O tenente-general Adam Mohamed, chefe do Estado-Maior do Exército da Etiópia, afirmou que suas forças armadas estão preparadas para resistir a qualquer ataque contra a Represa do Renascimento, localizada na bacia do Rio Nilo, e realizar represálias contra eventuais agressores.
A declaração do general ocorreu durante visita ao local da represa, no oeste do país, acompanhado por uma delegação de oficiais de alto escalão. O general-brigadeiro Yilma Mordesa, comandante da Força Aérea da Etiópia, acrescentou que a aeronáutica também está pronta para defender a obra e a área ao redor.
O governo na capital etíope Addis Ababa retirou-se das negociações sobre a Represa do Renascimento realizadas com Egito e Sudão – os dois países a jusante da barragem. As negociações ocorriam sob mediação dos Estados Unidos, mas as autoridades da Etiópia sentiram-se prejudicadas em relação ao seu direito às águas do Nilo e desenvolvimento de seus recursos naturais.
O governo egípcio no Cairo declarou repúdio à posição etíope, ao caracterizá-la como escalada injustificada. Jornais da Etiópia atacaram a postura do Egito sobre a barragem na última semana, sugerindo intenções do país vizinho em executar uma guerra “aberta” para destruir o trabalho concluído até então.
O periódico Capital sugeriu que o Egito tem suas próprias fragilidades e, portanto, não deveria realizar provocações. Mencionou que, apesar do Egito possuir um exército mais forte e apoio militar externo, sua enorme Represa de Assuã é vulnerável a qualquer ataque.
O Egito não se opõe ao preenchimento das reservas da Represa do Renascimento, mas teme que este movimento seja feito em uma única operação, o que reduziria drasticamente o fluxo hídrico no estuário do Nilo por anos. Autoridades argumentam que tal medida afetaria diretamente milhões de egípcios que dependem do Nilo para irrigação e água potável.
Segundo a agência de notícias oficial da Etiópia, o governo enviou delegações de alto escalão à Europa e África para esclarecer sua posição sobre as negociações em torno da Represa do Renascimento.
Dentro da África, a delegação é liderada pela Presidente Sahle-Work Zewde. Seu predecessor Mulatu Teshome é responsável pela equipe na Europa.
Espera-se que Teshome encontre-se com líderes da França e de outros estados-membros da União Europeia. Sahle-Work abriu sua turnê com uma visita ao Quênia, onde encontrou-se com o Presidente Uhuru Kenyatta e o atualizou sobre as negociações com Sudão e Egito.
Kenyatta destacou a necessidade do continente africano de utilizar seus recursos naturais de modo sustentável a fim de cobrir as demandas de sua população – “soluções africanas a problemas da África”.
Enquanto isso, uma delegação etíope em Cartum, capital do Sudão, liderada pelo Vice-Chefe do Estado Maior do Exército general Berhanu Gula, encontrou-se com o primeiro-ministro sudanês Abdalla Hamdok e entregou-lhe uma mensagem de sua contraparte etíope. Nenhum detalhe adicional foi divulgado.
Gedu Andargachew, Ministro de Relações Exteriores da Etiópia, insistiu no direito de seu país às águas do Rio Nilo, que representa uma fonte de recursos naturais não apenas ao Egito, mas também a seus vizinhos: Etiópia e Sudão.
Andargachew alegou que a Represa do Renascimento não reterá águas do Egito, mas será uma reserva a serviço do interesse de todos. Para o ministro, esta é a razão pela qual o governo egípcio deveria contribuir com os custos das obras.
O governo em Addis Ababa, concluiu Andargachew, não vê qualquer benefício para nenhuma das partes em um eventual conflito armado, à medida que o governo etíope tem como objetivo meramente obter acesso aos recursos do Nilo de forma justa e correta.