Segundo observadores e comentaristas, ao anunciar seu controverso plano para a Palestina nesta terça-feira (28), o Presidente dos Estados Unidos Donald Trump tinha como objetivo resgatar seu aliado Benjamin Netanyahu – Primeiro-Ministro de Israel – das acusações de corrupção impostas sobre sua figura pública, além de auxiliá-lo em sua campanha para reeleição.
As informações são da Agência Anadolu.
“Trump está tentando favorecer a posição de Netanyahu nas eleições marcadas para março deste ano, ao promovê-lo como líder responsável por conquistar todas as demandas feitas por grupos de extrema-direita. Desta forma, seria capaz de capturar novamente o mandato de primeiro-ministro”, relatou Sami al-Arian, diretor do Centro para Assuntos Islâmicos e Globais (CIGA), com sede em Istambul, Turquia.
Arian afirmou que a medida de Trump também poderá salvar Netanyahu de uma provável condenação à prisão, indiciado por diversas acusações de corrupção. Entretanto, o especialista reiterou que a razão para convidar também o principal adversário de Netanyahu – Benny Gantz, líder do partido Azul e Branco (Kahol Lavan) – se dá como tentativa de expressar uma suposta não-interferência americana nas eleições israelenses.
Arian, acadêmico e ativista palestino nos Estados Unidos por mais de quatro décadas, declarou então que o chamado “acordo do século” será responsável por marginalizar ainda mais a participação palestina.
“[O plano] tem como objetivo removê-los da tomada de decisão, ao tentar coibir outras potências regionais – especialmente Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e talvez Jordânia – a comprarem a proposta em detrimento da participação palestina. Assim, não teriam de lidar com qualquer tipo de questão referente ao status final do conflito”, argumentou o diretor do CIGA.
Arian ainda caracterizou as atuais relações entre Israel e Estados Unidos como “bastante complicadas”, à medida que o governo americano tenta fortalecer as posições israelenses no Oriente Médio, a fim de implementar seus objetivos na região.
“Penso que há muitos exemplos de que há uma nova tentativa por parte das potências colonialistas de impor seus anseios ao Oriente Médio. Entretanto, o que de fato ocorre é que a população resiste e penso que veremos agora uma resistência ainda maior não apenas dos palestinos, mas de pessoas por toda a região”, acrescentou Arian, ao reafirmar que espera “grande oposição ao plano”.
Segundo ele, o resultado não se dará apenas regionalmente, mas também na arena internacional. “Penso que, no fim, isso levará as pessoas a acelerar as ações de resistência. Acredito que, com a morte da solução de dois estados, deverá haver uma mudança de fato no mapa regional”, afirmou.
O especialista também alegou que a conferência econômica no Bahrein, realizada em meados de 2019 e chefiada por Jared Kushner – conselheiro sênior e genro de Trump –, “efetivamente encerrou o processo de Oslo”.
“As estimativas de Kushner giravam em torno de US$ 50 bilhões, dos quais US$ 27 bilhões seriam oferecidos ao povo palestino ao longo de um período de dez anos; ao dividir essa soma pelo número de palestinos, representaria menos de US$ 100 para cada palestino em um período de dez anos”, denunciou Arian. “Hoje, os palestinos recebem mais do que a oferta propõe, basta simplesmente manter a posição.”