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Ao banir o Hezbollah, a Alemanha curva-se à pressão sionista, mas sem muita relevância

Ao banir o Hezbollah, a Alemanha curva-se à pressão sionista, mas sem muita relevância
Polícia alemã invade associações ligadas ao Hezbollah após proibição do grupo pelo governo europeu, em Berlim, Alemanha, 30 de abril de 2020 [Odd Andersen/AFP/Getty Images]

Na semana passada, a Alemanha enfim cedeu às pressões dos Estados Unidos e de Israel para banir o Hezbollah de forma definitiva, ao criminalizar a ala política do movimento libanês. O governo em Berlim descreveu o grupo como “organização terrorista xiita”, embora seja parte legítima do governo do Líbano e não possuir qualquer ramo oficial no território alemão.

Apenas duas semanas antes de tal medida, forças de segurança da Alemanha romperam uma célula do Daesh (Estado Islâmico) que planejava ataques a bases americanas no país europeu, na região de Renânia do Norte-Vestfália. Este fato sugere que Berlim tenha extraviado suas prioridades de contraterrorismo, até porque a ala militar do Hezbollah esteve na vanguarda do combate ao Daesh na Síria.

Ao impor o banimento, o governo alemão permitiu que sua política externa supostamente independente fosse ditada por outros. Embora estivesse claramente remoendo a proibição já há algum tempo, somente no ano passado o Ministro de Estado Niels Annen decidiu rebater as críticas dos Estados Unidos, ao insistir que a política externa alemã mantinha-se comprometida com uma solução política, logo após a proibição britânica de Hezbollah. Relatos de reivindicações de “círculos do governo” pela proibição foram negados por um porta-voz do Ministério do Interior, no final de 2019.

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Com apoio do Mossad, violenta agência de espionagem israelense, o anúncio da proibição seguiu-se rapidamente de ataques absolutamente insensíveis da polícia alemã, responsáveis por profanar mesquitas xiitas em Berlim durante o mês sagrado do Ramadã. Diante de tais ações, Sayyid Hassan Nasrallah – secretário-geral do Hezbollah – condenou a política alemã em curso como “bárbara”. Entretanto, na realidade, trata-se de uma proibição amplamente acadêmica, pois o Hezbollah é organização estrangeira, de modo que restrições legais se estendem principalmente a questões financeiras ou expressões de apoio na Alemanha.

Com apoio do Irã, o Hezbollah emergiu como movimento social para conter as necessidades da comunidade xiita marginalizada no Líbano, durante a guerra civil no país, entre 1975 e 1990. O braço militar da organização foi desenvolvido para resistir à invasão e ocupação de Israel sobre o sul do Líbano, em 1982. A enorme influência política do Hezbollah ganhou volume durante bem sucedida campanha de guerrilha que expulsou o exército israelense do Líbano, no ano 2000, além da vitória política do movimento, seis anos mais tarde, também diante de guerra lançada por Israel.

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Naturalmente, Israel foi o primeiro país do mundo a designar o Hezbollah como um todo como organização terrorista, desde suas origens, em 1985. Estados Unidos fizeram-no em seguida, em 1997, e Canadá, em 2002. Estados do Golfo e a Liga Árabe baniram o movimento em 2016, devido ao apoio ativo do Hezbollah ao governo sírio de Bashar al-Assad.

Presidente da Síria Bashar al-Assad [Kremlin]

Entretanto, a União Europeia mantinha duradoura postura de não denominar o movimento como órgão terrorista. A Holanda tornou-se uma exceção precoce, em 2004. A União Europeia decidiu mais tarde, em 2013, distinguir entre os braços político e armado do grupo, diante de um ataque a bomba contra um ônibus em Burgas, Bulgária, que resultou em cinco israelenses mortos. Embora o então governo búlgaro tenha implicado o Hezbollah ao ataque, seu sucessor logo voltou atrás, ao mencionar evidências insuficientes sobre o caso e alegar que a mudança de postura europeia não se justificava. Dito isto, a maioria dos países europeus avançou em categorizar o Hezbollah individualmente; contudo, dependem da posição do bloco.

Ao seguir a decisão britânica de designar o Hezbollah como grupo terrorista, a Alemanha demonstrou ser apenas mais um estado cúmplice subserviente às demandas americanas e israelenses. Segundo Nasrallah: “[Isso] reflete a submissão da Alemanha à vontade dos Estados Unidos e ao agrado de Israel.” O Ministério de Relações Exteriores do Irã ainda acusou o governo alemão de ser coagido por sua “dívida histórica” com Israel, com base em seu passado nazista. Ainda nesta semana, o Embaixador da Alemanha no Líbano foi então convocado pelo Ministério de Relações Exteriores em Beirute, para prestar esclarecimentos sobre a decisão de Berlim. O diplomata “esclareceu”: “A decisão não classifica o Hezbollah como [grupo] terrorista, mas sim proíbe suas atividades em solo alemão.”

No entanto, preserva-se o fato de que o Hezbollah não representa qualquer ameaça à Alemanha, ou mesmo ao mundo ocidental. O grupo está fundamentalmente preocupado em defender a integridade territorial libanesa e proteger os interesses do Líbano e seus aliados. Mantém também seu compromisso com a libertação da Palestina e seu braço militar permanece como obstáculo efetivo aos avanços de Israel, desde 2006.

Ameaças verdadeiramente concretas à segurança alemã e outros lugares provêm da ideologia takfiri-jihadista do Daesh e da onda de neonazismo. Segundo a agência de inteligência alemã, Ofício Federal para Proteção da Constituição (BfV), desde 2013, mais de mil radicais islâmicos com base na Alemanha filiaram-se ao Daesh e aproximadamente um terço deles retornaram ao país. No início deste ano, a Alemanha anunciou a repatriação de 122 cidadãos da Síria e do Iraque; no caso, membros do Daesh.

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O Ministro do Interior Horst Seehofer afirmou, após ataques terroristas em fevereiro contra tabacarias em Hanau, que a extrema-direita de fato representa “a maior ameaça à segurança enfrentada pela Alemanha”. Juntou-se a ele a Ministra da Justiça Christine Lambrecht, que declarou: “O terror de extrema-direita é a maior ameaça à nossa democracia no momento”.

O alinhamento próximo da Alemanha aos interesses sionistas e americanos, embora bem acolhido por certos grupos, é amplamente questionado por outros em termos de efetividade real. Hadi Borhani, analista com base em Teerã, alegou que a proibição não tem importância alguma: “A designação do como grupo terrorista neste momento é apenas um movimento vazio e infundado com zero relevância ou peso.” O gesto do governo em Berlim parece ser simbólico, na melhor das hipóteses. Na pior delas, sugere falta de autonomia e independência. E não possui qualquer impacto estratégico ao Hezbollah a longo prazo.

Ofuscado pelo declínio da economia global e pela crise de saúde da pandemia de coronavírus (covid-19), além de seus problemas de terrorismo doméstico, a Alemanha claramente confunde prioridades. A decisão de banir o Hezbollah é uma manobra com motivação política que não tem relação alguma com proteger interesses nacionais.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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