Presidente da Argélia retira jurisdição do Exército sobre Saara Ocidental, segundo relatos

O Presidente da Argélia Abdelmadjid Tebboune decidiu estabelecer a Agência Argelina para Cooperação Internacional (AACI), chefiada pelo coronel Mohamed Chafik Mesbah, ex-oficial dos serviços de inteligência do país.

Segundo o jornal espanhol Atalayar, a iniciativa possui dois objetivos: “Conter o domínio do Exército e da inteligência sobre a política externa do país” e “criar condições para que a presidência retome o controle sobre o caso do Saara Ocidental e readquira jurisdições que lhes permitam voz sobre a crise política e estratégica vivenciada no Magreb.”

A disputa sobre o Saara Ocidental, resultante do fim do domínio espanhol sobre a região, em 1975, contribuiu para a escalada de tensões entre Argélia e Marrocos e resultou no fechamento das fronteiras por terra, em 1994.

O jornal ainda destacou: “Um dos problemas enfrentados pela Argélia, em relação a sua política externa, é representado, sem dúvida, pelos aspectos militares e geopolíticos da questão sobre o Saara Ocidental.”

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“No que se refere à dimensão militar do caso, que inclui defesa de fronteiras, envio de tropas e estabelecimento de contrapesos militares na região, principalmente entre Argélia e Marrocos, o Presidente Tebboune não possui poder algum para intervir, ao menos por ora, embora seja supremo comandante das forças armadas e ministro da defesa.”

A reportagem enfatizou que Tebboune possui jurisdição e parece disposto a trabalhar sobre o “aspecto político” do caso.

Segunda a fonte em questão, uma das principais missões incumbidas à AACI será fornecer a Tebboune “relatórios políticos e estratégicos detalhados sobre o conflito no Saara Ocidental e seus cenários futuros.”

O jornal sugeriu que indicar um ex-oficial de inteligência como chefe da agência pode decorrer em uma série de interpretações. O coronel Mesbah pertence à elite da inteligência nacional desde o era de Houari Boumediène, entre 1965 e 1978.

Tais oficiais de inteligência possuem extensivo treinamento acadêmico e costumam ser poliglotas, além de especialistas em ciências políticas, econômicas e sociais.

Essa elite foi recrutada pelo então coronel Kasdi Merbah, após a independência, em 1962. Por vinte anos, Merbah construiu a estrutura para os serviços de inteligência da Argélia, manteve diversas posições ministeriais e então chefiou o governo, antes de seu assassinato, em 1993, executado por um comando clandestino de caráter fundamentalista islâmico no país.

O coronel Mesbah, indicado por Tebboune, condenou reiteradamente o regime que governou a Argélia por vinte anos, em particular pela aliança do ex-presidente Abdelaziz Bouteflika com o general Mohamed Mediène, que liderou os serviços nacionais de inteligência por 25 anos.

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Tebboune e Mesbah são velhos conhecidos, ponto fundamental de sua indicação ao AACI. Por outro lado, a decisão de atribuir ao coronel a tarefa de gerenciar a agência passou por minuciosa avaliação conduzida pelos círculos de decisão em Argel, capital da Argélia.

O ex-oficial de inteligência ainda detém conexões notáveis com as forças armadas e no Departamento de Inteligência e Segurança (DRS). Este ponto em particular é bastante caro ao recém-eleito presidente argelino. Tebboune reuniu esforços para engajar-se em uma nova era de política internacional, com objetivo de projetar relevância nacional à arena geopolítica árabe-africana, após trinta anos de capital político desperdiçado, entre 1955 e 1985.

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