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Sudão rejeita tentativas de polarização da crise sobre a Represa do Renascimento

17 de abril de 2020, às 11h39

Obras da Grande Represa do Renascimento, às margens do Rio Nilo Azul, perto de Guba, Etiópio, 26 de dezembro de 2019 [Eduardo Soteras/AFP/Getty Images]

O Ministro de Estado para Relações Exteriores do Sudão Omer Gamar Eldin anunciou na quarta-feira (15) que o governo em Cartum rejeita todas as tentativas de polarização da crise pelos lados em conflito sobre a Represa do Renascimento, construída em território etíope.

Segundo o jornal sudanês Al-Tayar, afirmou Gamar Eldin: “Não somos peças para dançar conforme a música do Egito ou da Etiópia.”

As autoridades egípcias ressentem o que consideram apoio sudanês à Etiópia na questão da represa. Cartum alega que está protegendo seus próprios interesses sem afetar os do Cairo.

“Somos parceiros na gestão da represa e a posição do Sudão emana principalmente das descobertas de especialistas, que determinaram ganhos e perdas pela represa. Segundo os especialistas, os ganhos são maiores. Somos parceiros, sim, na gestão da represa e, a partir de nossa posição, temos o dever garantir a porção do Egito”, esclareceu Gamar Eldin.

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O governo egípcio receia que as obras prejudiquem o fluxo hídrico do Nilo à disposição para o país. O governo etíope em Addis Ababa reitera que não pretende afetar qualquer interesse do Egito e que as obras da represa voltam-se fundamentalmente à geração de energia elétrica.

Gamar Eldin destacou que não há qualquer divergência interna sobre o posicionamento do governo do Sudão, chefiado pelo Primeiro-Ministro Abdalla Hamdok, no que concerne às obras em questão.

Na terça-feira (14), Hamdok reuniu-se com a equipe de negociações do Sudão sobre a represa, a fim de discutir o andamento das conversas entre os países sobre o preenchimento e início das operações da barragem.

A reunião incluiu a Ministra de Relações Exteriores Asma Mohamed Abdalla, o Ministro de Recursos Hídricos e Irrigação Yasser Abbas e membros do comitê de negociações.

Segundo declaração emitida pelo gabinete sudanês, Hamdok afirmou: “O Sudão está negociando sua posição, assim como os mecanismos adotados pelo comitê conforme informações fornecidas pelos comitês auxiliares.”

O Egito assinou os acordos iniciais no fim de fevereiro, conforme termos de negociação para o preenchimento e operação da represa, ao considerá-los “justos”. A Etiópia, entretanto, rejeitou o acordo. O Sudão demonstrou reservas diante dele. A construção da represa é patrocinada pelos Estados Unidos com participação do Banco Mundial.

“Cartum será mediador entre Egito e Etiópia, com o objetivo de chegar a um acordo sobre a Represa do Renascimento”, confirmou Mohamed Hamdan Dagalo, vice-líder do Conselho de Transição Militar do Sudão, durante visita ao Cairo, em meados de março.

Na ocasião, o Ministro de Relações Exteriores do Egito Sameh Shoukry afirmou na televisão: “As negociações com o lado etíope estão completamente paralisadas neste momento.”

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