Protestos que bloqueavam a rodovia M4 no noroeste da Síria foram dispersados pela polícia de choque da Turquia nesta segunda-feira (13). O incidente revelou divergências crescentes entre grupos majoritários de oposição na Síria, especialmente no que concerne a presença de patrulhas russo-turcas na região.
Registro em vídeo do incidente mostra dezenas de sírios participando de um protesto sit-in na rodovia estratégica que liga as cidades de Saraqeb e Latakia. A manifestação pretendia demonstrar insatisfação com a presença de forças militares da Rússia no noroeste da Síria.
Entretanto, ao invés de utilizar suas tropas, os turcos enviaram policiais da tropa de choque para dispersar a manifestação. Diante dessa ocasião, o proeminente grupo militante Hayat Tahrir Al-Sham (HTS) deteve membros de organizações de oposição síria apoiadas pela Turquia, o que resultou em confrontos com outras forças da oposição.
Um comandante anônimo de um dos grupos alvejados relatou o episódio à agência britânica Middle East Eye: “A tensão escalou devido às prisões do Tenente Ramadan Al-Dayoub e seu irmão, além de dez membros do Faylaq Al-Sham, pelo HTS.” A fonte reiterou que seu grupo retaliou imediatamente e “cerca de dez membros do HTS foram presos”. Ambas as facções libertaram os prisioneiros durante a noite.
HTS is trying to screw the Turkish – Russian deal by blocking the joint patrols on M4 highway in Syria’s Idlib.
The situation is tense. It has been 30+ days. Turkey brought Turkish police and army to disperse the crowds with tear gas.
This is bad pic.twitter.com/SEKmxvtipC
— Ragıp Soylu (@ragipsoylu) April 13, 2020
Segundo relatos, os protestos foram organizados pelo próprio HTS. Aparentemente, a polícia recebeu assistência de grupos ligados à Turquia ao reprimir as manifestações.
Mohammed Salameh, diretor do comitê político de Idlib, afirmou ao Middle East Eye que, embora a maioria dos manifestantes fossem refugiados sírios residentes do noroeste da província, que se opõem ao acordo e à subsequente presença militar russa, o protesto também recebeu apoio efetivo do HTS.
“Não é possível negar que há forças militares que financiaram parte dos protestos”, afirmou Salameh. “Sem consentimento das tropas que controlam Idlib, o sit-in não poderia ocorrer.”
Após um devastador ataque turco contra forças do regime sírio no fim de fevereiro, em retaliação à morte de 34 soldados turcos, um acordo de cessar-fogo foi estabelecido entre Turquia e Rússia, em 5 de março. O acordo previa o estabelecimento de uma nova zona de desescalada, com extensão de 6 km a partir de cada margem da rodovia M4 e patrulhamento conjunto por forças militares de ambos os países, conduzido ao longo da estrada.
Embora a contestação popular às patrulhas e à presença russa seja bastante notória, as divisões crescentes e rivalidades entre grupos rebeldes – em particular, entre o poderoso HTS e grupos apoiados pela Turquia – tornou-se uma preocupação cada vez maior em diversas partes da chamada Síria livre, onde o regime não detém controle.
As divergências também sugerem uma tendência crescente de desunião, especialmente diante dos ataques contínuos do regime sobre a província de Idlib, a despeito do cessar-fogo. Muitos observadores consideram inevitáveis os avanços do regime.
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