comentou Henderson.

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