Nesta quinta-feira (7), em declaração, a organização humanitária Anistia Internacional fez um apelo às autoridades jordanianas para que forneçam atendimento médico aos refugiados no campo de Rukban, localizado na fronteira entre Jordânia e Síria, diante de um possível surto de coronavírus na região.
Lynn Maalouf, diretora de Pesquisa para Oriente Médio da entidade, convocou as autoridades jordanianas a “permitir àqueles que buscam tratamento médico que tenham acesso a instalações na Jordânia, além de permitir que assistência humanitária e serviços essenciais cheguem à área.”
Maalouf alertou que a falta de tratamento médico na região de Rukban “põe milhares de vidas em risco diante da crise de coronavírus.”
A organização ainda denunciou que, devido a falta de serviços de saúde em obstetrícia, mulheres grávidas que precisam de cesariana devem ir até áreas controladas pelo regime sírio para parir. Entretanto, após o nascimento, as autoridades as impedem de retornar ao campo.
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A Anistia Internacional destacou que há apenas um único centro médico na área de Rukban, com equipe bastante reduzida – composta por poucos médicos e enfermeiras, e apenas uma parteira –, para fornecer serviços a mais de 10.000 refugiados no campo.
Em 20 de abril, o governo em Amã anunciou que o Ministro de Relações Exteriores da Jordânia Ayman Safadi informou Geir Pederson, enviado especial da ONU na Síria, que não autorizaria a entrada de assistência humanitária ao campo de Rukban.
Safadi destacou: “A Jordânia não permitirá a entrada de auxílio a Rukban via seu território, tampouco a passagem de pessoas do campo ao reino, por qualquer razão”. O ministro reiterou que “proteger os cidadãos jordanianos da pandemia de coronavírus é prioridade máxima.”
A Jordânia considera a presença de sírios deslocados em Rukban como responsabilidade da Síria e da comunidade internacional, de modo que qualquer assistência humanitária ou médica necessária aos residentes do campo deve vir do território sírio.
Quanto a isso, afirmou Maalouf: “Embora autoridades jordanianas tenham o direito de assumir as medidas necessárias para proteger sua população da pandemia de coronavírus, não têm o direito de arriscar a vida de terceiros ao fazê-lo.”
Maalouf destacou que os refugiados em Rukban “sofrem de falta de alimentos, água e remédios por mais de quatro anos” e reiterou que a situação se deteriorou particularmente nos últimos dois anos.
A diretora da Anistia Internacional enfatizou: “Os governos sírio e jordaniano devem garantir a transferência de auxílio humanitário ao campo sem restrições.”
A Jordânia fechou a travessia de Rukban, na fronteira com a Síria, em 2016, após um violento ataque conduzido contra soldados jordanianos. O Daesh (Estado Islâmico) assumiu a responsabilidade pelo atentado.
O transporte de assistência humanitária de áreas controladas pelo regime sírio de Bashar al-Assad ao campo de refugiados – localizado em território que abriga soldados apoiados pelos Estados Unidos – depende de autorização.
Em fevereiro de 2019, o governo em Damasco e a Rússia, principal aliada de Assad, anunciaram a abertura de rotas de saída do campo e convocaram seus residentes a deixar o local. Segundo as Nações Unidas, durante os primeiros meses de 2019, mais de metade dos residentes o fizeram.
Ainda em fevereiro de 2019, um comboio de 133 caminhões chegou ao campo e distribuiu alimentos, roupas, suprimentos e serviços médicos. Tratou-se apenas da segunda leva de assistência humanitária a chegar ao campo em um período de três meses.
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