Uma fala de Muhammad Mukhtar Juma, Ministro de Bens Religiosos do Egito, resultou em controvérsia generalizada, após o oficial do governo do Presidente Abdel Fattah el-Sisi afirmar que o grupo de oposição Irmandade Muçulmana pretende espalhar deliberadamente o coronavírus entre militares, policiais, juízes e personalidades de mídia.
Ativistas de diversas entidades e nichos replicaram acusações semelhantes contra a Irmandade Muçulmana, em evidente deboche, como: o entupimento de bueiros durante as chuvas, o aumento dos preços nos limões e vegetais e a explosão demográfica.
Na quarta-feira (11), o Ministro de Bens Religiosos do Egito afirmou: “Filiados da Irmandade Muçulmana perderam seu equilíbrio mental e chegaram a níveis sem precedentes de criminalidade, para além de qualquer percepção humana; tornaram-se uma ameaça global. Pedimos ao mundo todo que reconheça a perturbadora verdade sobre a Irmandade, conforme alguns de seus elementos criminosos apelam para espalhar o coronavírus a pessoas inocentes.”
Na declaração publicada no site oficial do ministério, Juma prosseguiu: “Alguns dos membros da organização clandestina convocaram seus colegas infectados com coronavírus a espalhar a doença entre membros do exército, polícia, judiciário e imprensa, além de cidadãos inocentes, o que reflete o estado extremo de desequilíbrio mental, psicológico e humano da Irmandade.”
A declaração do ministro foi bem recebida pela Câmara de Representantes. Mahmoud Hussein, parlamentar da Comissão de Esportes e Juventude da câmara, anunciou seu apoio: “Todos temos o papel de comunicar ao mundo todo a mensagem urgente emitida por nosso Ministro de Bens Religiosos. A organização terrorista internacional Irmandade Muçulmana representa uma ameaça iminente à segurança e à paz internacional.”
Apesar da onda de críticas decorrente dos comentários de Juma, o ministro insistiu na posição, ao divulgar outra declaração na noite de quarta-feira, via site oficial: “Em resposta aos apelos de alguns elementos do grupo terrorista Irmandade Muçulmana para espalhar coronavírus entre aqueles considerados inimigos ou oponentes, qualquer um que transmita deliberadamente uma doença mortal, como HIV ou qualquer outro vírus que leve à morte, deve ser considerado assassino.”
A declaração de Juma foi recebida com críticas contundentes por ativistas, que destacaram que a acusação de que a Irmandade Muçulmana está espalhando o coronavírus, classificado como epidemia global pela Organização Mundial da Saúde (OMS), reflete o juízo de valor absolutamente limitado e a falta de raciocínio lógico do acusador.
Ativistas também reiteraram que o atual regime militar do Egito, sempre que fracassa diante de uma crise, recorre a alegações conspiratórias contra a Irmandade Muçulmana, grupo adversário de Sisi posto na ilegalidade após golpe de estado conduzido contra o então presidente Mohamed Morsi, em 2013.
Segmentos da sociedade acreditam que o regime egípcio utiliza a Irmandade como pretexto para encobrir suas falhas. Ativistas também afirmaram que este padrão de comportamento confirma a gravidade do contágio do vírus no país, mas sobretudo a falta de capacidade do governo de lidar com a crise.
Grupos da sociedade civil mencionaram diversos exemplos de acusações similares feitas contra a Irmandade Muçulmana: “entupir bueiros, aumentar os preços dos limões e vegetais, causar explosão demográfica, relações com a flutuação da libra egípcia diante do dólar, a derrota da seleção de futebol na Copa das Nações Africanas e na Copa do Mundo da Rússia, espalhar esperança ou pessimismo, demitir três milhões de funcionários sob supostas ligações com a própria entidade … e, por último, espalhar coronavírus.”