Após meses de antecipação, Ali Babacan e outros ex-ministros dissidentes do governo do Presidente da Turquia Recep Tayyip Erdogan criaram um novo partido para rivalizar com o partido governista Justiça e Desenvolvimento (AKP).
Membro fundador do AKP, que governa a Turquia desde 2002, Babacan serviu como ministro da economia e das relações exteriores antes de tornar-se vice-primeiro-ministro, posto mantido entre 2009 e 2015.
A gestão de Babacan sobre a economia turca é considerada principal responsável pelo crescimento e desenvolvimento nacional conquistado na década de 2000, logo após Erdogan chegar ao poder. Em 2019, Babacan anunciou que estabeleceria seu próprio partido junto de outros ex-oficiais do AKP.
Segundo a rede de notícias britânica Middle East Eye, fontes relataram que o partido deverá receber o nome de Democracia e Progresso, com acrônimo turco Deva, que significa “remédio”. O novo partido ainda não confirmou oficialmente o título, mas deverá fazê-lo em coletiva de imprensa nesta quarta-feira (11).
Babacan deixou o AKP em julho do último ano, após destacar uma série de divergências com o governo atual em relação ao estado de direito, democracia e políticas econômicas.
O político turco ainda declarou que formaria um novo partido antes do início de 2020, mas relatos indicam que enfrentou obstáculos internos para tanto, como dificuldade na contratação de pessoal e divergências sobre o programa político.
Em entrevista à Fox News da Turquia, Babacan afirmou: “Precisamos reviver o estado de direito, as liberdades e os valores universais, para criar melhores condições de vida na Turquia para seus cidadãos.” Babacan também criticou a administração de Erdogan, ao alegar: “É impossível alcançar tais objetivos com o atual governo. O país não pode prosperar com esta forma de fazer política.”
Nos anos recentes, Erdogan e seu partido viram-se alvos de críticas significativas sobre supostos abusos contra seus princípios democráticos previamente estabelecidos, particularmente após o fracassado golpe de estado contra o governo em julho de 2016 e a consequente repressão em todo o país, responsável por milhares de prisões em todos os nichos da sociedade.
Desde então, o governo de Erdogan realizou operações para reprimir opositores e condenar uma suposta relação do golpe com o movimento liderado pelo teólogo Fethullah Gulen. Segundo relatos, a liberdade de imprensa também foi severamente reprimida após o episódio.
As acusações ganharam força com o referendo proposto por Erdogan para alterar a constituição e adotar na Turquia um sistema presidencial. A votação popular deferiu a proposta de Erdogan e lhe concedeu novos poderes como Presidente da República. Entretanto, Babacan e aliados prometeram que seu novo partido tentaria reverter a decisão para o sistema de democracia parlamentar.
Babacan não é o único ex-oficial do governo a participar da fundação do novo partido, que inclui outros ex-ministros, como Sadullah Ergin, Nihat Ergun e Selma Aliye Kavaf. Conforme revelado, outro membro fundador é Mustafa Yeneroglu, ex-oficial de alto escalão e parlamentar do AKP, expulso do partido de Erdogan em 2019, por divergências sobre supostas violações de direitos humanos cometidas pelo governo turco.