A Embaixada do Egito em Roma foi iluminada em verde, branco e vermelho, cores da bandeira italiana, naquilo que alegou representar ato de solidariedade à luta do país europeu contra a pandemia de coronavírus.
O gesto, supostamente em comemoração ao Dia da Libertação da Itália, neste sábado (25) – que marca o fim da ocupação nazista e vitória da Resistência antifascista no país – pode, no entanto, ser interpretado como mais uma tentativa do Egito de atenuar tensões vigentes na sua relação diplomática com o país europeu.
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Nas últimas semanas, autoridades egípcias atraíram críticas de diversos setores da sociedade, após enviar dois aviões de carga com auxílios médicos ao território italiano, apesar da grave carência de tais suprimentos em âmbito doméstico.
Críticos denunciam que o auxílio foi enviado à Itália para tentar mitigar pressões políticas impostas ao Egito, em particular sobre o caso da morte de Giulio Regeni e a demanda por extradição de oficiais de segurança egípcios de alto escalão a Roma, para que possam ser devidamente julgados pelo caso.
O corpo do estudante Giulio Regeni foi encontrado abandonado ao lado da estrada que liga Alexandria ao Cairo, capital do Egito, em janeiro de 2016, com sinais de tortura até óbito, conduzida por oficiais de inteligência do país norte-africano, segundo evidências.
Roma também recebe pressão política interna para obter justiça para o caso de Regeni. Segundo relatos, o governo italiano está negociando acordos militares favoráveis com o Cairo como contrapartida ao impasse.
Em 2018, o comércio entre Itália e Egito atingiu o valor de US$7.2 bilhões no total. O Egito adquiriu armas do país europeu no valor de US$77 milhões e estabeleceu acordos complementares no setor energético, para construção de gasodutos.
A gigante italiana de petróleo Eni, cujas ações são estimadas em aproximadamente US$6.4 bilhões, está desenvolvendo seu maior campo de extração de gás na costa egípcia do Mar Mediterrâneo. Portanto, é de interesse do governo egípcio que as operações continuem.
Novos escrutínios sobre a relação entre Roma e Cairo vieram à tona no início deste ano, após um jovem egípcio que estudava em Bolonha, norte da Itália, ser preso e torturado durante viagem ao país natal para passar um feriado.
Patrick George Zaki foi preso no Aeroporto Internacional do Cairo e está sob investigações do Egito conforme acusações de divulgar notícias falsas e fazer mau uso das redes sociais. Na ocasião, o presidente do parlamento europeu David Sassoli reivindicou libertação imediata do estudante, o que atraiu ainda mais atenção às violações cometidas pelo governo do Egito.
No início de março, o Egito iluminou suas mais famosas atrações turísticas, como a Cidadela de Saladino no Cairo, o complexo de Karnak em Luxor e o complexo de Filas em Aswan, com as cores da bandeira chinesa, vermelho e estrelas amarelas, em solidariedade à luta da China contra o covid-19.
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