Forças do comandante dissidente Khalifa Haftar não permitirão que a Organização das Nações Unidas utilize o único aeroporto em funcionamento em Trípoli, capital da Líbia, conforme reportado nesta quarta-feira (12) por um porta-voz do grupo rebelde. As informações são da agência Reuters.
A ONU alertou anteriormente que restrições a voos executadas pelas forças de Haftar – autodenominadas Exército Nacional da Líbia – prejudicam gravemente os esforços humanitários e de mediação no país produtor de petróleo, envolto em conflitos entre facções rivais desde 2014.
As forças de Haftar, apoiadas por Egito e Emirados Árabes Unidos (EAU), tentam desde abril de 2019 capturar a capital Trípoli. Até então, sem sucesso em romper as defesas da cidade.
Entretanto, possuem superioridade aérea devido a drones de combate fornecidos pelos aliados emiradenses, capazes de cobrir todo o território líbio via satélite, conforme relatado pela ONU em novembro último.
Ahmed Mismari, porta-voz das forças de Haftar, afirmou a repórteres na cidade de Benghazi, oeste do país, que as Nações Unidas terão de utilizar outros aeroportos, como Misrata, pois não é possível garantir a segurança dos voos no Aeroporto Internacional de Mitiga, em Trípoli, utilizado como base militar pela Turquia.
Por sua vez, a Turquia forneceu drones de combate ao Governo de União Nacional, reconhecido internacionalmente e sediado em Trípoli, além de instrumentos sofisticados de defesa aérea. Os equipamentos operam a partir de Mitiga.
Também nesta quarta-feira, os quinze membros do Conselho de Segurança da ONU aprovaram sua primeira resolução sobre a Líbia desde a eclosão do conflito sobre Trípoli. A resolução expressa “grave preocupação sobre a exploração do conflito por violentos grupos terroristas” e exige que as partes comprometam-se a um cessar-fogo duradouro, nos termos acordados pela Comissão Militar Conjunta do país.
O Conselho de Segurança ainda expressou preocupações sobre o crescimento do envolvimento de mercenários na Líbia.
David Schenker, diplomata sênior dos Estados Unidos para Oriente Médio e Norte da África, relatou ao Comitê de Relações Exteriores do Senado americano que a tarefa de trazer de volta as partes líbias à mesa de negociação complicou-se recentemente pelo envolvimento de agentes externos.
“A Líbia não é lugar para mercenários russos ou combatentes da Síria, Chade e Sudão. Não é lugar para emiradenses, russos e turcos lutarem em terra por intermediários, patrocinados ou apoiados por eles”, declarou o diplomata em depoimento.
A Comissão Militar Conjunta da Líbia consiste de cinco oficiais de alto escalão das forças de Haftar e cinco oficiais de alto escalão do Governo de União Nacional.
Na última semana, as facções rivais deram início a mais uma rodada de negociações mediadas pela ONU, em Genebra, Suíça, a fim de assegurar um eventual cessar-fogo. Contudo, voltaram a fracassar, em primeiro momento.
A Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (UNSMIL) afirmou que as forças de Haftar bloqueiam há três semanas voos da ONU com equipes e suprimentos, para dentro e fora do país.
Uma fonte humanitária na Líbia relatou que Haftar impõe uma “zona de exclusão aérea” sobre Trípoli, como parte do cerco, e que há preocupações de que voos das Nações Unidas tornem-se alvos militares.
O enviado da ONU à Líbia, Ghassan Salamé, é responsável por mediar as conversas entre Haftar e o governo estabelecido em Trípoli. Entretanto, a missão das Nações Unidas condenou reiteradamente a onda de ataques aéreos executados pelas forças de Haftar, embora não tenha mencionado a facção por nome.
As relações se deterioraram quando as Nações Unidas declararam em relatório divulgado em janeiro que Benghazi – principal posto avançado de Haftar – tornou-se “foco de atividades econômicas ilegais, incluindo tráfico de armas e drogas”. A ONU também criticou as atividades de grupos armados no oeste da Líbia.
Mismari acusou Salamé de parcialidade contra as forças de Haftar; as Nações Unidas negaram a acusação.
A missão da ONU tem base em Trípoli e fornece auxílio humanitário para refugiados e deslocados internos pelo conflito na Líbia. Atualmente, há cerca de 170 funcionários das Nações Unidas espalhados pela Líbia e Tunísia, país vizinho.