Embora qualquer pessoa sensata possa achar que não é necessário realizar nenhum estudo para concluir que a grande mídia dos Estados Unidos apresenta historicamente preconceitos anti-palestinos e pró-Israel, afirmando as mentiras do segundo enquanto deprecia a realidade do primeiro, um grupo internacional de pesquisa fez exatamente isso.
Confirmando o que a maioria de nós sempre soube – e Israel gasta uma fortuna tentando esconder – o 416 Labs demonstrou que a grande mídia nos Estados Unidos tem sido há décadas parcial em favor de Israel e contra os palestinos. O estudo do 416 Labs encerrado no ano passado abrangeu um período exaustivo de 50 anos, a partir da Guerra dos Seis Dias de junho de 1967 e o início da ocupação de Jerusalém Oriental, da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
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“Nossos resultados reforçam pesquisas anteriores e afirmam que a cobertura da mídia dos Estados Unidos favorece Israel ao proporcionar maior acesso a autoridades israelenses, focando nas suas narrativas, tanto em termos de quantidade de cobertura quanto do sentimento geral, conforme veiculado pelas manchetes.”, diz a equipe do 416 Labs.
O estudo conclui que a incapacidade de alcançar a paz é um resultado direto do viés da mídia, ao isentar Israel de quase toda, se não de toda, culpa por qualquer coisa que faça, independentemente da gravidade, bem como resulta do apoio inabalável e incondicional de Washington ao governo israelense.
“Um fator chave no prolongamento do conflito tem sido o apoio incondicional dos Estados Unidos a sucessivos governos israelenses, o que ajudou a consolidar a presença ilegal de Israel nos territórios palestinos. Um agravante tem sido a grande mídia dos EUA, que de acordo com os críticos, manteve uma visão tendenciosa da ocupação, favorecendo a narrativa israelense sobre os palestinos ”.
Em outras palavras, não importam os crimes cometidos por Israel – incluindo assassinatos, violações de direitos humanos, crimes de guerra e crimes contra a humanidade – a mídia divulgará a propaganda para apagar a culpa de Israel enquanto exagera as falhas palestinas.
Em um país como os Estados Unidos da América, onde a maioria das pessoas recebe da TV e dos jornais sua “educação” sobre os eventos atuais do Oriente Médio e a história árabe, os preconceitos da mídia são aceitos quase sem questionamentos. Para os norte-americanos, a mentira pró-israelense é necessariamente verdade, enquanto a verdade pró-palestina se torna mentira.
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Aí está o problema. Quando o povo norte-americano sofre uma lavagem cerebral pela interminável propaganda pró-Israel e passa a acreditar nas mentiras israelenses, há um impacto direto sobre os políticos, tornando ainda mais fácil branquear os crimes de guerra de Israel e introduzir uma legislação que viola os pilares constitucionais da democracia dos EUA.
Há um ano, o grupo responsável pela pesquisa apontava o fato de que, em vez de priorizar a legislação para algumas das questões mais importantes enfrentadas pelo povo da América, como fome e falta de moradia, assassinatos e crimes, economia e saúde, a primeira questão na pauta dos legisladores era a proposta de uma lei nacional contra a campanha BDS. Voltada a punir qualquer cidadão americano que exerça seu direito à liberdade de expressão consagrado na Constituição dos EUA e apoie um boicote a Israel, a lei passaria ainda por comissões e pelo Senado, voltando à Câmara.
A Primeira Emenda da Constituição garante que todo americano tenha o direito de “liberdade de expressão” para expressar suas opiniões sem intimidação, bullying ou demonização. E se houver alguma dúvida sobre o que aessa Emenda afirma, aqui está: “O Congresso não fará nenhuma lei relativa ao estabelecimento de religião, ou proibindo o livre exercício da mesma; ou restringindo a liberdade de expressão ou de imprensa; ou o direito do povo de se reunir pacificamente e de solicitar ao governo uma reparação de injustiças ”.
“Restringir a liberdade de expressão”, neste caso, é o que significa tornar ilegal que alguém se oponha às violações de direitos humanos por parte de Israel, roubo de terras e construção de assentamentos judaicos em território ocupado; e impedir que os cidadãos boicotem quaisquer bens que sejam produzidos por empresas que se beneficiem de tais atividades, consideradas especificamente ilegais pelo direito internacional.
Em caso de uma legislação federal anti-BDS aprovada, qualquer americano que critique Israel e boicote o Estado e seus produtos enfrentará processo e severas penalidades. Independentemente da lei federal, a maioria dos estados dos EUA adotaram leis similares, conforme mapeamento do site palestinelegal.org.
A lavagem cerebral promovida pela mídia quase sempre segue a narrativa israelense em suas reportagens e, desta forma, contribui para que se chegasse na situação vigente. Como resultado, torna-se mais fácil para Israel propagar sua versão dos eventos, posando com boa imagem, enquanto desacredita os palestinos. Um exemplo disso é a substituição constante da palavra “ocupado” por território “disputado” quando se refere à Cisjordânia e a Jerusalém.
Além de introduzir leis draconianas como a legislação anti-BDS, o Congresso dos EUA também vota bilhões de dólares em ajuda militar a Israel todos os anos. Enquanto cidadãos americanos estão desabrigados e com fome, seu governo paga a Israel pelo menos US$ 3 bilhões por ano; são US$ 8 milhões por dia. É espantoso.
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Como a mídia responde a isso? Escondendo sua cobertura de Israel-Palestina por trás de uma cobertura profissional mais objetiva em relação a outros tópicos. A grande imprensa norte-americana pode ser escandalosamente tendenciosa em sua cobertura das questões israelenses e palestinas, mas esse noticiário provavelmente representa apenas cerca de 5% da produção total, ofuscado pelos outros 95%. É desse modo que a grande mídia mantém sua imagem de profissão justa, acurada e baseada em princípios.
O estudo do 416 Labs é chocante, mas não deveria ser uma grande surpresa. No entanto, suas conclusões são uma triste acusação das condições da grande mídia norte-americana.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.