O Presidente dos Estados Unidos Donald Trump propôs nesta terça-feira (28) a criação de um estado palestino com capital em Jerusalém Oriental, a depender de medidas tomadas pelos palestinos para tornar-se autônomo, em esforço para alcançar algum avanço político sobre décadas de conflito com Israel. As informações são da agência Reuters.
Oficiais de alto escalão da administração de Trump, em informe oficial à Reuters sobre o plano anunciado na Casa Branca, disseram que sob o plano de paz para o Oriente Médio proposto pelo presidente americano, os Estados Unidos deverão reconhecer os atuais assentamentos israelenses na Cisjordânia ocupada como legítimos.
Em troca, Israel deverá concordar com um congelamento de quatro anos nas atividades de novos assentamentos, enquanto o estado palestino é de fato negociado.
“Hoje Israel deu um passo gigante em direção à paz”, declarou Trump ao anunciar o plano na Casa Branca, ao lado do Primeiro-Ministro de Israel Benjamin Netanyahu. Trump alegou ter enviado uma carta sobre a questão ao Presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas.
“Este é um dia histórico”, afirmou Netanyahu, ao comparar o plano de Trump com o reconhecimento do Estado de Israel pelo então presidente Harry Truman, em 1948. “Neste dia, você se torna o primeiro líder mundial a reconhecer a soberania de Israel sobre áreas na Judeia e Samaria, vitais para nossa segurança e centrais para nosso patrimônio”, reiterou o primeiro-ministro, utilizando nomes bíblicos para referir-se à Cisjordânia ocupada.
Embora líderes israelenses tenham acolhido o tão aguardado plano de Trump, líderes palestinos o rejeitaram em absoluto, mesmo antes de seu lançamento oficial, denunciando que a atual gestão americana é tendenciosa em relação a Israel.
A ausência dos palestinos no anúncio de Trump provavelmente reforçará as críticas de que o plano tende a favorecer as demandas israelenses em detrimento das necessidades palestinas.
As negociações entre Israel e Palestina foram interrompidas em 2014 e ainda é bastante improvável que o plano de Trump possa ressuscitá-las.
Oficiais americanos alegaram prever algum ceticismo inicial por parte dos palestinos, mas dizem ter esperanças de que aceitarão as negociações com o tempo. A proposta de Trump impõe grandes obstáculos para que os palestinos de fato consigam conquistar seu objetivo de estabelecer um estado.
Ainda não se sabe como Israel deverá reagir, dadas as pressões enfrentadas por seu primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, em campanha por reeleição pela terceira vez em menos de um ano, além de acusações por casos de corrupção.
O plano dos Estados Unidos representa a mais dramática e detalhada tentativa para romper o impasse histórico entre Israel e Palestina em anos, resultado de três anos de esforços conduzidos pelos conselheiros de Trump, Jared Kushner e Avi Berkowitz, além do ex-conselheiro para Oriente Médio, Jason Greenblatt.
Os oficiais relataram que Trump de fato apoia o mapa proposto para delimitar os dois estados. O estado palestino deverá ter o dobro das terras que atualmente controla e, embora fragmentado, deverá ser conectado por estradas, pontes e túneis, declarou uma fonte oficial.
Trump informou Netanyahu e seu principal adversário político Benny Gantz – líder do partido de oposição Azul e Branco (Kahol Lavan) – sobre os detalhes da proposta em reunião separada com ambos na última segunda-feira (27).
Ao serem questionados se Washington estaria preparado para avançar nas negociações, os oficiais afirmaram que depende da disposição dos palestinos para negociar. Segundo os oficiais, tanto Netanyahu quanto Gantz alegaram disposição para apoiar os esforços.
Líderes israelenses concordaram em negociar com base no plano de Trump e aceitaram o mapa proposto, relataram os oficiais. A anuência de Israel para o estabelecimento de um estado palestino, no entanto, depende de um acordo de segurança para proteger os israelenses.
Israel supostamente deverá assumir medidas para garantir acesso dos muçulmanos à Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, além de respeitar o papel da Jordânia na administração e manutenção dos lugares sagrados.
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Segundo os oficiais, o estado palestino dependerá também de medidas dos próprios palestinos para estabelecer sua autonomia, tais como: respeito aos direitos humanos, liberdade de imprensa e instituições confiáveis e transparentes.
“Ao estabelecer o mapa é incrivelmente difícil criar continuidade para um estado palestino com base no que ocorreu nos últimos 25 anos, então, caso não efetuarmos este congelamento agora, penso que perderão sua chance de ter um estado para sempre”, declarou um dos oficiais ao referir-se à expansão dos assentamentos judaicos nos territórios ocupados.
“Então, o que fizemos foi basicamente comprar mais quatro anos para que possam agir em parceria e tentar negociar um acordo para estabelecer um estado, e acho que se trata de uma grande oportunidade para eles”, reiterou.
O oficial disse ainda que permanece, entretanto, uma questão primordial sobre os palestinos: “Eles virão à mesa para negociar?”
Caso concordem em negociar, há algumas áreas que possam ser concedidas no futuro, relatou o oficial sem dar detalhes.
O plano de Trump demanda que os palestinos em diáspora possam retornar a um futuro estado da Palestina e cria um “generoso fundo indenizatório”, alegou o oficial americano.
Sobre a manutenção dos atuais assentamentos israelenses, um dos oficiais em questão afirmou: “O plano é baseado no princípio de que ninguém deverá mudar-se para conquistar a paz… Mas de fato interrompe futuras atividades de expansão de assentamentos, o que consideramos ser uma abordagem mais realista.”
“A noção de que centenas de milhares de pessoas, ou dezenas de milhares de pessoas, serão removidas de suas casas, sob uso da força ou não, simplesmente não vale a pena ser considerada”, declarou.
Ainda antes do anúncio de Trump, milhares de palestinos reuniram-se para protestar na Cidade de Gaza. Tropas israelenses reforçaram suas posições perto de um ponto crítico entre a cidade de Ramallah – sede da Autoridade Palestina – e o assentamento judaico de Beit El, na Cisjordânia.
Um porta-voz de Netanyahu anunciou que líder israelense deverá voar para Moscou nesta quarta-feira (29) para informar o Presidente da Rússia Vladimir Putin sobre as propostas de Trump.
Líderes palestinos denunciaram que sequer foram convidados à cerimônia em Washington e reiteraram que nenhum plano poderá ser bem sucedido sem a participação dos palestinos.
Na segunda-feira, o líder Mahmoud Abbas declarou que não concordará com nenhum acordo que não seja capaz de garantir a solução de dois estado. Esta fórmula – base para muitos anos de esforços frustrados para alcançar a paz na região – contempla a ideia de Israel coexistindo com um estado palestino sem intervenções militares.
Os palestinos recusaram-se a negociar com a gestão de Trump em protesto a políticas absolutamente enviesadas do presidente americano, como a transferência da embaixada dos Estados Unidos de Tel Avi para Jerusalém, o reconhecimento dos assentamentos na Cisjordânia ocupada e da soberania israelense sobre o território sírio das Colinas de Golã. Os palestinos exigem que Jerusalém Oriental, ocupada desde 1967, seja estabelecida como sua futura capital em um estado autônomo.
Em novembro, a administração de Trump reverteu décadas de políticas dos Estados Unidos quando o Secretário de Estado Mike Pompeo declarou que Washington já não considera mais que os assentamentos na Cisjordânia sejam ilegais conforme o direito internacional. Palestinos e a maior parte da comunidade internacional os consideram terminantemente ilegais; Israel contesta.
Tanto Trump quanto Netanyahu enfrentam desafios políticos em seus respectivos países, ambos em ano eleitoral. Trump sofre um processo de impeachment aprovado na Câmara dos Representantes em dezembro e está sob julgamento no Senado devido a acusações de abuso de poder.
Na terça-feira, Netanyahu foi formalmente indiciado sob acusações de corrupção, após recuar de sua moção por imunidade parlamentar referente ao caso.
Ambos negam qualquer delito.