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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Palestinos ainda possuem grandes esperanças no Brasil

Primeiro Ministro israelense Benjamin Netanyahu e presidente eleito do Brasil Jair Bolsonaro, no Rio de Janeiro, em 28 de dezembro de 2018 [Leo Correa/AFP/Getty Images]

Em 31 de março, o Presidente brasileiro Jair Bolsonaro visitou Jerusalém e anunciou um escritório comercial brasileiro na cidade. Também reuniu-se com o Primeiro Ministro israelense Benjamin Netanyahu no Muro Ocidental (Al-Buraq), no complexo da Mesquita de Al-Aqsa, um ato considerado equivalente ao reconhecimento do controle da ocupação israelense sobre os locais sagrados.

A visita de Bolsonaro à época causou grande espanto e indignação entre o povo palestino, não apenas porque tal visita à Cidade Santa representa uma flagrante violação do direito internacional, mas também devido ao amplo histórico de relações estreitas entre os povos palestino e brasileiro.

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Ambos os povos mantêm relações próximas há décadas, talvez séculos. A primeira visita de um presidente brasileiro a Jerusalém foi em 1876, quando a cidade era parte do Império Otomano e o Brasil ainda não havia se tornado uma república. A Palestina também ocupou um lugar especial nos corações de milhões de cristãos brasileiros, que chegaram a peregrinar para Terra Santa.

Desde então, ao longo de décadas, o Brasil apoiou o direito do povo palestino à liberdade e à independência, tanto em sua condição de Estado soberano quanto em estruturas regionais como os BRICs ou como a Comunidade Latino-Americana. O Brasil foi o primeiro país sul-americano a reconhecer o Estado da Palestina em 2010. Em fóruns internacionais, o Brasil votou com frequência a favor dos direitos palestinos e contribuiu significativamente para apoiar sua resistência e seu bem-estar ao financiar programas da UNRWA. A representação brasileira em Ramallah também contribuiu diretamente para a implementação de projetos que fortalecem a infraestrutura nos territórios palestinos ocupados. As posições oficiais mudaram desde a posse de Jair Bolsonaro, mas não refletem o sentimento histórico do povo brasileiro.

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O Brasil conserva um lugar de destaque no coração dos palestinos. A grande comunidade palestina no Brasil abriga mais de 80.000 pessoas, cujos ancestrais chegaram ao país, desde o fim do século XIX. Esses palestinos contribuíram muito para a construção de sua segunda pátria, o Brasil. Não há melhor prova do amor dos palestinos pelo Brasil do que sua torcida majoritária pela seleção nacional brasileira em partidas e campeonatos.

E sobre a Palestina, habitamos a terra há milhares de anos. Criamos uma civilização que contribuiu para o bem-estar da humanidade. Vivemos sob uma ocupação israelense que busca concluir seus crimes iniciados em 1948 – a Nakba – na tentativa de desarraigar completamente a população palestina de nossa própria terra, roubá-la e destruir locais sagrados cristãos e muçulmanos.

Palestinos são expulsos e viajam em busca de refúgio,
durante o êxodo de 1948, também conhecido como a Nakba

Talvez nada melhor reflita a atitude de Israel em relação aos palestinos do que a retórica empregada por seus políticos durante as campanhas eleitorais recentes em Israel. Muitos dos candidatos demonstraram-se orgulhosos de certos feitos, gabando-se de quantos palestinos mataram e quantas casas demoliram. Também reivindicaram continuamente a expulsão de palestinos para países vizinhos e anexação da Cisjordânia a Israel, agora anunciada pelo governo de coalizão formado por Netanyahu, do Likud, e Benny Gantz, da Azul e Branco.

Não eram slogans eleitorais vazioss. Ao contrário, são práticas ininterruptas sobre a Palestina ocupada. Os eventos na Faixa de Gaza sitiada no ano passado talvez representem o exemplo mais recente dessas ações. No aniversário do Dia da Terra – em 30 de março de cada ano – dezenas de milhares de palestinos de todos as classes sociais protestam pacificamente para reiterar seu direito de retorno aos lares de onde foram deslocados em 1948. Esses protestos ficaram conhecidos como a Grande Marcha de Retorno. Os palestinos também exigem o fim do cerco imposto a Gaza desde 2007, que transformou a região em uma enorme prisão a céu aberto, descrita por alguns críticos israelenses como campos de concentração.

A vida tornou-se impossível ao limite no qual as próprias Nações Unidas passaram a estimar que a Faixa de Gaza irá se tornar inabitável no ano de 2020. Milhares de pessoas foram até a cerca leste de Gaza, em condições pacíficas e inofensivas, como confirmado por relatório recente da ONU e de outras organizações internacionais de direitos humanos. Essas manifestações continuam ainda hoje, um ano depois do protesto original.

Cerca de 280 manifestantes foram mortos por forças israelenses e mais de 28.000 feridos durante a Grande Marcha, centenas dos quais eram mulheres e crianças; muitos deles ficaram feridos. Embora a Comissão de Inquérito das Nações Unidas tenha confirmado os crimes de guerra cometidos por Israel contra civis pacíficos, Netanyahu corroborou a morte de cerca de 300 palestinos como “uma decisão sábia e correta”.

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Nós, como povo palestino, lutamos por liberdade, independência, direito à autodeterminação, estabelecimento de nosso estado independente – com Jerusalém como capital – e a viver em paz, como o resto do mundo.

Nesta luta, reconhecemos a importância do Brasil em escala regional e internacional – um país emergente e a décima maior economia do mundo. Portanto, enfatizamos nossa enorme esperança em relação ao apoio brasileiro aos nossos direitos. A atual política brasileira, liderada pelo Presidente Bolsonaro, em nossa opinião, não atende aos interesses comuns do Oriente Médio e do Brasil; o desenvolvimento dessa política não se opõe somente ao povo palestino, mas a mais de 400 milhões de árabes e mais de 1,7 bilhão de muçulmanos ao redor de todo o mundo.

Jerusalém é uma cidade ocupada conforme o direito internacional e ninguém tem o direito de legitimar sua ocupação, avalizar a violação de suas localidades sagradas para o islamismo e o cristianismo ou, sobretudo, demolir a Mesquita de Al-Aqsa a fim de construir um templo judaico. Esta política imprudente não presta estabilidade e paz à região; ao contrário, reforça o estado de tensão, caos e extremismo, e prorroga ainda mais o conflito.

O Oriente Médio só pode tornar-se estável ao neutralizar a causa mais importante de tensão, isto é, a própria ocupação israelense. Temos confiança de que o Brasil e seu povo soberano podem desempenhar um papel central de apoio ao povo palestino em sua luta para libertar-se e tornar-se independente, além de auxiliar a região a conquistar estabilidade e prosperidade.

Especialmente nesta fase em que o cerco aos palestinos é agravado pela pandemia do coronavírus e coalizão recém formada em Israel avança sobre suas terras, indiferente aos apelos internacionais, o povo palestino conta com a manifestação de solidariedade do povo brasileiro – apesar dos seus governos.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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Palestina: quatro mil anos de história
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