Os palestinos perceberam que o presidente americano Donald Trump está tentando fortalecer Israel e isolar completamente a Autoridade Palestina e a Organização de Libertação da Palestina (OLP). Quando o governo Trump encerrou a missão palestina em Washington em 2018, os líderes palestinos descreveram a decisão como “uma declaração de guerra” contra os esforços de paz. E quando o governo transferiu sua embaixada de Tel Aviv para Jerusalém contra todos os acordos internacionais e resoluções da ONU, o negociador-chefe palestino Saeb Erekat disse que Donald Trump substitui o direito internacional pelo “direito da selva”. Com mais veemência, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, acusou os EUA de não serem mais qualificados para atuar como intermediários da paz.
Desde então, a liderança palestina não mostra nenhum sinal de estar buscando um mediador da paz alternativo que possa preencher o vácuo do governo americano. Essa incapacidade de encontrar um substituto pode ser atribuída a várias razões. Primeiro, a relutância inequívoca dos israelenses e, especialmente, do atual primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, em abandonar o “presente celestial” chamado Donald Trump, que sem hesitar dá a Israel o que quer sem pedir retorno. Em segundo lugar, a atual estrutura das Nações Unidas é totalmente impotente para desafiar a vontade americana e buscar outras rotas para intermediar negociações bilaterais entre israelenses e palestinos. E, finalmente, a hesitação injustificada da Autoridade Palestina de se afastar da órbita dos americanos, temendo mais sanções e punições coletivas, as mesmas impostas à UNRWA.
A agenda do atual governo americano se materializou de maneira fragmentada, e não como parte de uma estratégia compreensível. O pior é que não há sugestões de que os auxliares e assessores do governo de Trump tenham considerado as repercussões a longo prazo dessa abordagem, deixando aos palestinos espaço para buscar outras opções.
Graças a essa política americana, o processo de paz moribundo agora está morto e se preparando para ser enterrado. Uma guerra entre a Faixa de Gaza e Israel pode entrar em erupção a qualquer momento. A Faixa de Gaza está literalmente à beira do colapso e todas as opções estão quase consumidas. Se o fantasma da guerra fosse desencadeado e estivesse fora de controle, qual poder interviria para impedir uma catástrofe humanitária contra os civis na Faixa de Gaza sitiada e impedir a brutalidade usual de Israel e o uso excessivo de força?
O papel da Rússia não impressiona
A pegada política, diplomática, militar e econômica da Rússia no Oriente Médio e Norte da África (MENA) expandiu-se visivelmente na última década. Tem apoiado o regime do presidente sírio Bashar Al-Assad e agora está assumindo um papel mais ativo na Líbia, onde apóia o general Khalifa Haftar contra o governo de acordo nacional da ONU.
A Síria está para ver a Rússia em contato regular com Israel, que também esteve envolvido no bombardeio do país devastado.
Em 2018, Rússia e Israel conseguiram neutralizar as tensões depois que um avião russo IL-20 foi derrubado pelos sistemas de defesa do regime sírio em meio a um ataque aéreo israelense. O incidente sinalizou bons canais de comunicação entre os líderes dos dois países. No entanto, quando se trata do conflito palestino-israelense, o envolvimento da Rússia é bastante superficial. Os palestinos estão interessados em ter a Rússia como mediadora da paz, mas os israelenses não têm vontade de abandonar o governo americano.
Para os israelenses, as relações da Rússia com os iranianos e o regime sírio a desqualificam de ser um potencial intermediário da paz. Mais importante, Tel Aviv não pode digerir que Moscou não reconhece o Hamas como uma organização terrorista. Pode-se argumentar, no entanto, que as boas relações de Moscou com a liderança de Teerã e Hamas são uma vantagem que pode facilitar as negociações e envolver facções palestinas realmente ativas que foram excluídas pelos mediadores americanos. Para os palestinos, a Rússia é um moderador essencial das negociações internas de reconciliação. Moscou sediou a última rodada de negociações em 2019.
Segundo informações, a Rússia está tentando sediar negociações de paz entre israelenses e palestinos, mas suas tentativas não deram frutos por causa da intransigência israelense.
Os EUA fornecem a Israel 3,8 bilhões de dólares em ajuda militar estrangeira anualmente. Israel também se beneficia de cerca de 8 bilhões de dólares em garantias de empréstimos. Há sérias dúvidas de que Moscou esteja disposto, ou seja capaz, de competir com Washington como principal e mais generoso patrocinador e doador de Israel.
O papel da Turquia como mediador da paz
As relações entre Israel e a Turquia remontam a 1949, quando a Turquia foi o primeiro país de maioria muçulmana a reconhecer o Estado de Israel. Durante décadas, os dois países deram alta prioridade à cooperação militar, estratégica e diplomática. Em 2005, Erdogan visitou Israel e se ofereceu para servir como mediador da paz no Oriente Médio. Ancara foi uma das principais potências regionais que convenceram o Hamas a participar das eleições de 2006. No entanto, o ponto de virada nas relações entre Israel e a Turquia foi a guerra de 2008-2009 em Gaza, que prejudicou seriamente as relações. Mais tarde, em 2010, o assassinato de dez ativistas turcos a bordo de uma flotilha de ajuda turca à Faixa de Gaza dizimou as relações. Ancara descreveu as políticas de Israel na Faixa de Gaza como “terrorismo patrocinado pelo Estado”.
Erdogan também comparou as políticas de Israel em Gaza ao tratamento nazista dos judeus. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, criticou o presidente turco, dizendo: “Alguém que não para de mentir, que mata os curdos, que nega o massacre dos armênios, não deve pregar a Israel”.
Os golpes verbais de Netanyahu e Erdogan sobre Gaza indicam que Israel considera a Turquia pró-palestinos e, como tal, não pode ser um intermediário de paz imparcial.
A chave para os palestinos é violar o monopólio da administração americana como o único intermediário da paz que declarou sua parcialidade. Os palestinos gostariam de obter o engajamento da União Europeia e deveriam até incentivar mais poderes a serem envolvidos. A Turquia definitivamente entraria pelo menos como observadora em qualquer negociação futura. A trajetória da atual política externa da Turquia mostra seu interesse em se apresentar como mais influente no Oriente Médio.
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