Questões de segurança estiveram entre as alegações do presidente Jair Bolsonaro para cancelar sua ida ao Fórum Econômico Mundial de Davos, que ocorrerá entre os dias 21 e 24 de janeiro. “O mundo tem seus problemas, questão de segurança” – disse o presidente.
O anuncio formal da desistência foi feito em 8 de janeiro, um dia após o governo ter sido cobrado pelo Irã sobre seu posicionamento pró Estados Unidos no caso do atentado ordenado pelo presidente Donald Trump, que matou o general Qassim Soleimani, em 3 de janeiro último.
Nota do Itamaraty de 4 de janeiro afirmava que “o governo brasileiro manifesta seu apoio à luta contra o flagelo do terrorismo e reitera que essa luta requer a cooperação de toda a comunidade internacional sem que se busque qualquer justificativa ou relativização para o terrorismo”.
Em resposta, no dia 7, o Irã convocou Maria Cristina Lopes, a encarregada dos negócios do Brasil em Teerã, para explicar o posicionamento do Itamaraty , gerando apreensões no governo. O país é o maior importador de milho do Brasil e um dos seus principais compradores de soja.
A cobrança iraniana foi seguida de novos gestos de aproximação dos Estados Unidos.
Ontem (14), Trump acenou novamente com o apoio para que o Brasil seja admitido na OCDE, uma promessa que havia sido esquecida ao dar preferência à indicação da Argentina, ainda sob o governo pró-EUA de Maurício Macri.
A imprensa brasileira aponta, no entanto, mais motivos para que Bolsonaro tente escapar de Davos. Um deles é a lembrança da repercussão negativa de sua primeira aparição, no ano passado, quando não têve nada a dizer, mesmo recém empossado para governar o Brasil. A outra, e considerada mais importante, é o fato de que o Fórum de Davos pretende dar destaque à agenda climática e, dentro dela, às denúncias de destruição da floresta amazônica com a complacência do governo brasileiro – responsabilizado diretamente nesta segunda-feira, por um relatório do Observatório de Direitos Humanos.
Davos terá pelo 55 sessões sobre meio ambiente, contra 27 sobre economia, e dedicará o dia 22 a discutir a Amazônia. Além disso, dará voz de destaque à ativista, Greta Thunberg, que Bolsonaro chamou de pirralha. Mas Brasil será representado pela área econômica, sob a liderança do ministro Paulo Guedes, e não confirmou nenhum representante da área ambiental.
Quanto às questões de segurança alegadas pelo Brasil, o assunto não mereceu maior especulação por parte da imprensa brasileira, que deu atenção à expectativa quanto à presença do presidente dos EUA à ausência de representante do Irã.
“Temos que entender o cancelamento do ministro das Relações Exteriores do Irã, Zarif, diante do cenário de incerteza na região e o que está ocorrendo no Irã”, disse o presidente do fórum, Borge Brende, em uma entrevista coletiva nesta terça (14).
Caso Trump confirme participação, o presidente brasileiro deve voltar a ser questionado por querer fugir dos holofotes de Davos, onde poderia igualmente enfrentar a pirralha que o acusa de destruir o planeta e “reforçar pessoalmente seu apoio ao colega americano no conflito dos Estados Unidos com o Irã (ou no que quer que seja)” – como argumenta a revista Exame.
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