Conforme o mundo assiste, os horrores de Idlib torna-se cada vez mais claros diante de todos. O último bastião de resistência ao regime de Assad, a província de Idlib, está à beira do desastre. Quase nove anos depois, às vésperas do décimo ano do levante contra o brutal ditador, a comunidade internacional de fato fracassou com o povo sírio e sua promessa de apoiá-lo. Idlib está sob fogo pesado lançado pelo regime de Assad e seus aliados russos, embora represente a última esperança da revolução síria. A queda de Idlib incorre em um novo êxodo de massa, conforme milhares de refugiados tentam fugir à Europa via Turquia.
O povo de Idlib pede ao mundo por apoio contra os aviões de guerra de Bashar al-Assad, auxiliados pela Rússia, Irã e Hezbollah. No mínimo, uma zona de exclusão aérea deve ser instituída. O processo político de Genebra deveria ser respeitado, mas parece tarde demais. E embora a intervenção turca seja um desenvolvimento bem-vindo na crise de Idlib, a Turquia sozinha é incapaz de interromper a queda da província diante do regime de Assad e aliados russos, que implementaram mais de 215 novos armamentos avançados durante o conflito. As promessas de longa data da comunidade internacional à causa síria foram bastante infrutíferas; haveria esperança, mas sobretudo ingenuidade, em presumir muito mais. A Organização das Nações Unidas demonstrou-se incrivelmente impotente graças ao veto da Rússia no Conselho de Segurança, utilizado catorze vezes apenas para proteger Assad por meios supostamente legais e diplomáticos. Embora a Rússia discurse sobre defender a lei e a “soberania” síria – o que é irônico, dado que a Rússia essencialmente governe a Síria como colônia –, é evidente que o espírito da lei não é respeitado. Aos olhos do povo sírio comum, a Rússia é considerada potência ocupante, responsável por diversas atrocidades. Relatório recente da ONU acusou as forças russas de cometer crimes de guerra na Síria.
Estados Unidos, enquanto isso, estão preocupados com as eleições presidenciais de 2020. Reino Unido e União Europeia ainda estão atolados nas negociações pós-Brexit. Os estados árabes também enfrentam situações políticas bastante precárias. Não obstante, nada disso é desculpa. Conforme crimes de guerra e lesa-humanidade são cometidos flagrantemente pelo regime de Assad, os estados e instituições apenas assistem, como se paralisados. Após o espectro do Iraque, é compreensível certa hesitação para agir, mas o custo da falta de ação pode ser talvez mais alto do que o oposto. Os momentos mais oportunos para reagir ao regime de Assad ficaram para trás, em meados de 2012 e 2013; entretanto, ao menos poderia ser evitada a catástrofe humanitária em Idlib, com qualquer ação decisiva conduzida pela comunidade internacional.
A queda de Idlib e qualquer reconciliação com o regime de Assad não levará à paz e estabilidade; precisamente o contrário. Levará a um sentimento de vingança e retribuição diante das forças do governo e do Shabiha – milícia a serviço da dinastia no poder –, à medida que milhares perecerão nas cadeias de Assad. Refugiados que deixaram o país serão incapazes de retornar sob ameaças de tortura e morte feitas àqueles que fugiram de Idlib. A cidade, afinal, era considerada um santuário para aqueles que deixaram anteriormente outras áreas mantidas pelos rebeldes, como Homs e Ghouta, e que caíram nas mãos do regime no decorrer dos últimos anos. O regime de Assad não pode simplesmente se reabilitar; este é um fato simples. Nenhuma forma de “realpolitik” poderá varrer para debaixo do tapete os crimes cometidos por Bashar al-Assad. Necessidade de responsabilizá-lo é grande, mas carece de vontade política.
Os chamados arquivos César são relevantes para qualquer discussão sobre o regime de Assad. Dezenas de milhares de fotos vazadas por um ex-fotógrafo militar que desertou do Exército da Síria nos primeiros anos do levante são prova cabal da máquina sistemática de assassinatos. A revista Times chegou ao ponto de descrever as evidências como “pequeno olhar sobre um novo Holocausto”. Entretanto, nada de substancial é feito para ajudar o povo sírio a superar este pesadelo imposto pelo regime. Mesmo após os horrores vivenciados pelo século XX, novos horrores certamente virão.
O povo sírio foi dolorosamente enganado, mas muitos ainda possuem esperanças de que uma nova primavera traga de volta o espírito da Primavera Árabe, que começou na Tunísia e levou a protestos na Praça Tahrir, Egito, antes de chegar à Síria pelas crianças de Daraa, em março de 2011. O povo luta por uma Síria livre de Bashar al-Assad; um país democrático, que preserva a justiça, os direitos humanos e o estado de direito. Enquanto isso, porém, o mundo meramente assiste enquanto Idlib queima.
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